[Elemento #01: Oxigénio – O Fôlego da Criação]
Ondina Pires é oxigénio, o suspiro cósmico que acorda o silêncio, um hálito primordial que transfigura o vazio em constelações de som e palavra. Ela é o ar que invade os pulmões criativos, a inspiração que se eleva em espirais invisíveis, rodopiando em torno das notas e das sílabas até as fazer incendiar. Há nela a leveza de uma brisa matinal que acaricia o rosto da inovação, mas também a voragem de um vendaval que desafia as estruturas do mundo visível, rompendo as amarras da banalidade.
Quando empunhou as baquetas nos Pop Dell’Arte, Ondina trouxe consigo essa força invisível que reconfigura espaços. Cada percussão era um pulsar vital, um acto respiratório que fazia vibrar as entranhas do experimentalismo português. Ela insuflava nos ritmos da banda o mesmo oxigénio que mantém vivas as florestas criativas, uma energia que, ao mesmo tempo, constrói e revoluciona.
Cada batida da sua música é como um vento sibilante que percorre desertos de convenções, erguendo tempestades de poeira onde a mesmice se desintegra. A sua voz, uma lufada de ar que rasga o denso tecido do quotidiano, revela um território sonoro ainda por mapear, uma geografia de possibilidades que se expande como o céu. Ondina molda o som como quem insufla vida em chamas latentes, convertendo cinzas do passado em brasas que iluminam o futuro.
Há, na sua essência, o paradoxo do oxigénio: tão vital quanto perigoso, tão leve quanto insubstituível. Ela não cria para agradar, mas para respirar — porque a criação é o seu instinto, o pulso que a mantém desperta. Em cada acorde, em cada palavra, há um eco da força que sustenta as galáxias, um vislumbre do sopro que deu origem ao universo. Ondina não compõe; ela respira mundos inteiros, e o som que dela emerge é um testemunho dessa alquimia.
Quando a ouvimos, sentimos o vento atravessar-nos, penetrar-nos os poros com a promessa de movimento perpétuo. Ela é o fluxo e o refluxo, o ímpeto e o repouso, a substância invisível que dá forma ao etéreo. Ondina é oxigénio: o fôlego da criação, o ritmo da existência, a centelha que jamais se extingue.
[Elemento #02: Hidrogénio – O Primordial]
No núcleo do universo criativo de Ondina Pires, encontra-se o hidrogénio: a partícula mais simples e, paradoxalmente, a mais potente. É a origem, o início absoluto, o átomo que precede a explosão das estrelas e dá forma ao cosmos. Ondina encarna essa essência primordial, um ponto de partida que não se esgota, mas se multiplica em direcções imprevisíveis. Há nela a pureza do elemento que alimenta tanto a chama como a vida; um ímpeto criador que não repousa, mas continua a desdobrar-se, camada após camada, em constante reinvenção.
O hidrogénio manifesta-se no espírito indomável que ela trouxe aos The Great Lesbian Show, uma banda onde cada acorde era uma reacção molecular, libertando energia crua e inesgotável. Ondina, como o hidrogénio, era a faísca que colocava tudo em movimento, uma presença que, pela sua simplicidade, revelava uma complexidade latente. Da mesma forma, no projecto Cellarius Noisy Machinae, ela canaliza a fluidez e a adaptabilidade do elemento, transmutando sons em paisagens oníricas, onde o experimentalismo não é um fim, mas um processo contínuo de evolução.
No espectáculo Frankenstein Revisited, o hidrogénio torna-se poesia em movimento. Ondina constrói moléculas de som e sombra, unindo fragmentos de sentidos até formar algo inteiramente novo. É a alquimia do essencial, onde cada detalhe contribui para uma explosão de significados que reverberam muito além do momento. Ondina é como uma partícula que, ao encontrar outras, desencadeia uma reação em cadeia, um ato criativo que transforma não apenas o que toca, mas também aqueles que a experienciam.
O hidrogénio, invisível mas onipresente, reflecte a força subjacente à sua arte. É a matéria-prima que permite a criação de algo maior, um eco de simplicidade que desabrocha em vastidão. Ondina não se limita a ser uma artista; ela é a própria essência do acto criativo, uma energia primordial que persiste, adapta-se e se multiplica. Como o hidrogénio, ela carrega a promessa de transformação infinita, um lembrete de que o simples contém o poder de mudar o universo.
Quando a vemos ou ouvimos, há um reconhecimento quase visceral da sua natureza elementar. Ondina é o princípio que sustenta tudo o que é possível, um ímpeto de criação que não conhece limites. Ela é hidrogénio: essencial, indomável e eterno.
