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Publicado a: 13/10/2018

Onyx estreiam-se em Lisboa: a nação boom bap está bem viva

Publicado a: 13/10/2018

[TEXTO] Ricardo Farinha [FOTOS] Sebastião Santana

Cais do Sodré, sexta-feira, 23 horas. É o início de um fim de semana histórico para o universo das rimas e batidas em Portugal. Se no sábado há a estreia absoluta de DJ Jazzy Jeff no país, na Parkbeat Legends, a sexta fica marcada pela primeira vez dos míticos Onyx em Lisboa. Durante anos foram muitos os que sonharam para que existissem noites destas na capital portuguesa. O sonho é agora a realidade.

O público que encontramos no exterior do Mercado da Ribeira, a fazer tempo antes de entrar no Estúdio Time Out, não é um público que encontremos assim tantas vezes em concertos de rap na cidade. Estão lá os chamados hip hop heads — os tais que fazem parte do núcleo duro de uma cultura que já é gigante, por terem uma participação mais activa ou um maior interesse –, mas também um público na casa dos 30 anos que claramente cresceu a ouvir Onyx e outros grupos de street rap (sejam os Mobb Depp ou Tupac) nos anos 90 e com que não nos cruzamos assim tantas vezes.

 



Análises sociológicas à parte, cabe a DJ Dadda abrir as hostes no Estúdio Time Out. Se normalmente faz sets com hits modernos, mais ligados às sonoridades contemporâneas do trap, aqui teve de se adaptar ao ambiente e desfilou clássicos de Wu-Tang Clan, Tupac ou EPMD, entre tantos, tantos outros hinos dos anos 90. “Rola Dodo”, dos portugueses Da Blazz, também fez furor. Bdjoy foi o host de serviço e, como sempre, soube animar bem a festa. O set foi bom mas a espera foi longa: o público tinha comprado bilhetes para ver Onyx mas Phoenix RDC, que iria fazer a primeira parte, só subiu ao palco depois da uma hora da manhã.

Curiosamente, apareceu tal como Sticky Fingaz viria a apresentar-se mais tarde: de hoodie vermelho, capuz a cobrir a cabeça e microfone bem colado aos lábios. Phoenix RDC tem o lado gangsta que o junta bem aos Onyx, além da energia pujante — neste caso suportada nos bangers mais trap –, os refrões melódicos e os temas mais calmos. É um rapper versátil e completo que está em altas (e de forma merecida, tendo em conta todo o trabalho feito nos últimos anos). “Ingratidão”, “Professor”, “Homem da Pizza” ou a remistura “gangsta” de “Devia Ir” — que adapta uma parte do single dos seus protegidos (entretanto bem lançados) Wet Bed Gang foram alguns dos temas que pudemos ouvir. E cantar: já que o público sabia várias das letras de cor. Phoenix RDC aproveitou ainda a oportunidade para convidar alguns rappers para interpretarem um tema ou dois: Malabá, Kosmo e Syer, que fez uma homenagem ao malogrado Beto di Ghetto, foram alguns deles.

 



Antes de chegarem os Onyx, o público teve ainda de ouvir alguns temas de Jonny Vulgar, rapper americano que acompanha os Official Nasty em digressão. Quase ninguém deveria saber quem era este MC e houve uma clara quebra no entusiasmo do público. “Eu sei que querem muito ver os Onyx, já saio daqui”, disse Vulgar antes de interpretar o último tema. Finalmente — e demasiado tarde: os concertos não deviam começar depois das 2h30 num dia de semana — os primos Fredro Starr e Sticky Fingaz subiram ao palco. A sala estremeceu. Gritos, braços ao alto, copos pelo ar, agitação geral. Os Onyx estavam a actuar em Lisboa, mais de 20 anos depois de muitos os terem ouvido pela primeira vez. “TurnDaFucUp”, malha produzida pelos alemães Snowgoons, foi o tema escolhido para arrancar com a actuação. Atrás deles, manteve-se DJ Dadda nos pratos a soltar os beats, já que os Onyx não trouxeram um DJ próprio — o grupo já tem um histórico de ligações curiosas com europeus. Por exemplo, o último disco, Black Rock, editado no início deste ano, foi produzido na íntegra por um desconhecido de 20 anos da Eslovénia chamado Emiljo Albert Cassagrande.

É impressionante. Aos 40 e tal anos, Fredro Starr e Sticky Fingaz estão em grande forma, com a energia contagiante que sempre caracterizou os Onyx — não esquecer que o grupo foi pioneiro em inserir os moshs, o stage dive e o crowdsurf nas performances ao vivo no hip hop. A voz grimy e arranhada (sobretudo de Sticky Fingaz), que é o cunho deste grupo, além das batidas obscuras, também não falha, mesmo nos temas em que é preciso rimar mais rápido. Novatos, tomem notas. Se já nos começamos a habituar a ver concertos intensos de rap em Portugal — falamos do “caos” de mosh de Travis Scott no Super Bock Super Rock ou da energia grime de Skepta em Paredes de Coura, por exemplo — não é habitual isso acontecer em concertos de grupos mais clássicos e com sonoridades boom bap. O público, por isso, surpreendeu — houve um longo crowdsurf e as primeiras filas saltaram incansavelmente para acompanharem a dupla de rappers. A sala não estava esgotada, mas bem composta e animada.

Ao vivo, numa actuação relativamente curta mas intensa e de qualidade, os Onyx tocaram alguns dos seus principais hits. “Raze It Up”, “Throw Ya Gunz”, “Last Dayz” (com os isqueiros e smartphones em cima), “Shiftee” e, claro, “Slam”, foram alguns dos grandes destaques da noite. “Não sabíamos que Lisboa conseguia ser tão gangsta, que havia aqui tantos psicopatas”, disse Sticky Fingaz na sua voz única. Fredro Starr acrescentou: “Temos mesmo de voltar cá.”

 


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