[TEXTO] Núria [FOTO] Direitos Reservados
2016 foi um ano difícil, já sabemos. Na música e no cinema, o ano não se fez esperar e começámos a perder os ícones e ídolos ainda em Janeiro. Noutros campeonatos, ainda, 2016 foi igualmente duro e, do outro lado do oceano, marcado por fortes diferendos políticos e sociais. (Des)igualdades, racismo, pobreza, sexismo. A luta por mais e melhores condições, para o colectivo e para o individual. Pela auto e hetero-aceitação.
Os cinco melhores álbuns de hip hop brasileiro de 2016 contam essa mesma história: cada um deles, encerra em si uma luta muito própria com projecções colectivas. Já rezavam os Costa a Costa, em 2007, “o problema é seu, o mundo é nosso”.
1º – [A Coragem da Luz] Rashid
Três mixtapes e um EP depois, Rashid lança o seu primeiro álbum de estúdio – A Coragem da Luz conta com participações de Criolo e Mano Brown e vem, claramente, desbravar caminho no hip hop brasileiro. Maduro nos temas e inovador nas composições, A Coragem da Luz é mais um dos “álbuns-filho” de To Pimp A Butterfly, passeando-se entre o soul, funk e o cool jazz. O racismo, as novas formas de se viver e relacionar, as desigualdades sociais e tensões políticas do Brasil abordadas numa lírica irrepreensível num trabalho a cargo de Rashid e Julio Mossil e, talvez, o melhor álbum de hip hop brasileiro do ano.
2º – [Trilha Para o Desencanto da Ilusão, Vol. 1: Amem] Síntese
Produzido por Daniel Ganjaman, o homem por trás dos fenómenos Sabotage e Criolo, o segundo álbum da dupla de São José dos Campos (SP) – Trilha Para o Desencanto é, consequentemente e ao estilo do produtor, um álbum essencialmente orgânico. Substituem-se os samples por teclas e metais e resumem-se os temas, em síntese, ao relato de uma geração complexa, efémera e intensa.
3º – [Sabotage] Sabotage
A segunda produção de Daniel Ganjaman ocupa o terceiro lugar desta lista. Sabotage, o álbum póstumo do seu parceiro, chega 13 anos após a morte como prenda prometida. A ele juntam-se, a pedido, apenas aqueles que já eram colaboradores de Sabotage em vida ou aqueles que o MC admirava. Incluídos estão Instituto, Tropkillaz, DJ Cia ou Céu, entre outros.
4º – [Castelos & Ruínas] BK
Castelos & Ruínas é o álbum de estreia do rapper carioca, BK, sendo também o primeiro trabalho a solo de qualquer membro do grupo Nectar. Bases de trap e boombap num álbum sombrio com produção de El Lif e JXNVS. Um nome a ter em conta em 2017.
5º – [Outra Esfera] Tassia Reis
“Eu tentei falar baixinho, mas ninguém me ouviu. Eu tentei ir com carinho e o sistema me agrediu. Então, eu grito, elevo o meu agudo ao infinito”, parte da faixa “Ouve-se”, define bem o sentimento geral de “Outra Esfera”, o segundo de Tássia Reis. O instrumental prevalece sobre o electrónico num álbum cheio de questionamentos em temáticas como o racismo, feminismo acompanhados de uma boa dose de auto-análise.
Menções honrosas:
Oceano – Nego E
Conteúdo Explícito – Pt. 1. – Cacife Clandestino
Em 2017 aguardam-se os trabalhos de DON L (que se prevê que saia já em Janeiro) e o muito aguardado de MC Marechal.