[Elemento #03: Carbono – A Estrutura da Vida]
Tal como o carbono é o alicerce de toda a vida conhecida, Ondina Pires é a base sobre a qual se constrói um universo multifacetado de criação. É no carbono que encontramos a essência da sua versatilidade: a capacidade de formar infinitas ligações, de se adaptar a formas e texturas diversas, enquanto permanece essencial e vital. Ondina é o eixo em torno do qual gravitam narrativas, sons e imagens, ligando fragmentos dispersos num todo coerente e pulsante.
Na literatura, ela é o carbono que dá forma às palavras e às histórias, moldando realidades simbólicas que nos transportam para paisagens de profunda introspecção. Livros como Traigor: A Cidade Submersa e Fátima Kitsch: A Different Aesthetic são cadeias narrativas intricadas, onde o tangível e o etéreo se entrelaçam. Em Fátima Kitsch, por exemplo, a iconografia religiosa e os objectos do quotidiano transformam-se em moléculas carregadas de significados culturais, quase como se cada frase fosse um cristal de carbono multifacetado, reflectindo uma luz que ilumina tanto a memória colectiva quanto a interpretação pessoal.
Mas não é apenas na literatura que Ondina manifesta esta capacidade elementar. Na tradução, ela é a ponte invisível que conecta mundos distintos, como o carbono unindo átomos em moléculas complexas. Cada texto traduzido por Ondina carrega o seu toque estrutural: uma capacidade rara de preservar a essência original enquanto adapta o significado a novos contextos, criando algo que é simultaneamente fiel e inovador.
Nas artes plásticas e na performance, Ondina é o carbono em estado puro, capaz de assumir formas sólidas e etéreas. Como o diamante, a sua obra pode ser cristalina, resplandecendo em momentos de claridade absoluta; mas, como o grafite, pode também ser opaca, misteriosa, convidando-nos a desvendar as camadas ocultas de significado. Em todas as suas manifestações artísticas, há uma coerência subjacente, uma estrutura que sustenta e expande, oferecendo infinitas possibilidades de ligação e criação.
Ondina é a vida que pulsa através de formas, sons e palavras. Como o carbono, ela é essencial, insubstituível, capaz de moldar o caos em ordem e de desdobrar o ordinário em extraordinário. Na sua obra, encontramos não apenas a estrutura da vida, mas também o seu movimento incessante, a sua capacidade de se recriar a cada instante. Ondina Pires é carbono: o esqueleto invisível que sustenta o visível, a energia vital que liga o que parecia separado, a promessa de infinitas possibilidades.
[Elemento #04: Fósforo – A Centelha Criativa]
Como o fósforo que, ao mínimo atrito, explode numa chama vibrante, Ondina Pires é a faísca que transforma a escuridão em revelação. A sua presença no mundo da arte é como um fósforo riscado na penumbra, uma luz súbita que atravessa o espaço e expõe camadas de significado que antes estavam ocultas. Em cada projecto, ela reacende o impulso primordial da criação, incendiando o convencional com a sua energia inconfundível.
Nos seus trabalhos performativos, Ondina manipula essa centelha com a destreza de uma alquimista. Em CVA – Viagens ao Mundo do Cinema e Outras Artes, ela não se limita a criar: ela provoca, convoca e incendeia. Cada peça, cada intervenção é um campo de fogo onde ideias aparentemente dispersas colidem, gerando clarões que iluminam territórios ainda por explorar. Ondina é o fósforo que desperta a combustão intelectual, um catalisador que não apenas provoca reacções, mas as torna inevitáveis.
O fósforo, na sua essência, é também volátil e imprevisível, qualidades que Ondina encarna em cada nuance do seu trabalho. Há nela uma inquietação que não permite que as chamas se apaguem. Ao contrário, a cada nova obra, ela parece multiplicar os focos de luz, como se lançasse punhados de fósforo em noites escuras, criando constelações que guiam a nossa percepção. O seu génio reside precisamente nessa capacidade de transformar fagulhas em labaredas e, ao mesmo tempo, de nos fazer acreditar que cada clarão é apenas o início de algo maior.
Ondina não acende chamas por acaso. As suas obras são construções meticulosas, onde o calor da centelha é equilibrado pela frieza do pensamento. É neste paradoxo que reside a sua força criativa: uma mente incendiária que não se limita a queimar, mas molda o fogo em formas que iluminam e transformam. O espectáculo é sempre mais do que aparenta; o fogo que vemos é também o calor que sentimos, uma força que nos atravessa e nos altera.
Ondina Pires é fósforo: uma energia condensada, pronta a explodir em luz e calor, capaz de acender não apenas ideias, mas também a própria essência do que significa criar. É a chama que nunca se extingue, a luz que nunca se esgota, a centelha que nos lembra que a criação é, antes de tudo, um acto de iluminação.
