pub

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 29/10/2023

Sons arrojados invadem territórios de baixa densidade.

Nuno Alves (do Space Festival): “Acreditamos que é muito importante descentralizar este tipo de música”

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 29/10/2023

A música experimental e improvisada tem vários destinos no roteiro proposto pelo Space Festival, que este ano passa por Montemor-o-Velho, Paredes de Coura, Caminha, Monção, Mondim de Basto e Lousada ao longo de mais de uma semana, de 3 a 12 de Novembro. A oferta cultural é vasta e contempla conversas, workshops, cinema, instalações e, claro, concertos ao vivo, segmento em que se destacam as presenças de nomes como Hedera 4tet, Luís Fernandes, Jorge Queijo Trio, Luís Bittencourt & Gileno Santana, Nomad Nenúfar, Luís Vicente Trio ou o próprio Space Ensemble.

Antes do arranque deste festival itinerante, trocámos algumas impressões com um dos seus organizadores, Nuno Alves, que nos fez um balanço sobre as edições anteriores, revelou o que podemos esperar deste ano e garantiu estar já a preparar a temporada de 2024.



No momento de arranque da edição de 2023 do Space Festival, e em jeito de antecipação do que poderá aí vir, deixo aqui o desafio para um balanço do trabalho feito até agora: de que forma acham que esta proposta de programação tem vindo a ser recebida nos territórios em que acontece, por um lado, e que espaço acreditam que ocupa no mais amplo mapa deste tipo de ofertas?

Tem sido um trabalho contínuo, não só nos diferentes territórios, mas também para a criação de novas sinergias e colaborações entre músicos de diferentes gerações e geografias. O Space Festival começou assim, em 1999: era sobretudo uma plataforma de encontro entre artistas para explorar as possibilidades da música experimental e improvisada. Claro que atualmente há mais propostas relacionadas com este género de música (e ainda bem!), por isso é que, quando reativamos o festival em 2021 após 16 anos de pausa, percebemos que precisava de uma nova missão. Decidimos focar-nos na divulgação deste género de música em territórios de baixa densidade, investindo sempre numa forte componente de serviço educativo e relação com as comunidades, de forma a tornar estas propostas mais acessíveis a vários níveis. Acreditamos que é um exercício muito importante: descentralizar este tipo de música, criar novos públicos, trabalhar a improvisação e experimentação musical com jovens, valorizar salas e espaços por todo o país, alguns sem programação regular… Acreditamos que é um festival que acrescenta valor ao panorama cultural a nível nacional e isso nota-se na receção positiva dos públicos e dos parceiros, que vai crescendo ano após ano. 

O Space Festival estrutura-se em torno das ideias da música experimental e improvisada. Linguagens já de si difíceis de apresentar em grandes centros urbanos e decerto mais complexas de fazer chegar a públicos pouco habituados a este tipo de propostas. Há uma ideia de missão de ruptura associada a este evento?

Sim. No caso do Space Festival, essa possível “missão de ruptura” faz-se através de propostas muito direcionadas a determinados públicos ou locais de apresentação. Não se trata apenas de programar este género de música onde menos se espera, é também um trabalho de mediação contínuo que vamos fazendo em articulação com espaços culturais, agentes locais, escolas e instituições, tendo o cuidado de ter propostas direcionadas a públicos diferentes. Temos noção que há certas propostas que podem funcionar muito bem num espaço e muito mal noutros e, consequentemente, serem recebidas de formas diferentes. Aliado a essa sensibilidade, tentamos também introduzir atividades que aproximem as populações da própria criação artística que se faz no âmbito do festival. Este ano, por exemplo, temos várias visitas de escolas a residências artísticas de novos projetos (Jorge Queijo Trio e o duo Luís Bittencourt & Gileno Santana), workshops onde será abordado o processo de criar e improvisar música e efeitos especiais sonoros para filmes (através de instrumentos eletrónicos ou reciclados) e ainda espetáculos específicos para serviço educativo ou famílias, como os filmes-concerto do Space Ensemble Um Corvo na Cidade, Piratas e Sereias, Ostras e Baleias e Cine Música, bem como algumas sessões de outros concertos específicas para escolas em diferentes localidades.

Querem apresentar-nos a edição de 2023? Que novidades existem este ano em relação a programações anteriores? Pontos altos da programação?

Os pontos altos a destacar são sem dúvida as 5 estreias no âmbito do festival: em Montemor-o-Velho, Hedera 4tet (quarteto de violinos composto por Carlos Zíngaro, David Magalhães Alves, Francisco Lima da Silva e Bernardo Aguiar), Jorge Queijo Trio (com Jorge Queijo, João Mortágua e Olivia Pinto) e a dupla Marta Zapparoli & Albrecht Loops; em Lousada, uma colaboração inédita entre Abi Feijó e o multi-instrumentista Samuel Martins Coelho no espetáculo Lanterna Mágica; em Paredes de Coura, a dupla Luís Bittencourt & Gileno Santana, dois músicos luso-brasileiros que vão estar em residência e vão apresentar o resultado em primeira mão no festival. Além do programa, acho que as principais novidades a destacar são as novas localidades e espaços (alguns menos convencionais) que juntámos à itinerância do festival. Entre 3 e 12 de novembro vamos estar em 7 territórios de baixa densidade, mantendo a passagem por Montemor-o-Velho, Paredes de Coura, Caminha e Monção, e adicionando Lousada, Castelo de Paiva e Mondim de Basto a esta viagem.

