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Publicado a: 22/11/2016

Os Corona no seu habitat natural

Publicado a: 22/11/2016

[TEXTO] Francisco Noronha [FOTOS] Francisco Lobo

Depois de um “cachorro especial” que me haveria de custar uma luta estomacal apenas vencida no dia seguinte, desci até à rua que dá nome e ambiente ao último álbum dos Corona e, antes mesmo de os ouvir tocar, já “Bangla” se fazia sentir. Com dúvidas sobre a localização exacta d’O Portista, estabelecimento histórico local (juntamente com a Pensão Mondariz, Casa Louro ou a Casa Crocodilo), perguntei à primeira pessoa por quem passei se a coisa era para cima ou para baixo. O rapaz, talvez indiano ou paquistanês, tentou, muito gentilmente, recomendar-me algo em português, mas, não sendo fluente, mudou a agulha para o inglês. Mas como podia eu traduzir “tasco” para… inglês? “We’re looking for an old… bar, here in the street”, disse eu, então. “Oh, you want like a wine bar, yeah? I see, let me think”. Rapidamente percebemos como, em inglês, nunca teríamos o vocabulário adequado e fiel para descrever que tipo de “bar” era O Portista – que é, escusado será dizer, tudo menos um “wine bar”.

 


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De facto, foi entre uma profusa memorabilia e um infinito rol de bugigangas concentrados em meia dúzia de metros quadrados – surpreendente a qualidade acústica em tão exíguo espaço – que o “Cavalo Branco do Batalhão do Pós-Moderno” (aka Conjunto Corona), ladeado por Kron, Fred&Barra (o Fidbek dos históricos MatoZoo) e o já famoso “homem da meia”, cavalgou sobre um público devoto e cuja heterogeneidade reflecte a música e a atitude foliona do grupo: chapéus, sim, mas também rabos de cavalos (masculinos), mulheres (muitas e bonitas, por sinal) e, genericamente, gente cuja aparência não se associa tradicionalmente ao público de hip-hop. Calendários de mulheres nuas dos anos 80 (com os primeiros e mais desagradáveis à vista implantes de silicone da história); cachecóis, calendários e quinquilharia da mais diversa associada ao grande FêCêPê; Nossas Senhoras, santos e terços; globos disco e tudo o mais que o meu olhar não conseguiu registar – tudo isto serviu de adorno natural à primeira apresentação, mais reservada, de Cimo de Vila Velvet Cantina, o terceiro e aguardado álbum dos Corona.

 


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Num peculiar palco que, ao contrário do habitual, se encontrava um “degrau” abaixo do público, os Corona partiram, literalmente, a loiça toda – no encore de “Mafiando Bairro Adentro”, que fechou o concerto, uma prateleira de santos de porcelana veio abaixo (isto já depois de um dos globos ter ameaçado cair), como para certificar a farra que um público fiel e efusivo presenciou durante cerca de hora e meia, com direito a moche (em “Chino no Olho”, o sucessor “punk” de “Pontapé nas Costas”) e crowdsurfing de Logos. A casa estava tão cheia que, para quem estava mais atrás, por vezes o melhor ainda era meter um olho na câmara que, num canto da sala, filmava o concerto, ou, então, aproveitar a ida de alguém ao singular quarto de banho existente e roubar-lhe o lugar.

 


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Com dB, sempre em eco, a controlar as operações (qual animador de carrinhos de choque de uma feira popular), e seguindo praticamente a ordem do alinhamento do disco, os Corona mostraram, uma vez mais, por que razão são uns dos mais cativantes nomes do hip-hop português em palco, levando à euforia, com muita naturalidade, um público que já tem na ponta da língua muitas das letras do seu novo trabalho (e que pôde cantar mesmo as letras dos convidados do álbum que não estavam presentes, que foram “substituídos” no microfone pelos próprios Corona, coisa rara de acontecer em concertos de rap e que se aplaude). O regabofe segue dentro de momentos com a apresentação oficial do álbum no dia 2 de Dezembro, nos Maus Hábitos, no Porto.

… Gon-do-mar! Gon-do-mar! Gon-do-mar!

 


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