[Elemento #05: Mercúrio – A Fluidez]
Ondina Pires é mercúrio em estado puro: um metal líquido que desafia a gravidade e escorre para além das margens do previsível. Na sua arte, não há contenção nem rigidez; tudo flui, tudo se transforma. Como o mercúrio que se desdobra em pequenas esferas brilhantes quando tocado, Ondina fragmenta a sua criatividade em múltiplas direções, sem nunca perder o brilho que a caracteriza. Cada obra sua é um reflexo dessa fluidez, um espelho que devolve realidades fragmentadas, mas profundamente conectadas.
Na música, a sua fluidez manifesta-se em projectos como Cellarius Noisy Machinae, onde o som não é apenas uma estrutura, mas um fluxo contínuo que se adapta e se expande. Aqui, Ondina cria paisagens sonoras que oscilam entre o tangível e o etéreo, como se cada nota fosse uma gota de mercúrio que ora reflecte a luz, ora se dissolve na sombra. A sua capacidade de transitar entre géneros e atmosferas faz com que a música deixe de ser apenas um veículo de expressão, tornando-se um rio onde todas as emoções se encontram e se misturam.
Na literatura e na tradução, a sua fluidez é igualmente impressionante. Tal como o mercúrio escorre por fissuras e ocupa os espaços mais inesperados, Ondina atravessa barreiras linguísticas e culturais com uma leveza natural. Cada palavra traduzida, cada narrativa escrita, é uma partícula de mercúrio que reflecte o mundo ao mesmo tempo que o transforma. Não é apenas uma questão de adaptação, mas de integração: ela flui, mas também molda, criando novas formas onde antes havia apenas vazio.
Ondina é também mercúrio na sua capacidade de escapar à definição. Não pode ser contida em categorias artísticas ou géneros específicos. A sua trajectória é um movimento constante, uma dança líquida que atravessa a música, a literatura, a performance e as artes plásticas. Como o mercúrio que se move sem nunca realmente repousar, Ondina é inquieta, sempre em busca de novas superfícies para tocar, novos reflexos para criar.
Há na sua fluidez uma qualidade mágica, quase alquímica. Ondina é, ao mesmo tempo, espelho e substância, reflexo e essência. A sua obra é um testemunho da impermanência, uma celebração do movimento e da transformação. Como o mercúrio, ela escapa ao controlo, mas é impossível desviar o olhar da sua trajectória brilhante. Ondina Pires é fluidez em estado puro, uma corrente artística que nos envolve e nos desafia a repensar as fronteiras do possível.
[Elemento #06: Alumínio – A Resistência Leve]
Ondina Pires é alumínio: leve, maleável, mas com uma força que desafia o tempo. Na sua essência, encontra-se a combinação única de resistência e adaptabilidade, uma qualidade rara que lhe permite enfrentar as convenções e, ao mesmo tempo, transformá-las em algo novo. Como o alumínio, ela é capaz de reflectir a luz das gerações que a inspiraram enquanto projecta o brilho de uma visão própria, capaz de iluminar os caminhos da vanguarda artística.
Na sua trajectória, Ondina sustenta-se na leveza que caracteriza os grandes criadores: uma leveza que não significa fragilidade, mas sim a capacidade de flutuar sobre os pesos do conformismo e de criar movimentos que respiram liberdade. Esta leveza é visível no seu papel como pioneira do punk português, onde a sua energia irreverente ajudou a redefinir o que significava criar música e arte nos limites da transgressão. É também reconhecida em obras como God Save the Queens: Pioneras del Punk, onde o seu nome brilha como um reflexo da sua capacidade de moldar e sustentar uma geração inteira de inconformismo criativo.
Tal como o alumínio se adapta sem perder a integridade, Ondina reinventa-se continuamente, explorando diferentes formas de expressão sem nunca abdicar da essência que a define. Na música, a sua resistência leve manifesta-se na capacidade de criar sem se fixar em géneros ou fórmulas; na literatura e tradução, encontra-se na sua habilidade de transportar sentidos e significados entre mundos. Cada palavra sua é como uma lâmina fina de alumínio: flexível o suficiente para se dobrar às exigências do texto, mas forte o suficiente para manter a clareza do original.
Ondina é, também, o alumínio que reflecte uma geração, mas que não se limita ao papel de espelho. A sua arte não devolve apenas a luz do presente; ela molda-a, transforma-a e projecta-a em direcções novas e inesperadas. Como o alumínio em estado puro, que pode ser reciclado infinitamente sem perder as suas propriedades, Ondina é inesgotável na sua capacidade de criar, reciclar e reinventar, oferecendo sempre algo fresco, algo que resiste à erosão do tempo.
