[Prelúdio: Rita num Jardim Secreto]
Bem-vindos ao jardim de Rita Braga, onde o ukulele é um ramo em flor e cada acorde se desdobra como pétalas num bosque onde o tempo adormece. Rita não nasceu em Lisboa, pelo menos não na Lisboa que conhecemos; a dela é uma cidade invisível onde as ruas se dissolvem em vibrações sonoras, e os eléctricos deslizam como se guiados pelo vento. Desde 1985, o seu calendário é marcado por equinócios criativos e sazonalidades que desafiam as leis da boa educação pop.
Rita Braga não canta; ela murmura segredos aos pássaros e sintoniza frequências que só os mais atentos conseguem captar, numa tarde de luz mansa, ou depois de três cafés e um poema de Lorca.
Deixe-se levar pelos jardins selvagens de Illegal Planet, onde a tropicália floresce entre folhas esquecidas e onde canções de embalar despontam como orquídeas entre os ramos tortuosos de um velho carvalho. Aqui, Rita Braga não é apenas cantora; é guardiã de um pomar encantado, onde os riffs de guitarra são ribeiros e os sintetizadores florescem como campânulas sob a luz do amanhecer. Apertem os sentidos, caminheiros, porque estamos prestes a cruzar o portal — para o desconhecido, o desconcertante, o perfume intemporal da música de Rita Braga.
[Ode #01: Raízes & Ramo]
No princípio, há o silêncio. Um tronco imóvel antes do som germinar. Rita Braga, voz suspensa entre os jardins de Lisboa, nasceu em 1985, mas poderia ter brotado em qualquer terreno fértil do mundo. Desde 2005, percorre paisagens que parecem desenhadas à mão, levando a sua música por continentes e continentes — palcos europeus, americanos, japoneses, australianos.
Nas suas viagens, Rita cria pontes entre mundos: ecos de ilustração, histórias de banda desenhada, o cinema animado — tudo se entrelaça no seu universo sonoro como folhas caídas no mesmo chão. O que dela brota não é só som, mas uma nova ordem para o caos original.
[Ode #02: Flores em Harmonia]
Setembro de 2023. Illegal Planet floresce como um renascimento primaveril, um sussurrar de folhas jovens abrindo-se ao sol. O quarto álbum de Braga é um canteiro impossível, onde o tropicalismo retrofuturista se entrelaça com a delicadeza das madressilvas e com a estranheza das flores silvestres. Um som que se propaga como o murmúrio da seiva, viajando entre as raízes e os ventos.
Críticos contemplam-na como quem descobre uma rara flor-de-lis. “Há uma fusão entre o jazz íntimo e a poesia popular reinventada”, dizem. Cada faixa, como um jardim suspenso, ergue-se com equilíbrio entre o conhecido e o intangível, vibrando como pétalas ao sol.
[Ode #03: Melodia de Brisa e Espinhos]
Mas Rita Braga não conhece fronteiras. Movendo-se entre o folclore e o experimental, entre o passado ancestral e o futuro imaginado, a sua voz é como um vento que dobra as árvores e faz cantar as folhas. Time Warp Blues e Bird on the Moon são trilhos dessa floresta — memórias de canções antigas que agora se reinventam, perdidas e reencontradas. A música de Rita não se ouve apenas: sente-se como uma brisa que nos toca o rosto, como o leve aroma de uma tília em flor.
[Ode #04: O Bosque Oculto]
As canções de Rita são fragmentos de uma narrativa maior, como sementes plantadas em terras distantes. Cherries That Went To The Police balança entre o caseiro e o etéreo, enquanto colaborações com nomes como Bernardo Devlin ou Ana da Silva surgem como ramos novos que se estendem em direcções inesperadas. Cada álbum, cada concerto é um bosque a desabrochar, vibrante e infinito.
[Ode #05: O Jardim do Futuro]
Em “A Quantic Dream”, Rita Braga dança no fio entre o real e o imaginado. Como uma flor que dobra o tempo, a sua música estende-se em todas as direcções — com raízes no chão antigo, mas florescendo para além do horizonte visível. A sua voz ecoa como uma mensagem trazida pelo vento, cifrada e urgente.
[Ode #06: O Coração Silencioso da Terra]
Illegal Planet é o princípio e o fim, o renascer de um ciclo antigo. As composições de Rita pulsam como folhas tocadas pela chuva, como luz que atravessa a folhagem. Cada som, cada palavra, é uma promessa do que ainda não vimos, como uma semente que já contém a árvore inteira no seu silêncio.
[Epílogo: O Eco Perdido]
E assim chegamos ao fim desta viagem, com o último acorde a perder-se como o aroma de um jardim depois do entardecer. Rita Braga, a viajante dos sons, não tem começo nem fim. É um ciclo eterno, uma melodia que floresce em contínua renovação. A sua música não se acomoda, avança, dança com os mistérios e floresce onde menos esperamos.
Desçam as cortinas, mas deixem abertas as janelas. Se ouvirem bem, talvez a sua voz regresse com o vento, trazendo um novo canto para o mundo.