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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 22/10/2024

O círculo vazio seguido de uma linha grossa tornou-se um marco.

O Semibreve’24 como duração maior da música electrónica exploratória

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 22/10/2024

Esta semana começa a 14ª edição, entre os dias 24 e 27 de Outubro em Braga, do Semibreve, festival de música electrónica e artes digitais, que se tornou numa referência sobrepondo-se à própria figura rítmica que escolheu como nome. Desde 2011 vem construindo, de edição em edição, uma identidade entre concertos, instalações e encomendas a artistas da maior relevância nos campos da linguagem electrónica do hoje virado para a descoberta do amanhã. São os eixos do Semibreve e a própria música de pulsar exploratório que marcaram a Cidade Criativa para a UNESCO nas chamadas Media Arts.

A edição de 2024 arranca a 24 de Outubro, quinta-feira às 21h30, com um concerto de Kalia Vandever lá no altaneiro Santuário do Bom Jesus do Monte. A trombonista e compositora, que tem feito da abordagem ao instrumento uma identidade, terá em Braga honras de abertura em noite de concerto único para o seu registo a solo, We Fell in Turn, ainda bem fresco nos escaparates. Desde o álbum de estreia, In Bloom, de 2019, a que sucedeu Regrowth, em 2022, que Vandever, tem feito uma ascensão sem retorno no campo do novo jazz vindo de Brooklyn. O seu processo a solo é sempre muito enraizado na improvisação entre voz, instrumento e efeitos.

O Semibreve estreará de Christina Vantzou, que regressa ao festival, uma versão alargada de The Reintegration of the Ear. A compositora estará no palco do Theatro Circo dia 25 às 23h com a soprano Irène Kurka e o compositor e multi-instrumentista John Also Bennett, juntos para uma performance multifónica para fita magnética, voz, flauta baixo e eletrónica. Antes, no mesmo palco às 21h30, estará Chris Watson dos lendários Cabaret Voltaire, agora no campo de acção das gravações de campo. Watson que se apresenta com Izabela Dłużyk, que é um granate de ligação invisual ao profundo som da natureza. De salientar que a peça apresentada, Białowieża, se escutará numa sala propositadamente às escuras para uma imersão absoluta no ouvir. A noite de sexta-feira prolonga-se com as actuações — em modo clubbing — no gnration, com as prestações de PYUR (blackbox) e Nídia (multiusos), ambos com inicio marcado para as 00h30, e estende-se com Rrose às 01h15 na blackbox.

O dia 26, sábado, no que respeita a concertos tem encontro marcado, na arquitectura moderna da Capela Imaculada do Seminário Meno, com a formulação musical única do pianista e compositor Giovanni Di Domenico em confluências não ocidentais vindas de Debussy e Cecil Taylor. Em sonoridades que “evocam imagens de ruas desertas e jornadas introspetivas” para percorrer o tempo final da tarde pelas 17h30, olhando a monumentalidade depois de atravessada a floresta de madeira à entrada do espaço. O Theatro Circo voltará a ser palco maior para os dois concertos da noite. Primeiro para Shida Shahabi às 21h30, para que a compositora e pianista apresente Living Circle de 2023, o seu segundo álbum, do qual se espera ouvir em placo, algures entre o moderno e o clássico, um piano e electrónica combinados com técnicas ambient e drone. Depois, às 23h, será o momento da estreia mundial de Black como cerimónia de elogio servida por Kevin Richard Martin ao incontornável Back To Black de Amy Winehouse. Antevê-se — nas suas palavras — como sendo feito de uma mistura assombrada com jazz espectral, drone shoegaze e música ambiental dub. Depois, noite dentro no gnration, segue-se às 0h30 para a electrónica modular como nova expressão de Van Der no multiusos ou para o “nevoeiro electrónico hi-fi” com o concerto de Iceboy Violet & Nueen no blackbox. Noite que ficará selada — em modo clubbing —, a partir das 01h30, entre as prestações de Ziúr (na blackbox) ou de Saya (no multiusos).

Domingo, dia de encerramento do Semibreve, traz outra estreia mundial ao festival através de Music From The Living Monument, uma banda sonora que Carmen Villain trará para o palco do Theatro Circo às 15h. Villain que nesta banda sonora apresentará “uma partitura para um fabuloso ambientalismo que nos sugere um mundo de vagarosa movimentação”. Em seguida, no mesmo palco do Circo às 16h30, Saint Abdullah, Eomac & Rebecca Salvadori apresentam A Forbidden Distance, fazendo parte de The Crossing, primeira criação artística do projecto TIMES, comissariado pelos festivais Semibreve, Berlin Atonal, Unsound e Sónar. O fecho do festival está programado às 18h na Basílica dos Congregados com Moritz von Oswald, de volta ao Semibreve depois da performance em 2016 com Rashad Becker. Desta feita, o produtor alemão irá apresentar sua nova obra Silencio, uma composição para sintetizadores clássicos junto a um coro de 16 vozes. Esperando-se uma desafiante exploração dos campos possíveis entre o humano e a máquina, entre a razão do algoritmo e a codificada emoção.

Contudo, nesta edição de 2024 retomam-se duas peças anteriormente comissionadas. Em exibição sonora na Casa Rolão, há para ouvir Malört de Keith Fullerton Whitman. Deste compositor, também chegado de Brooklyn, há uma peça encomendada para a edição atípica de 2020 do festival que foi exibida no Mosteiro de Tibães. Uma peça que tem, nas palavras de Pedro Rocha, “as qualidades do material sonoro e a carência de resoluções [que] reforçam um tom sombrio […] a que não são alheios os tempos em que vivemos”. A matriz identitária da música de Whitman é feita de “tensão e inquietude”. The Stone Tape de Jim O’Rourke é a outra peça que contará com instalação sonora na Casa Rolão. Retomada também da encomenda para 2020, dela se pode escutar como um organismo que se desloca no tempo e no espaço e que se alimenta do próprio som, assim entendido por Pedro Santos, numa “cerimónia de cores outonais, que tingem uma paisagem formada de sugestões, insinuações e preposições.” O’Rourke que escutou Tibães antes de se fazer soar em Braga. Como programa permanente pode ser visitada a instalação Chasing Waterfalls – Hidden Edges de Myriam Bleau & Lucas Paris, prémio Edigma Semibreve de 2024 e presente no Theatro Circo. Há ainda outras cinco instalações do programa Edigma Semibreve Scholar a descobrir nas salas expositivas do gnration com Código Concreto de Tobias Gaede; Symbiophone de Jéssica Pereira Gaspar; Greenwasher de Susana Brochado + Ana Medeiros; e com tacto | contacto de Eva Barbosa.


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