A ideia do encontro destas propostas com espaços específicos e especiais dos territórios em que se apresentam é muito importante. Como encontram esses espaços e que dificuldades têm encontrado — ou não — no momento de levarem estas propostas até esses lugares?

Temos tentado que o festival se destaque por isso mesmo: a passagem tanto por salas de espetáculo que vale a pena conhecer, como por espaços menos convencionais. Este ano, para além de algumas salas ótimas já utilizadas em edições anteriores como Teatro Esther de Carvalho em Montemor-o-Velho, Centro Cultural de Paredes de Coura, Cine Teatro João Verde em Monção e Teatro Valadares em Caminha, vamos estar também em espaços tão variados como o Favo das Artes (Mondim de Basto), o Centro Cultural de Vale do Mouro (freguesia de Tangil, Monção) ou o Auditório Municipal de Castelo de Paiva. Dos espaços menos convencionais, destacamos as três igrejas do Castelo de Montemor-o-Velho (Capela de Santo António, Igreja de St. Maria da Alcáçova e Igreja de St. Maria Madalena) e a passagem pela TOCA (um armazém que acolhe eventos em Montemor-o-Velho, com uma decoração muito fora do comum), o acolhimento da Casa Museu de Vilar (dedicada ao Cinema de Animação) em Lousada e da Quinta de Santiago em Monção (que nos disponibilizou uma Adega Antiga para um concerto muito intimista) e a utilização da Capela do Espírito Santo em Paredes de Coura. Sem as nossas parcerias locais, não seria possível usar todos estes espaços. A sua utilização vem desse misto de propormos nós uma atividade para um espaço específico, ou de serem os próprios parceiros a disponibilizar certos espaços que não estávamos a considerar inicialmente. Talvez a principal dificuldade, no meio disto tudo, seja comunicar uma variedade tão grande de espaços, pois na nossa comunicação tentamos assinalar onde é cada espaço e o tipo de acessibilidade que tem, mostrar algumas curiosidades, entre outros aspetos.

Este ano, o que é que podemos esperar do Space Ensemble?

Várias propostas! O Space Ensemble enquanto formação musical mutante que trabalha com diversos músicos vai apresentar-se assim mesmo: com vários espetáculos, em diversas formações. O Space Festival acaba por ser um momento de celebração anual do Space Ensemble e desta forma de colaboração entre artistas, que nos remete às origens do festival, onde este ensemble foi criado. Tal como nos anos anteriores, assume especialmente a programação de serviço educativo e para famílias com os filmes-concerto Um Corvo na Cidade (Castelo de Paiva e Mondim de Basto) e Piratas e Sereias, Ostras e Baleias (Monção), onde filmes documentais e de animação servem de inspiração para a improvisação musical. Além destes, vão facilitar alguns workshops para escolas e desenvolver o espetáculo Cine Música (em Caminha).

Um evento desta natureza precisa de contar com apoios institucionais. Como tem evoluído essa parte da história? Esses apoios têm crescido, têm-se consolidado ou vão encolhendo de ano para ano?

Têm crescido e têm-se consolidado, definitivamente. Aliás, não é possível fazer um festival desta dimensão (e ambição, pelas propostas disruptivas que apresenta, como falámos anteriormente), sem parceiros locais e nacionais. Este ano contamos novamente com o apoio da Direção Geral das Artes e dos Municípios de Paredes de Coura, Monção, Caminha, e do CITEC (Montemor-o-Velho). Conseguimos alargar o festival e para isso angariamos o apoio do Município de Montemor-o-Velho, de Mondim de Basto (Favo das Artes), de Castelo de Paiva e da sua Academia de Música, em Lousada da Casa Museu Vilar e em Monção da Quinta de Santiago e da Casa do Povo. Sem esquecer os nossos vários parceiros media, que nos garantem a visibilidade nacional para este festival desenvolvido em territórios de baixa densidade, e outros parceiros locais que nos ajudam de várias formas. 

Bem sabemos que estão à beira do arranque da edição de 2023, mas o futuro é algo em que já pensam?

Sempre. É inevitável. Mesmo enquanto estamos a preparar a edição deste ano, já estamos a preparar alguns detalhes para o próximo. Por exemplo, já temos novos municípios que serão parceiros na edição de 2024, assim como novos espaços identificados e confirmados. Aproximam-se as candidaturas de Apoio à Programação da Direção Geral das Artes, que é um apoio fundamental para o festival. Ao mesmo tempo, a forma como o festival corre este ano também irá influenciar a vontade dos nossos parceiros de colaborar no próximo… É um “ecossistema” que não pára e, acima de tudo, estamos sempre a pensar em formas de proporcionar experiências únicas e melhorar ano após ano.


pub

Últimos da categoria: Entrevistas

RBTV

Últimos artigos