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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 20/04/2022

Mais do que apenas um DJ.

O adeus a DJ Kay Slay, o pioneiro que nunca desligou o hip hop das ruas

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 20/04/2022

Era apenas um adolescente quando a cultura hip hop começou a ganhar forma em Nova Iorque. Nascido a 14 de Agosto de 1966 e criado no East Harlem, os primeiros contactos de Keith Grayson com a corrente artística que estava a surgir a partir do Bronx foram através do breakdance e do graffiti. Foi até de lata de tinta na mão que começou a criar impacto: primeiro como Spade 429 e, depois, como Dez, este último o nome que mais se notabilizou no meio, ao ponto de, em 1983, ter sido entrevistado para o clássico Style Wars, um dos primeiros documentários que ousaram retratar as várias vertentes do hip hop numa altura em que o movimento estava ainda a dar os seus primeiros passos.

Foi no final dessa década que tudo mudou no mindset do homem que viria a ficar também conhecido como The Drama King. Em 1989, Grayson era detido por posse e venda de droga e só no ano seguinte voltaria a estar em liberdade. No regresso às ruas, fez o que pôde para deitar mãos aos seus primeiros equipamentos de DJ, ferramentas que lhe viriam a abrir portas para mudar completamente as regras do game.

“O jogo estava aborrecido até eu ter chegado”, disse numa entrevista ao The New York Times, em 2003. Foi nessa altura que, já sob o alter-ego DJ Kay Slay, que deu início à série The Streetsweeper, cujo primeiro volume é, também, a peça que considera como sendo o seu álbum de estreia. Mais do que um mero DJ, Grayson gostava de introduzir os artistas que convidava, tinha um carisma enorme e era incansável não apenas na procura de novas vozes mas também na forma como conseguia aliciar alguns dos nomes mais badalados a cederem-lhe material exclusivo. The Streetsweeper, Vol. 1 e The Streetsweeper, Vol. 2 saíram em 2003 e 2004, respectivamente, e encapsulavam versos tanto de newcomers, como de estrelas em ascensão ou até mesmo de algumas lendas vivas — Fat Joe, Papoose, Eminem, The LOX, 50 Cent, N.O.R.E., Wyclef Jean ou Mobb Deep são apenas alguns numa lista de várias dezenas de colaboradores.



Parte dessa agitação que Kay Slay trouxe para cima da mesa traduzia-se, também, no ênfase dado ao tal “drama” que sempre foi inerente ao rap mas que, depois da troca de diss tracks e consequente morte tanto de 2Pac como de The Notorious B.I.G., estava estagnado. Em 2001, o termo beef voltaria a soar mais alto do que nunca, quando o DJ, ainda a ambientar-se ao mundo da rádio, conseguiu a estreia da tão esperada resposta de NAS, sob a forma de “Ether“, a “Takeover“, de Jay-Z.

Na estação nova-iorquina Hot 97, o veterano conduziu o programa semanal The Drama Hour durante mais de duas décadas e só parou em Dezembro do ano passado, quando contraiu COVID-19. Foi devido a complicações de saúde causadas pelo vírus que, no passado domingo, dia 17 de Abril, a família de Keith Grayson confirmou a sua morte, aos 55 anos.

Em 2021, o icónico DJ e apresentador tinha lançado um par de novos projectos, Accolades e The Soul Controller. Snoop Dogg, Dave East, AZ, Styles P, Jadakiss, Raekwon, Benny The Butcher ou Conway The Machine foram dos últimos a ter a possibilidade de ingressar num dos emblemáticos projectos assinados por Kay Slay. Numa dessas faixas, “Rolling 110 Deep”, de Accolades, Kay Slay conseguiu a proeza de juntar 110 rappers naquela que é, muito provavelmente, a maior posse cut de sempre da história do hip hop, com quase 40 minutos de duração — em 2020, foram 50 os MCs que atenderam à sua primeira chamada para o já megalómano “Rolling 50 Deep“.


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