[TEXTO] Diogo Santos
Jason Chung aka Nosaj Thing não lançava um longa-duração desde 2015, altura em que lhe roubaram material de trabalho, acontecimento que até terá apressado a edição de Fated. Agora, em 2017, regressa com Parallels numa roupagem bem mais contemplativa e a piscar ao olho a sonoridades ambientais. É, e vamos lá sem falinhas-mansas, um dos produtores mais proeminentes da Beat Scene de Los Angeles, levando uma “crise de identidade pessoal e musical” para este novo trabalho – palavras do próprio.
Após três álbuns claramente marcados pelo “som” da Beat Scene, Nosaj Thing joga-se à exploração de outros territórios sonoros. Nestas andanças desde 2006, e já com colaborações com Kendrick Lamar, Kid Cudi ou, mais recentemente, Chance The Rapper, o Nosaj de Parallels parece aqui aproximar-se mais do estilo de produtores como Four Tet, locais exóticos onde nem sempre é o beat quem mais ordena. É uma sonoridade mais aberta à interpretação. “Nowhere” é mesmo um hino a quem está perdido. E “All Points Back to U”, single em que sobressai a voz de Steve Spacek, é o som de um club futurista de uma civilização meio marada à Philip K. Dick – tal e qual como “U G”. E até “Form”, composição que não envergonharia Oneothrix Point Never. Ainda na primeira metade, há “How We Do” e o regresso da magnífica voz de Kazu Makino aos discos de Nosaj Thing. Recorde-se que, em 2013, a senhora dos Blonde Redhead já havia colaborado com o produtor de Los Angeles.
“Get Like”, a abrir portas para a segunda metade do registo, deverá ser a maior aproximação ao hip hop em todo este Parallels. Logo para depois se seguir “TM” e um novo abraço à electrónica que dá espaço para respirar e magicar cenários. E histórias de amor, como na surpreendente “Way We Were”. Por esta altura já não deverão ser estranhas a densidade e nebulosidade de Parallels. Contudo, quase a fechar, “IGYC” faz o favor de nos recordar que estamos perante um Nosaj Thing em busca de outras dimensões. Num disco com o produtor californiano a olhar quase sempre para terrenos por explorar, não deixa de ser curioso que a interessante “Sister” faça cair o pano de Parallels com uma composição que não destoaria nada se fizesse parte das edições de Jason Chung ali pelos anos 2009 ou 2010.
Sendo um exercício de exploração e de procura de outros universos, Parallels não deixa de ser parte da nuvem de ideias que caracteriza o trabalho de Nosaj Thing. Na verdade, e de forma mais ou menos evidente, sempre se aproximou de infinito, do vazio… Aqui, da faixa 1 à faixa 10, quase que nos sentimos na presença de um ser solitário, porém, focado. Em Parallels não há a urgência de cativar ao primeiro loop ou ao primeiro baixo mais proeminente. E esta é uma característica nova num dos mais interessantes produtores da última década.