[TEXTO] Alexandre Ribeiro [FOTOS] Sebastião Santana
Quando se soube que o Oddisee faria parte da programação da edição do ano passado do Vodafone Mexefest, a alegria tomou conta de nós. No entanto, o concerto, que foi muito bom, não contou com os Good Cmpny, a infalível banda que o acompanha há alguns anos na estrada. Poucos meses depois, a boa-nova chegou à redacção: o artista norte-americano trazia a banda consigo até ao Super Bock Super Rock.
A partir do momento em que traz Olivier St. Louis, Ralph “Real” Washington, DJ Unown, Jon Laine e Dennis Turner para cima do palco, as dinâmicas musicais transmutam-se: mais momentos de comunhão, improviso, celebração e um groove diferente que só é possível com o toque humano.
Se o público não era totalmente seu no início, a verdade é que no fim já ninguém tinha dúvidas: Oddisee é da estirpe dos melhores artistas e intérpretes norte-americanos. Rima como os melhores e produz como os melhores. Domina o palco e controla a banda e as pessoas na audiência. “Lifting Shadows”, faixa menos conhecida da sua discografia, é um dos exemplos do que é capaz: flow, entrega, mensagem e instrumental no ponto. Ao contrário de grande parte dos rappers da actualidade, o beat está bastante longe de matá-lo ou anulá-lo. Estes versos valeriam o mesmo se estivessem impressos num livro.
O que é que lhe falta para estar a encher salas como a Altice Arena? Fazer cedências que não fazem sentido para alguém que não ambiciona conquistar o mundo e que fica satisfeito com algo palpável e real, mesmo se mais modesto. Sem uma máquina por trás ou um single a rodar todos os dias na rádio, Amir Mohamed el Khalifa vai espalhando a sua doutrina sem comprometer os seus ideais. É de louvar.
Voltou a gozar com o trap e o “triplet flow”, mas, tal como da primeira vez, impressionou, mesmo que não se esteja a levar a sério. Estamos cá para a mixtape Oddisee Goes Trap. Passem a mensagem.
Da próxima vez que vos disserem que o “novo” hip hop não presta e que no tempo dos Biggies e 2Pacs é que era bom, ponham “Like Really”, “Want to Be” — as linhas de baixo soam tão bem (ou melhor) ao vivo –, “That’s Love” ou, se formos totalmente sinceros, qualquer música do Oddisee. E levem-nos aos concertos.