Jason Moran marcou o arranque de 2023 editando From The Dancehall to the Battlefield no primeiro dia do ano.
Este novo trabalho apresenta-se como “uma meditação sobre a vida e o legado de James Reese Europe”. Para concretizar esta homenagem, Moran recrutou uma banda de estrelas com Tarus Mateen (baixo), Nasheet Waits (bateria), Logan Richardson (saxofone alto), Brian Settles (saxofone tenor), Darryl Harper (clarinete), David Adewumi (trompete), Reginald Cyntje (trombone), Chris Bates (trombone) e Jose Davila (tuba e helicon).
“Em 1881, James Reese Europe nasceu em Mobile, Alabama, e pouco antes da Grande Migração, os seus pais mudaram-se para Washington, D.C. porque sabiam”, começa por escrever Moran no texto com que apresenta este novo projecto que parece ser auto-editado e estar apenas dispinível, para já, pelo menos, em formatos digitais na sua página Bandcamp. “É em D.C. que James começa a ter lições de violino de Joseph Douglass, neto de Frederick Douglass, porque Douglass sabia inatamente que a libertação não só fala a partir da mente, mas também do instrumento”, explica-nos, esclarecendo ainda que “quando James leva então o seu violino para Nova Iorque, ele procura um novo som para fazer, novas pessoas com quem dividir o pão, e um novo palco para arar, pois O ‘palco’ será sempre um portal, um lugar para testar o que é real e surreal”.
“O que ele percebe é que deve ser exigido um respeito no palco e fora dele, o que culminou numa associação de músicos negros chamada The Clef Club. É a humanidade que eu ouço nestas canções e nas suas bandas. Quando James reuniu 125 músicos para trazer a sua marca de sincopação ao Carnegie Hall, a nova batida tinha chegado. Porque a sincopação é uma questão de urgência, empurrando a batida para a frente para aplicar a antecipação do downbeat, uma perspectiva que é inerentemente futurista”, argumenta Jason Moran.
Numa mensagem aos seus seguidores na plataforma Bandacamp em que dava conta do novo lançamento, o músico agradeceu a Randy Weston, pianista que desapareceu em 2018 e que terá sido o primeiro a apontar-lhe a importância da obra de James Reese Europe: “Weston levou-me à sua casa em Brooklyn, uma tarde em 2013, e partilhou comigo o legado de James Reese Europe. Weston falou com tanto cuidado e humildade sobre um homem que ele nunca conheceu. O que ele partilhou então levou tempo a ser processado, e agora eu tenho o fruto para partilhar”, revelou Moran.
O título desta homenagem de Jason Moran referencia o facto de James Reese Europe ter participado na Primeira Grande Guerra, servindo como parte dos Harlem Hellfighters, um regimento de infantaria que lutou lado a lado com o exército francês. Em Fevereiro e Março de 1918, Reese Europe também liderou uma banda militar em várias apresentações em território francês sendo, por isso mesmo, um dos primeiros músicos negros americanos de jazz a realizar uma digressão em solo europeu. Quando voltou, James Reese Europe declarou que a sua experiência em França o tinha convendico de que “negros deveriam escrever música negra. Temos o nosso próprio sentir e se tentarmos escrever música que copie as criações dos brancos só faremos más cópias”. James Reese Europe faleceu em 1919, mas mais de 100 anos depois do seu desaparecimento o seu inovador espírito continua a inspirar novas criações.