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Publicado a: 18/04/2015

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Entre as primeiras impressões retiradas de The Kill Off e uma avaliação mais ponderada do mesmo vai uma distância que comporta um dos mais fascinantes e sumarentos discos de hip hop que escutámos nos últimos anos. Este tipo de afirmação não nos sai do bolso todos os dias e, pelo que me toca, duvido que, nos próximos meses, venha a encarar outro rapper com o mesmo entusiasmo. Acontece que Oliver the 2nd não é um rapper qualquer, da mesma maneira que The Kill Off representa muito mais do que um aglomerado de rimas e beats meramente capazes de satisfazer os ouvidos. Num tempo com demasiados rappers (já dizia a faixa de Beastie Boys com Nas), Oliver the 2nd mostra-se capaz de romper com algumas das rotinas mais comuns (não se perde em menções aos números do extracto bancário), ao mesmo tempo que desenvolve outras peculiarmente suas e da crew de Los Angeles a que pertence (a cada vez mais notável Black Jungle Squad).

Mesmo assim, e à imagem de tantos outros discos de hip hop, The Kill Off vive da ambição de querer ser a mais recente versão do manifesto “quem manda nesta merda toda sou eu”. A diferença face aos seus semelhantes encontra-se contudo na quantidade de energia, referências e reflexões pertinentes que Oliver the 2nd condensa em 35 minutos (duração actual após o acrescento de duas faixas ao EP lançado em edição de autor em Dezembro de 2013). É fácil simular uns quantos momentos de loucura, porém será muito mais difícil criar a atmosfera de insanidade e realidade distorcida que The Kill Off obtém através de vozes screwed, excertos de relatos de luta-livre e aparições várias de Ted Bundy (serial-killer que se valia das boas aparências para atrair as suas vítimas).

Somos, em primeira instância, levados a crer que todo este manancial de violência dirige-se ao exterior, mas aos poucos entendemos que o massacre anunciado aponta muito mais às personalidades múltiplas e culpa americana que Oliver the 2nd pretende exorcizar. Um discurso tão complexo quanto esse poderia simplesmente resvalar para o pretensioso e entediante, caso The Kill Off não viesse tão apetrechado de puros explosivos (“Wake-up” é para partir a loiça) e malhas várias em que é palpável o total entendimento entre Oliver e Jeremiah Jae (o prodígio agora ligado à Warp que produziu por inteiro este disco). Entendimento esse que, em 2013, fazia de Rawhyde um essencial álbum de hip hop pensado a dois (não vale a pena perder-me em palavras, já que uma faixa como “Billy Kid” explica quase tudo).

Este é pois um hip hop que, sem deixar de ser divertido e abusado, defende geralmente uma causa e isso torna-se ainda mais evidente no momento de “Dominion” em que Oliver the 2nd cita o chamativo wadadang hey, que também KRS-One (todo ele um rapper de causas) tinha aproveitado da decisiva malha de dancehall que é “History”, pela voz de Super Cat. Enquanto KRS-One cantava o tal wadadang hey com a mesma facilidade perigosa de quem prime o gatilho, no clássico “9mm Goes Bang”, Oliver the 2nd vai buscar a mesma chamada jamaicana para frisar que está pronto para arrumar com qualquer rival, em qualquer altura e em qualquer lugar. É uma fantasia, como é óbvio, mas, depois de bem assimilar The Kill Off, ficamos obrigados a acreditar nela.

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