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Publicado a: 03/01/2018

Os 5 melhores vídeos internacionais de 2017

Publicado a: 03/01/2018

[TEXTO] Alexandre Ribeiro, Luis Almeida e Sebastião Santana [ILUSTRAÇÃO] Abel Justo

No panorama actual, o sucesso de uma música pode depender de um bom vídeo? Existe quem acredite que sim. E o que é que deve ser considerado um bom vídeo? É a estética? É o conteúdo? É a fotografia? Tem que existir uma moral? Perguntas que, como podem adivinhar, são respondidas nos cinco videoclipes escolhidos pela equipa ReB.

Em suma, Kendrick Lamar, Jay-Z, Loyle Carner, NxWorries e Danny Brown deixaram que a sua música servisse como uma mera ferramenta narrativa que pudesse ajudar a guiar os espectadores pelas impressionantes imagens criadas por Dave Meyers & the little homies, Mark Romanek, João Retorta, Calmatic e Jonah Hill. Um mimo para os olhos.

 


[KENDRICK LAMAR] “HUMBLE.” (Realização de Dave Meyers & the little homies)

O ano de Kendrick está repleto de vídeos extraordinários, mas o destaque tem de ir para “HUMBLE.”. Uma peça audiovisual impressionante do início ao fim, repleto de pérolas e momentos de deixar qualquer um de boca aberta. Desde os efeitos especiais capazes de rivalizar com qualquer blockbuster de Hollywood, a metáforas visuais estonteantes e a momentos de sátira e crítica social que acertam em cheio.

Cada plano realizado por Dave Meyers contém em si um videoclipe e cada frame poderia existir como um quadro num museu. O trabalho magnífico com a luz; os figurinos utilizados por Kendrick; os cenários que muitas vezes criam o contraste entre o clássico e o urbano, criando o conflito moral que a música transmite — a humildade é importante independentemente do estatuto. 

Um vídeo assombroso que já se tornou numa referência a nível estético e técnico.

 


[JAY-Z] “The Story of O.J.” (Realização de Mark Romanek & JAY-Z)

Uma das faixas mais poderosas do álbum 4:44 não poderia deixar de ter um videoclipe tão ou mais forte. Realizado por Mark Romanek e pelo próprio JAY-Z, este vídeo utiliza desenhos animados vintage para explorar antigos estereótipos e a sua relevância actual. Repleto de referências a figuras relevantes e factos históricos sobre a cultura afro-americana, a intenção é clara: JAY-Z quer falar sobre racismo, história e dinheiro, apresentando algumas soluções para os problemas. Sem nunca parecer infantil, este é um vídeo provocador. O throwback ao estilo de animação dos anos 30/40 relembra a forma controversa como os afro-americanos eram retratados quando se tratava de entretenimento para crianças. É um vídeo que vive dos pormenores e das referências sem nunca ser impressionante nos aspectos técnicos. É um vídeo mais do que relevante para a conjuntura actual vivida na América de Trump. O objectivo era despertar consciências e isso foi, sem dúvida, conseguido.

 


[LOYLE CARNER] “Sun of Jean” (Realização de João Retorta)

Retratar uma figura tão importante como uma mãe nem sempre é fácil. Muitos rappers falam das suas mães com todo o tipo de atitudes e palavras, mas passar essas palavras para imagens pode revelar ser uma tarefa demasiado injusta. Não foi difícil para João Retorta, realizador português que pegou na belíssima música do rapper Loyle Carner para a transformar numa homenagem a todas as mães. Sem nunca ser evasivo com as suas imagens, João leva-nos ao dia-a-dia de muitas famílias, à banalidade da vida que vive de acções e não de filtros, à relação entre mãe e filho que aqui é retratada de forma exímia. O amor salta por todos os frames. Com uma utilização de mestre da cor, sempre com tons quentes, tons que nos fazem lembrar casa e o sítio mais seguro possível: os braços da nossa mãe. De destacar também os movimentos suaves de câmara que nos transportam para o íntimo das personagens sem nunca parecermos estranhos a invadir a privacidade de alguém. Um vídeo muito simples, mas que vive da beleza da sua simplicidade. Já ligaram à vossa mãe hoje?

 


[NXWORRIES] “Scared Money” (Realização de Calmatic)

Assim que as primeiras notas do sample nos entram pelos ouvidos dentro, sabemos que o feeling é anos 80. Talvez por se tratar de um dos samples mais icónicos – “(I Could Never Say) It’s Over” –, mas eu seria incapaz de imaginar um videoclip para este som que não tivesse o feeling dos 80s. E assim foi: o setup da primeira parte do vídeo é inspirado no Paid in Full (filme de 2002 que, por sua vez, foi influenciado pelo clássico de 1987 de Eric B & Rakim) e Anderson .Paak assume o papel de Ace, com todo o vestuário, acessórios e cores a combinar. Depois de 2 mini-interlúdios visuais somos transportados para a segunda parte do vídeo que contrasta com a primeira através de um look mais flat e de uma montagem de planos estáticos num dia de sol frio. A simplicidade na fotografia faz esta parte do vídeo.

 


[DANNY BROWN] “Ain’t It Funny” (Realização de Jonah Hill)

Loucura, caos e viagens no tempo. Outro mega-throwback dos anos 80, desta vez com realização a cargo de Jonah Hill, que nos transporta para um canal de televisão fictício chamado “The Religious Values Network” em que Danny Brown é protagonista de uma sitcom moralista. Neste “episódio”, Danny Brown tenta chamar a atenção para a sua depressão (“I have a serious problem”), assumindo o problema do abuso de drogas. No entanto, o resto do elenco e a própria audiência parecem não se importar, e até achar piada. Uma possível crítica à idolatração que os fãs fazem a artistas que consomem e promovem drogas, muitos deles a enfrentarem sérios problemas para ultrapassar o vício.

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