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Fotografia: Jaime Pereira
Publicado a: 23/01/2024

Programação especial nos 25 anos do Núcleo de Apoio às Artes Musicais.

Noiserv, Agaton e Pineal Glance no NAAM: há magia em Barroselas

Fotografia: Jaime Pereira
Publicado a: 23/01/2024

Atravessava o Minho e chegava às terras do Neiva a caminho de Barroselas que, para a música, está como terra-mãe do mais carismático evento do bairro do heavy metal e suas vizinhanças, o SWR BARROSELAS METALFEST. 

Era, de facto, a música e a mesma entidade programadora que me levavam lá, mas algo mais se levantou e permitam-me, desde já contextualizar. A NAAM – Núcleo de Apoio às Artes Musicais celebra o seu vigésimo quinto aniversário (1999 – 2024) em Dezembro deste ano e do que vos vou escrever hoje é o início dos próximos dois anos de programação cultural e do seu primeiro evento, também ele, num novo espaço.

O SWR BARROSELAS METALFEST passou por crises, anos de pandemia, tantas aventuras e atinge as vinte e cinco edições em Abril 2025. Para celebrar este legado precioso a NAAM, e o seu pessoal, desenhou vinte e cinco eventos no novo espaço cultural DINAAMO, em Barroselas, durante os próximos dois anos (2024-2025) com uma periodicidade mensal.

Esta é forma encontrada de trazer à vila uma programação cultural alternativa, oferecendo aos seus leais seguidores e, simultaneamente, cativando novas massas de público aos seus eventos. Com um design atrativo com detalhes sazonais e alguma magia de Hieronymus Bosch, a primeira leva trimestral começaria este sábado, 20 de Janeiro, com Agaton, Noiserv e Pineal Glance. Seguem-se concertos duplos de HHY & The Macumbas com O Gringo Sou Eu, 12 de Fevereiro, e de JP Simões com The Nancy Spungen X, dia 9 de Março.

Absorto nos meus pensamentos e na bela paisagem que me rodeava, chegava ao complexo das piscinas de Barroselas onde a NAAM tem o seu novo espaço. A azáfama de montagens de palco e soundcheck estavam em curso. Noiserv, com os seus parceiros de viagem, estavam na montagem do cubo de luz com que abrilhanta os concertos. A comitiva sueca, e os portugueses, conversam sobre as bucólicas paisagens hiemais minhotas.

Já de noite, e com a casa bem preenchida, Agaton despertou as atenções com os primeiros acordes de “About Beyond”. Não foi surpresa quando a sonoridade se encaixou ao sentimento hibernal e a voz de Beata Dahlberg produziu um feitiço por toda a sala. Toda a sua composição assenta em música electrónica e este, um dos dois projetos da noite, é parte integrante da sueca Mara Sounds

A casa estava conquistada e as músicas prosseguiram, com os ritmos de Marcus Andersson, os teclados de Mats Danielsson e Richard Lindström, as melodias “Simple Things” e “Harpshaped Feelings” de uma pop eletrónica de requinte. Beata é dona de uma voz que transporta um quê de “Teardrop” (Massive Attack – Elizabeth Fraser), o que nos impele a atenção com minúcia.

“Gone Bold” e “Grey”, trazem-nos a segunda voz, por Mats Danielsson, Beata fala-nos da forma como a banda se sente bem recebida em Portugal, de como toda a gente com quem lidaram foi tão hospitaleira. Não podemos deixar de admirar que projetos tão recentes possuam uma carga de profissionalismo tão boa. A plateia que veio, na sua maioria, ver Noiserv, balançava através destes contos nórdicos. O concerto de Agaton terminava com “Sum of Best” numa atmosfera de encanto e leveza, o que deixava o pronuncio de um grande futuro para tão jovem projecto.



Era a vez de Noiserv, David Santos, subir ao novo palco da NAAM, e fê-lo na quente recepção de uma sala cheia de gente que o adora. Hoje em dia são pais, mães e famílias, e muitas delas fizeram questão de se fazer representar na sua totalidade. O concerto iniciava com “Eram 27 Metros de Salto” e interrompeu-se para que o David fosse ligar o candeeiro, que tinha esquecido — “não fosse ele dar azar”, disse. 

“Palco do Tempo” seria a segunda música da noite – do nunca ter tempo, porque é assim que nos ensinam e assim acaba por acontecer. Conta-nos enquanto prepara as suas ferramentas-instrumentos-brinquedos para o que aí vem e o antigo Verbzilla faz-se notar na melodia dada pelo acordeão vermelho.“Sem tempo” respira o que é o terceiro momento de Noiserv e deixa-nos quase sem fôlego. Há um espetáculo que acontece e fascina o público numa jiga-joga bem engendrada e “Mr. Carousel” vem a seguir, como quem nunca chega a lugar algum sem parar, e faz os petizes, na sala, levantarem as cabeças de curiosidade — donde vem este som que tanto os atrai? 

Chegaria o contra-verso bamboleante de “Sad Story”, não há ninguém que esteja realmente triste e quase toda a gente acompanha. “Dezoito” e “Neutro” traziam o esquecimento do Inverno lá fora e os dois graus que se faziam sentir zero, num sossego familiar e aconchegante. Haveria sempre alguma coisa para contar entre as músicas, umas com piada; outras com carinho; outras intrincadas na filosofia como a conhecida “música dos comboios” que finta a inércia e o movimento. 

“This Is Maybe The Place Where Trains Are Going To Sleep At Night”; “I Was Trying To Sleep When Everyone Woke Up”, da amizade de quem nos deixa dormir, ou nos acorda quando é preciso, em jeito valsado, rematando em “Don’t Say Hi If You Don’t Have Time For a Nice Goodbye” a importância dos bons fins de tudo. Finava assim esta hora, que foi mais, com Noiserv.

Foi bom ver o David Santos (Noiserv), outra vez. Um dia o David foi um rapaz e logo, nos primeiros tempos, se percebia que ali habitava algo de muito especial e profundo. Hoje, o David é um homem, tão bom músico como profissional, afável, com os olhos felizes.

Chegariam, para última actuação, os escandinavos Pineal Glance, que já tínhamos visto em palco com Agaton. Marcus Andersson e Mats Danielsson formam outro projeto, este instrumental, muito mais dançável da Mara Studios Colective (Mara Sounds Label). Sem qualquer álbum lançado, ainda, e qualquer nome para as músicas que tocaram, encheram a sala de boa energia e disposição para que os mais noctívagos desfrutassem havendo lugar à libertação dos ossos até aqui contidos em poesias de ondinas e faunos das florestas de Barroselas. Soube bem a cerveja artesanal, exclusiva da casa, e os abraços dos guerreiros do Norte! 

Há uma magia aqui e uma programação que vale a pena visitar.


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