[TEXTO] Alexandre Ribeiro [FOTOS] Hélder White
O cheiro a sardinhas assadas já se sentia pelas ruas de Lisboa e a música pimba ressoava entre prédios, espalhando-se por cada recanto de uma cidade em festa. Dentro de portas, a festa fazia-se com outros sabores e sons. Na Rua Cor-de-Rosa, mais concretamente no Musicbox, Valas, D. Beat e DJ Sims carregaram a bandeira do Alentejo na apresentação de Check-In, o primeiro álbum do MC com carimbo de uma major.
Antes da entrada em palco, a música de Keso, um defensor irredutível da expressão crua, dura e sincera, foi a banda sonora do aquecimento que, de certa maneira, serviu como a perfeita introdução à “bipolaridade” do reportório actual de João Valido e, consequentemente, do público que o segue. Betos, hip hop heads e adolescentes (principalmente do sexo feminino) partilharam o mesmo espaço e levaram-nos a um par de questões: afinal de contas, onde é que se inclui realmente Valas no panorama português? Mais: o que é que ele representa?
Ouvir Slow J e ProfJam na mesma playlist que Diogo Piçarra — o único convidado de ontem — não é estranho, mas até que ponto é que “2 Dogz” do hype man D. Beat se encaixa nisto tudo? Ou “El Dorado”, “Presente” e “Talvez”, os três temas mais fortes do álbum, que, ao vivo, parecem deslocados do resto — “Terapia”, por exemplo, deveria saltar em definitivo dos futuros alinhamentos…
Se em alguns momentos sentimos que está destinado a dividir o território com João Batista Coelho, noutros não conseguimos deixar de pensar que Dengaz e Jimmy P são os seus “companheiros de guerra”, porta-estandartes do rap português mais “ligeiro” e confeccionado com a receita pop à mão (e nada de mal nisso, atenção…).
“Die Like a Rockstar”, “Raiz” e “Dragões e Demónios” intrometeram-se num concerto que se focou maioritariamente no sucessor de Raízes de Pedra, deixando ainda tempo para “Ponto de Partida”, canção que fez parte do último álbum de Piçarra.
Com “Existence” escrito (e repetido várias vezes) nas costas da t-shirt que utilizou na apresentação de Check-In, Valas apontou, de forma não-propositada, para a sua própria existência enquanto artista. Eventualmente, o MC terá que escolher se quer passar o resto da sua carreira a declamar “poesia lenta” ou a entregar “comida de plástico” para uma multidão que está à espera do próximo one-hit wonder.