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Texto: Vítor Rua
Fotografia: Vitorino Coragem
Publicado a: 10/01/2025

Melodias do vento e ressonâncias de trovoadas.

O Poder das Tempestades: A Força Elementar de Maria do Mar

Texto: Vítor Rua
Fotografia: Vitorino Coragem
Publicado a: 10/01/2025

[A Dança Elementar de Maria do Mar]

Desde Lisboa, Maria do Mar invoca tempestades de sons e silêncios, onde o violino é o fio que liga o eco dos ventos aos trovões mais distantes. Como quem atravessa florestas encharcadas e montanhas em erupção, ela desbrava territórios onde o improviso e a composição se entrelaçam como nuvens de tempestade e raios de luz.

A sua música não é apenas som, é uma corrente que desagua em torrentes de insurgência. Entrelaçada com a sua paixão pelo ensino e activismo, Maria desafia convenções, reinventando modos de partilhar a arte de tocar e ouvir. Entre colaborações com artistas como Carlos Zíngaro, Joelle Léandre ou Sei Miguel, e participações em festivais que ecoam como ventos de mudança — de Serralves ao Jazz em Agosto —, Maria cria um contínuo fluxo de possibilidades criativas.

A sua linguagem musical, de contornos tão imprevisíveis quanto uma trovoada em céu aberto, é um rio que transborda as margens, abrindo novas cascatas de som, onde o improviso se mistura com o experimental, o erudito com o selvagem. Como uma corrente que molda os contornos das pedras, Maria do Mar não apenas transforma, mas esculpe novos caminhos a cada nota, a cada projecto, a cada colaboração.

[O Primeiro Vendaval]

Na quietude das primeiras notas, Maria do Mar desenha tempestades. Desde as aulas no Externato Príncipe de Aviz, onde as cordas infantis despertaram a sua paixão, até aos ventos pedagógicos que viria a criar, a sua arte já ressoava como o sussurro do vento a acariciar montanhas. Em 1989, na Escola Carolina Michäelis, o seu violino não era apenas instrumento, mas um portal para torrentes de harmonia ainda por desbravar.

[As Cordas que Moldam a Terra]

Como um rio em expansão, Maria percorre as correntes do ensino, traçando caminhos pelos conservatórios de Cascais, Setúbal, Coimbra, e muito mais. A cada escola, a cada aluno, ela semeia florestas sonoras, criando paisagens de cordas onde o violino e a violeta ressoam como trovões em vales distantes. O eco da sua passagem forma uma sinfonia que germina e cresce, enquanto jovens músicos emergem como rios caudalosos, transportando a força que ela lhes insuflou.

[Tempestades de Infância]

Maria conhece a força indomável da natureza que reside em cada criança. Criar e dirigir orquestras infantis é, para ela, como orquestrar a dança dos ventos e das chuvas em harmonia. Desde Oeiras até ao Estoril, as suas mãos moldam correntes perfeitas, onde os violinos infantis aprendem a ecoar como trovões distantes, projectando sonhos e esperanças na vasta paisagem sonora que ela ajuda a desbravar.

[Forças em Erupção]

A colaboração com Nuno Rebelo e os projetos “Plopotpot” e “máquina do almoço dá pancadas” revelam a vertente mais experimental de Maria. Aqui, como vulcões em erupção, os sons desafiam os limites e explodem em novas formas, novas linguagens. Os arcos vibram como terramotos, enquanto o caos se organiza em beleza telúrica. A sua presença no disco Ave Mundi Luminare é uma torrente incandescente que molda a paisagem da música portuguesa.

[O Grande Arco Elementar]

Maria do Mar, a professora, a violinista, a criadora de orquestras, tornou-se uma força da natureza em si mesma. Cada estudante, cada palco, cada arco traçado no espaço sonoro é um sopro da sua tempestade criativa, onde cada nota é uma gota de chuva, cada acorde uma avalanche de som. No método Suzuki, encontrou o equilíbrio perfeito para canalizar os ventos da infância para os rios profundos da música erudita. O seu violino não é apenas madeira e cordas, mas o reflexo da força bruta e delicada das paisagens naturais que moldam a existência.

[Coda Elementar]

No mundo que Maria do Mar moldou, a música é um eco das forças da natureza, uma vibração que percorre os ventos, o ribombar da trovoada e o murmúrio da chuva. Como uma viajante que desbrava tempestades, ela continua a explorar novas paisagens sonoras, sempre guiada pelo desejo de ensinar, criar e inspirar. A sua música é, afinal, uma celebração da terra e do céu, uma sinfonia sem fim onde cada gota de chuva é um aluno, cada avalanche uma nova composição.

[Eco da Tempestade, Dança das Cordas]

Maria do Mar não é uma figura estática, mas uma rajada de vento que atravessa o panorama musical, deixando um rasto de transformação em cada palco que toca, em cada alma que inspira. O seu violino já não apenas um instrumento, tornou-se uma extensão da natureza, vibrando em sintonia com o rugido das montanhas e o fluxo dos rios. Entrelaçada no fio invisível que une correntes e trovoadas, ela desenha paisagens onde o improviso e o experimental são os elementos predominantes.

A sua obra, vasta e fecunda, desafia os limites do previsível e abre portais para terrenos onde o som é como a água, fluido e moldável, ou como o fogo, vibrante e indomável. As suas colaborações, como tempestades que se formam e dissipam, fazem parte de um ciclo eterno de criação e renovação. E assim, Maria do Mar avança, movendo-se entre as notas e os silêncios, reinventando o espaço sonoro, como quem caminha entre os ventos e as montanhas, sempre com o olhar voltado para o horizonte.

Cada arco, cada gesto, não é apenas música, é uma viagem entre mundos, onde cada som é uma semente lançada no vasto campo do desconhecido. E nós, ouvintes, somos convidados a caminhar com ela, a flutuar entre as cordas e as montanhas, num planeta que não conhece fim, apenas novas maneiras de ser descoberto.

Maria do Mar é, no fundo, a música feita matéria, uma força invisível mas tangível, onde cada nota é uma partícula da Natureza, brilhando na vastidão de um mundo que ela mesma continua a expandir.


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