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Fotografia: Manuel Abelho
Publicado a: 23/10/2021

Notas azuis dignas da pista de dança.

OCENPSIEA no Lux Frágil: a brincar, a brincar…

Fotografia: Manuel Abelho
Publicado a: 23/10/2021

A quarta sessão das Noites Azuis, programação responsável por levar nomes emergentes do panorama jazzístico português até ao Lux Frágil, ocorreu na cave deste espaço, perante uma plateia em pé, sem distanciamento nem máscaras, congregada para desfrutar de um simples concerto numa noite de quinta-feira. Por mais banal que o fosse há mais de um ano e meio, presenciar este cenário já é, por si só, bastante gratificante — é o retorno a uma sensação de normalidade que ansiamos há muito mais tempo do que aquele que é na realidade.

Com a subida a palco do quarteto que responde pelo acrobático nome OCENPSIEA, deparamo-nos com um grupo de jovens músicos com camisas condizentes, mas esta indumentária não faz jus à sua sonoridade, que se afirma de uma forma clara desde o início do set apresentado na sua estreia em Lisboa: os bracarense inserem-se perfeitamente na vaga de nu-jazz que tem assolado o planeta nos últimos anos, com um pé assente em diversos estilos de música urbana (onde cabe o hip hop, a neo-soul ou a música eletrónica) e o outro fincado numa espécie de pujança pós-punk (particularmente através de um contraste de intensidades tipicamente loudquietloud bastante característico da música alternativa pós-Pixies). E esta é uma estética similar à apresentada nos primeiros discos de BADBADNOTGOOD, por exemplo.

“Triunvirato” abre a sessão por via de um teclado sincopado como todo o house clássico se quer, sustentado pela bateria potente de João Nuno, que se apresenta também enquanto porta-voz da banda, conferindo um tom descontraído e humorístico que cativou o público presente – algo bastante adequado para um grupo cujo nome é um acrónimo para “Oh Chefe, Eu Não Pedi Sumol?! Isto É Água”. Porém, isto não põe em causa, de maneira alguma, a seriedade musical dos OCENPSIEA, que no tema seguinte, “Isto É Água”, com um ritmo jungle impiedoso, eventualmente assentando numa harmonia r&b em que João Nuno e o teclista Tomás Alvarenga cantam a denominação peculiar deste projecto em conjunto com o público.

“Esquimó” e “Quadro Elétrico” destacam-se essencialmente pelos dotes do baixista Gonçalo Lopes, não só na proficiência dos seus solos como a nível de sensibilidade textural dos efeitos escolhidos para tal; este último tema é ainda surpreendente pela súbita passagem de um groove a la dubstep para um momento de swing clássico, quase como se os catálogos Hyperdub e da Blue Note tivessem aterrado no lar dos OCENPSIEA em simultâneo.

Através de “Utopia” e “Tens Fome, Come Um Home”, entramos numa viagem mais espacial e psicadélica, por via dos teclados e synths comandados por Alvarenga e Luís Lelis, este último substituindo Francisco Carneiro para este concerto — e claramente apresentando-se como um substituto à altura.

Com o próximo tema, “Mosh”, os músicos procuram puxar o público para o respetivo acto através de um tema de espírito punk que, no entanto, não desvirtua a elaborada linha de baixo que se faz ouvir pelo caminho. Quem se encontrava na plateia não cedeu ao convite apresentado pela banda, que tentou apresentar uma forma de redenção no ritmo veloz de “Dança Teixeira”, porém com o mesmo resultado.

Em “Oceanografia”, a banda joga todos os seus trunfos para cima da mesa, através de um jogo de compassos e dinâmicas que desemboca para um groove firme de hip hop, mas antes que se possa dar o concerto por terminado, “Mosh” volta a ser tocado e, desta vez, o público deixa a timidez de lado e adere à convocatória para o caos, ficando a missão cumprida para os OCENPSIEA: chegaram à capital e mostraram do que eram capazes sem nunca hesitar.


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