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Tem sido uma tendência dos últimos anos: perceber que ando a ouvir muito mais música portuguesa do que estrangeira. Volto a notar que o que mais escutei em 2015 – e me deu muito prazer de ouvir – foi dito em português. Mas claro que há nomes estrangeiros incontornáveis nesta lista que foi sendo construída à medida que a lembrança o permitia, que não tem qualquer tipo de ordem de importância pessoal e que respeita apenas as memórias agradáveis de um ano muito rico.
[HALLOWEEN] Híbrido
(Self-released, 2015)
Desde que saiu Árvore Kriminal, em 2012, que Allen Halloween é figura presente nos meus balanços anuais da música que mais ouvi. Isso diz muito da relação que tenho com as histórias do MC de Odivelas, que me impressionam sempre e me levam até uma realidade que tem tanto de crua como de fantástica com a qual só tenho contacto graças ao hip hop. Híbrido foi um regresso perfeito de Allen: a crueza do costume, mas com uma outra abordagem, com uma perspectiva, mais velha, mais apurada.
[CORONA] Lo- Fi Hipster Trip
(Meifumado, 2015)
A embalagem do segundo disco dos Corona deixou-me logo em alerta: uma embalagem de comprimidos com direito a folheto informativo e tudo onde está uma pen. Que ideia brilhante. Depois, o que importa verdadeiramente, os beats: belíssimo trabalho de Logos nas rimas e de dB na produção. Juntos voltam a dar vida à personagem que criaram no primeiro disco, Lo-Fi Hipster Sheat, o “mitroso” que vagueia pelos bairros escuros do Porto, mas que agora vive um período de reabilitação de excessos. Batidas mais sujas, tensas e meio psicadélicas, com o pitch nas vozes deste Corona a criar os momentos de compressão e de descompressão das trips.
[NERVE] “Trabalho & Conhaque” ou “A Vida Não Presta & Ninguém Merece a Tua Confiança”
(Mano-A-Mano, 2015)
Os anos foram passando, NERVE foi vivendo, escrevendo, coleccionando e quando finalmente se mandou para estúdio com os seus beats e também de Notwan; Keso; VULTO.; e Pedro, o Mau; fez um álbum seminal, com histórias e poesias cruas a rasgar a pele e a carne que podem muito bem ser o espelho do interior caótico de muitos de nós.
[REGULA] Casca Grossa
(Superbad, 2015)
Tenho cá para mim que este é o disco mais consistente de Regula. O título deixou logo as ideias de resistência, força e também maturidade. Daí destacar o tema título – com produção de Here’s Johnny – que têm ali uma espécie de flautas ao estilo cinema oriental de mestres de kung fu. Mas Casca Grossa apareceu carregado de malhas fortíssimas e bem sérias – “Nívea”, “Langaife” ou “Toni do Rock”. Claro que depois Dom Gula aproveita as redes sociais para brilhar com os vídeos em que aparece como personagem em tons mais cómicos: “Womb” e “Toni do Rock”. Vídeos na reinação que fazem parte de um dos trabalhos mais sérios do ano.
[KENDRICK LAMAR] To Pimp A Butterfly
(Top Dawg Entertainment/Aftermath, 2015)
Pode ser um lugar-comum nestas listas de fim de ano, mas isso também é representativo da marca que este segundo disco de K. Dot deixou na música em 2015, que o consagrou como rei do hip hop – vamos ver até quando – e o colocou na prateleira dos heróis nos EUA, num ano em que os problemas raciais voltaram a ser notícia nos órgãos de comunicação social. Há imagens criadas que me assaltam a memória sempre que me lembro de To Pimp A Butterfly – um disco quase perfeito, de uma ponta a outra – e a “culpa” é de “Alright”. O vídeo realizado por Colin Tilley tem uma força poética arrepiante – falar de coisas muito sérias com sorriso confiante na cara. Também me recordo da acção de uma multidão em Cleveland, contra a detenção de um jovem de 14 anos, que começou a cantar, espontaneamente, o refrão do tema: “We gonna be alright!”. Para quem julga que a música já só serve para sair dos auscultadores…
[MIKE EL NITE] Vaporetto Titano
Percebi que o segundo EP de Mike El Nite era bom quando, das seis faixas de Vaporetto Titano, comecei a ouvir quatro em repeat e a pensar: “a sério que não há mais?!” Saltava a introdução e o fecho do disco que, por muita graça que tenham, fazem apenas número. A solução foi juntar na mesma pasta do leitor de MP3, Vaporetto Titano e Rusga para Concerto Em G Menor. Isto também é sinal que já vai sendo hora deste “granda puto” começar a pensar à séria, sem medos, em editar o longa-duração. Que 2016 o traga consigo às costas.
[SLOW J] The Free Food Tape
A maior surpresa do ano vem do rapper de Setúbal. Um EP que revela um talento enorme a todos os níveis: na criação de beats e na escrita de canções. Um trabalho que deixa sentir, em cada faixa, a honestidade e paixão que Slow J tem pela sua arte. Não é de estranhar que o MC e produtor (que é também engenheiro de som formado em Londres) comece a ser requisitado para colaborar com outros músicos mais velhos que reconhecem nele todas estas competências, casos de NBC ou do produtor português KaSpar.
[KAP] Do Nada Nasce Tudo
O jovem rapper de Gaia, de 20 anos, foi outra das agradáveis surpresas do ano. Um estilo de rap nortenho, que vai beber às referências escuras e introspectivas de Mind Da Gap e Dealema.
[BADBADNOTGOOD & GHOSTFACE KILLAH] Sour Soul
(Lex Records, 2015)
Uma parceria orgânica entre o trio de hip hop instrumental canadiano, os BADBADNOTGOOD, e Ghostface Killah, dos Wu-Tang Clan e que junta, para mim, o melhor de dois mundos: a ferocidade do flow de um dos maiores de Staten Island e os beats orgânicos construídos de raiz com bateria, baixo e teclados que me fazem sentir parte de todo aquele processo – nem que seja pelo “air drum” ou “air bass” que consigo fazer ao ouvir Sour Soul.
[VINCE STAPLES] Summertime ‘06
Aqui me confesso que sou um fã de discos conceptuais, sejam eles muito ou pouco conceptuais. Às vezes são apenas conceptuais na minha cabeça, como pode perfeitamente ser o caso deste primeiro LP do rapper de Long Beach. Tal como, em 2012, criei na minha cabeça uma história à volta de good kid, M.A.A.D city de Kendrick Lamar, em 2015, este Summertime’06 levou-me até aos universos de Vince Staples, fez-me imaginar cenários, encontros, garrafadas bebidas, ganzas fumadas, beijos, relações sexuais, crimes e castigos.
[SAM THE KID E MUNDO] “Tu Não Sabes”
Ansioso para ouvir o álbum feito a dois que deverá chegar no primeiro semestre de 2016.
[DRAKE] “Hotline Bling”
Impossível não dar props à malha do ano.
[CARLÃO] “Topo do Mundo” e “A Minha Cena”
Uma das minhas favoritas de Quarenta, o disco que marcou o regresso de Carlão aos discos a solo e a rimar como ele tão bem sabe. Há poucos dias, já no fecho das contabilidades, divulgou uma malha nova, “A Minha Cena”, que é, simplesmente, das melhores faixas que o rapper já interpretou.
[PZ] “Tu És a Minha Gaja”
Paulo Zé Pimenta a pôr-me a dançar devagarinho.
[D.R.A.M.] “Cha Cha”
Toda a gente dançou o Cha Cha.