pub

Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 24/03/2023

Com Prétu, Meta_, Scúru Fitchádu ou Aline Frazão como convidades.

Octa Push sobre Purga: “Trabalhar com muitas pessoas acaba por ser mais moroso, mas bem mais enriquecedor”

Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 24/03/2023

Saiu há um par de dias, a 22 de Março, o mais recente álbum de Octa Push: Purga é composto oito temas de electrónica de fusão e está repleto de convidades.

A vida nem sempre permite andar ao ritmo que desejamos e Octa Push não são excepção. Os sete anos que nos separam de Lingua, aquele que era o último disco da dupla de Lisboa, implicaram que, qualquer que fosse o seu sucessor, seria sempre muito desejado. Apesar da ausência dos lançamentos em nome próprio, foram surgindo a espaços enquanto colaboradores de Batida, IKOQWE, :papercutz ou DJ Mam.

O baile global dos irmãos Leo e Bruno — que ao longo do seu percurso trabalharam com editoras como a Soul Jazz Records, Enchufada ou Fabric — continua em 2023 com este novo Purga, que tal como nos registos anteriores conta com várias vozes a dar interpretação verbal àquilo que criam através de máquinas e softwares — são elxs Aline Frazão, emmy Curl, Larie, Meta_, Nástio Mosquito, Prétu (aka Chullage) e Scurú Fitchádu.

Numa breve troca de impressões com a nossa redacção, Octa Push falam da confecção de um disco totalmente editado de forma totalmente independente e que tem uma capa assinada por Kruella D’Enfer.



Entre Lingua e Purga distam 7 anos. Que andaram os Octa Push a fazer durante esse tempo?

[Bruno] Estivemos muito na estrada. Lançámos alguns temas soltos, mas também fizemos produção adicional e remisturas para outros artistas. Trabalhámos em muita música, muita música que não saiu, experimentámos muito sonicamente. Até que houve necessidade de darmos um passo atrás e percebermos o que queríamos fazer. Sabíamos que, a nível de produção, não queríamos fazer um disco igual ao Lingua, mas ao mesmo tempo queríamos dar continuidade a muita coisa. Encontrámos um foco em 2019 e foi aí que começámos a fechar os primeiros temas deste álbum. No entanto, a pandemia acabou por atrasar todo o processo, assim como a lista de participações, que foi aumentando. Houve muita preocupação em termos um disco homogéneo, que existisse ligação entre os temas. Isso fez com que deixássemos, por exemplo, um par de colaborações que adoramos de fora, mas que sairão depois.

[Leo] Fiz dois filhos e no primeiro acabou por ser difícil a adaptação de quem geria o tempo à sua maneira, fins-de-semana, etc. O mais difícil foi ser obrigado a parar a meio de algo. Ter que pegar numa ideia que tinha sido desenvolvida há uns dias e a cabeça já não estar alinhada, fresca e perder-se o raciocínio. Essa fase atrasou um pouco o processo de criação que, no nosso caso, numa fase inicial, é muito individual. Foi também difícil deixar de fora o tema que fizémos com a Romi Anauel, em 2019, mas lá está, era complicado encaixar aquela alegria toda no registo deste álbum, que é mais denso.

A primeira coisa que salta à vista em Purga é a diversa lista de convidades: de Nástio Mosquito a emmy Curl e de Prétu a Meta_, são vários os nomes que chegam de diferentes lugares musicais e estéticos. Como é que se chegou a essa rica lista de vozes?

[Leo] Tínhamos bem definido desde o início qual o conceito do álbum e do que queríamos falar. Trabalhar com pessoas cuja visão está de alguma forma alinhada com o que fazemos. Por outro lado, sendo o álbum também inspirado no conto de Hamelín, pensámos em convidados, neste caso convidadas, que no seu trabalho nos transmitem um lado mais etéreo, celeste. O facto de serem tão diferentes “umas dos outros” para nós, sempre foi um desafio implícito no nosso trabalho. Está presente nos nossos álbuns anteriores também, uma premissa para nós. Juntar Maria João Grancha a Bruno do Show, Braima Galissá a Alex Klimovitsky e mais recentemente estes convidaxs todos, tornam o nosso processo de produção também um desafio. Como conjugar tanta gente diferente com estéticas tão díspares em algo que, no seu todo, soe homogéneo. Estamos muito contentes com o resultado. Para além disto tudo, há o lado da realização, ou seja, daqui a uns anos, olhando para trás pensar que, no nosso percurso, fizemos música com gente incrível que admiramos tanto.