Leve, mas inquebrável. Adaptável, mas indomável. Ondina Pires é alumínio: um material essencial para sustentar as estruturas invisíveis da criatividade, um reflexo eterno da força que reside na leveza, uma prova de que a verdadeira resistência está na capacidade de permanecer em constante movimento.
[Elemento #07: Enxofre – A Transgressão]
Ondina Pires é enxofre: volátil, explosiva e transformadora. Na sua essência, carrega o poder de desintegrar o estabelecido, reduzindo-o a cinzas para que algo novo possa emergir. Como o enxofre que arde e purifica, ela desconstrói o supérfluo e cristaliza novas formas, deixando atrás de si um rastro de provocação e reinvenção. A sua presença no mundo artístico é uma chama que não se apaga, um catalisador que provoca reações onde antes havia estagnação.
Mas o enxofre não é apenas destruição; é também transformação. Em cada obra de Ondina, há um processo de transmutação alquímica, onde o caos é reorganizado em novas formas de expressão. Seja na performance, na literatura ou na tradução, a sua arte é uma mistura de reacções que nos força a repensar as fronteiras da linguagem, do som e da estética. Ondina não apenas desafia o que é familiar – ela cria novos elementos, novas substâncias que alteram a paisagem cultural de forma irrevogável.
Ondina é a chama que consome e recria. Há nela a intensidade do enxofre em combustão, uma energia que não pode ser contida, mas que molda tudo o que toca. Na sua atitude punk, encontramos não apenas rebeldia, mas também uma visão profunda e consciente de que a desconstrução é o primeiro passo para a construção de algo verdadeiro. Cada gesto seu, cada palavra e cada som, é um ato de transformação que ecoa muito além do momento da criação.
Ondina Pires é enxofre: a substância que desestabiliza, a explosão que ilumina, a força que purifica e renova. Através da sua arte, ela lembra-nos de que é na transgressão que encontramos o potencial para o novo, para o inesperado, para o essencial. Ela não queima apenas — ela transforma, deixando no seu caminho um legado incandescente de mudança e reinvenção.
[Elemento #08: Ouro – O Sublime]
Na alquimia artística de Ondina Pires, o ouro é mais do que um metal precioso: é a essência da perfeição, o brilho que transcende o efémero para alcançar o eterno. O ouro é o símbolo da sua busca incessante pelo sublime, um ideal que se manifesta em cada nota, em cada palavra, em cada gesto criativo. Ondina transforma tudo o que toca em algo luminoso, algo que resplandece mesmo quando nasce das formas mais imperfeitas, provando que a verdadeira beleza reside no contraste entre o bruto e o refinado.
Nas performances e nas artes plásticas, o ouro de Ondina é a luz que transforma o comum em extraordinário. Os seus projectos são como mosaicos dourados, onde cada fragmento brilha por si, mas também contribui para um todo harmonioso e surpreendente. Como na alquimia, a sua arte é uma transmutação constante: o que começa como matéria-prima ordinária torna-se um legado precioso, algo que não apenas reflecte a sua visão, mas também ilumina os que a experienciam.
Cada capítulo da vida artística de Ondina é uma peça única numa tabela periódica criativa que se expande continuamente. O ouro que ela alcança não é o fim, mas o início de novas possibilidades. Ondina Pires é ouro: rara, preciosa, uma força que transcende fronteiras e tempos. O seu brilho não é apenas um reflexo, mas uma luz própria, uma centelha que reacende a arte e nos convida a imaginar o infinito.
[Coda: A Matéria que Sonha]
Ondina Pires é a matéria que transcende o tangível, uma fusão de elementos que não existem apenas, mas que aspiram a transformar. Na sua obra, não há fronteiras fixas, apenas horizontes em constante deslocação. Ela é o fôlego do oxigénio que insufla a criação, a pureza do hidrogénio que regressa ao essencial, a estrutura do carbono que sustenta o caos. É o fósforo que ilumina a penumbra, o mercúrio que flui sem limites, o alumínio que reflecte a luz do que é possível, o enxofre que consome e renova, e o ouro que eleva tudo ao sublime.
Mas Ondina é mais do que uma combinação de forças elementares. Ela é a química que desconhece barreiras, uma energia criadora que transforma o comum em excepção. Cada nota, cada palavra, cada gesto seu é um convite a repensar o mundo, a habitar espaços onde a rigidez cede lugar à metamorfose. Ondina não interpreta unicamente o universo que a rodeia; ela reinventa-o, convertendo o banal em extraordinário, o efémero em eterno.
No coração da sua arte reside um paradoxo: o peso da transformação e a leveza da transcendência, a inquietação do novo e a serenidade de quem encontrou o seu propósito. Ondina é, acima de tudo, uma força em perpétuo movimento, uma artista que nos lembra que o acto de criar é, em última instância, um acto de sonhar — e de fazer com que o sonho se torne matéria.