[Bruno] Temos uma longa lista de artistas com quem gostámos e gostaríamos de trabalhar. Desde nomes mais recentes, até outros que acompanhamos há vários anos. Durante a produção pensámos muito no que um determinado tema necessita, em quem pode injectar isso e depois acabamos por contactar as pessoas. O mais interessante de trabalhar em música é o processo colaborativo. Muitas vezes, ao trabalhares com muitas pessoas, acaba por ser mais moroso mas bem mais enriquecedor.
Acaba por tirar pressão ao que estás a fazer e a música acaba por ganhar uma direção diferente também.

O disco parece explorar também novos caminhos musicais, puxando alguns balanços tradicionais portugueses para o vosso vasto conjunto de recursos rítmicos. Sentem-se a desbravar novo terreno aqui?

[Leo] Não tanto com este disco. Este álbum é a continuação de um processo iniciado com o Língua. Nesse sim, sentimos que estávamos a fazer algo diferente. Juntar Endechas a Bárbara (Luis de Camões) a um beat de semba, trazer o guitarrista de Dead Combo (um dos gajos mais fixes do meio, o Tó Trips) e misturá-lo naquelas influências todas afro em “Trips Makakas”, ou revisitar o grande Zeca Afonso. Aí sim, sentimos que foi desbravar terreno. Aliás, no momento em que começámos a fazer promoção do álbum, a coisa não pegou logo. Foi-nos recusado apoio/destaque em algumas rádios e só uns tempos depois é que começámos a ouvir alguns temas com mais regularidade. O facto de termos tocado em festivais conhecidos ajudou nessa receptividade. Mas o desbravar terreno também é sempre relativo. O facto de acharmos isso e depois haver o Criôlo de B Fachada que foi feito em 2012.

Com o Purga o processo foi parecido, aliás, com um dos primeiros temas a ser feito (ainda em 2019). O “Macieiras” começa a ser construído de uma forma muito similar ao “Cueca” (com a Maria João, no Língua). Convidar alguém já com uns aninhos disto, uma referência de um determinado tempo e criar algo que fosse diferente do seu registo original. Neste caso já tínhamos uma acapella do tema “Coro das Macieiras”, cantado por uma artista portuguesa que foi uma referência da música tradicional, e que o Ary (Blasted Mechanism) tinha gravado há uns bons anos atrás no seu estúdio. A coisa, depois, por motivos que agora não interessam, não foi para a frente, mas como já tínhamos uns adufes gravados pelo Ivo Costa (Bateu Matou), o convite feito ao Prétu e gostávamos mesmo muito do beat, decidimos continuar a investir nele. A partir daí, e como o Ivo nos tinha gravado uns 2 ou 3 takes de adufes, acabámos por ficar com uns takes a mais diferentes — dalí saiu o “Hamelin” e “Trago Montes”. Os 3 temas que podem remeter mais para esse universo. Curiosamente a Meta_ surge primeiro no “Macieiras”, mas como só lhe tínhamos pedido para “recriar” algo que já existia, decidimos convidá-la para cantar outro tema, já com uma letra dela (e que acabou por ter o poema final do Basco).

A flauta já estava presente no álbum anterior. Ainda tínhamos pensado convidar um músico muito conhecido (começa por “Rão” e acaba em “ao”) para tocar flauta no Hamelin, mas como a experiência anterior não tinha corrido bem, acabámos por desistir da ideia.

O album já está disponível nas plataformas de streaming. Terá também edição física?

Já saiu nas plataformas de streaming e terá uma edição em vinil. Somos 100% independentes, e agradecemos à GDA o apoio que tivemos para o álbum e respectivo lançamento em vinil. O artwork da Kruella d’Enfer merece uma edição física em tamanho grande.

E quanto a apresentações ao vivo? Alguma coisa programada? Vamos poder ver-vos em palco com esta gente toda?

Para já ainda estamos a trabalhar no novo formato. Visualmente também será diferente do que fizemos anteriormente. Está a ser um desafio enorme, pois estamos a criar visualmente algo bem diferente do que tínhamos feito até agora. Estar em palco com os convidades será um dos objectivos, até porque, ao contrário de anos anteriores, o COVID não nos permitiu estar juntos no processo de gravação, ou seja, estar ao vivo e podermos dar um abraço no fim de um concerto será muito lindo (e suado). Tudo isto dependerá também das oportunidades. Nem sempre será possível ter muita gente em cima do palco.


pub

Últimos da categoria: Curtas

RBTV

Últimos artigos