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Fotografia: madalena.pt
Publicado a: 10/03/2022

Novas (e alternativas) vozes.

NIGIRI ICE: “Lançar a mixtape era algo que ansiava há muito tempo”

Fotografia: madalena.pt
Publicado a: 10/03/2022

NIGIRI ICE é o nome com que Maria Medeiros assina o seu projecto difícil de rotular, mas que se inclui na esfera do trap mais abrasivo e desconstruído. Depois do lançamento de “MOLLIPARTI“, há dois anos, com o seu irmão DRVGBOY e UM6RA, foi participando em músicas aqui e ali e, no meio destas “avarias”, houve sempre uma abordagem ou um flow que não encontramos facilmente noutro sítio em Portugal. No início de Fevereiro, a artista do Algarve apresentou-nos MOCHI, a mixtape que deita cá para fora aquilo em que andou a trabalhar nos últimos anos. Para além disso, contribuiu ainda com a faixa “Swarovski” para Memory Palace, compilação da Mãe Solteira Records.



A primeira vez que te ouvi ao vivo foi no concerto de apresentação do Kenny Berg. Antes disso apenas conhecia a “H2O“, que fizeste com o DRVGBOY. Como é que surgiu essa vontade de pegar no microfone?

Desde pequena que a música está presente na minha vida, aos cinco anos a minha mãe inscreveu-me a mim e ao meu irmão (DRVGVOY) na academia de música de Tavira, onde comecei a aprender a tocar piano. Algum tempo depois aprendi a tocar clarinete, para além disso tinha aulas de coro e canto, tudo isto na vertente da música clássica, marcando assim uma fase da minha vida. Sempre gostei de cantar e de tocar piano, fosse em concertos na igreja ou em eventos que faziam na escola. 

Anos mais tarde, o meu irmão começou a produzir música e houve uma altura em que começou a fazer beats mais focados no trap , e foi assim que ele e o meu namorado (DRATI) e o KIMERA começaram a juntar-se na nossa casa e passavam as noites a gravar. Eu, como espectadora, achava tudo isso muito divertido e interessante, ver pessoas próximas a unirem-se e a criarem algo único e diferente, fascinava-me o facto de conseguirem tornar a língua portuguesa em algo que soasse bem e que não fosse corny.

Numa noite em que eles estavam a gravar, eu comecei a escrever algumas letras nas notas do telemóvel e finalmente perguntei: “posso entrar também neste beat?”

Associo-te a uma onda mais experimental do SoundCloud. Um desbravamento de limites estéticos e sonoros em que não há muita gente a explorar: qual é o papel da singularidade estética na música que partilhas connosco?

Sempre achei difícil encaixar a minha música em uma categoria, e os momentos em que me deparo mais com isso é quando faço o upload da minha música nas plataformas e há sempre aquela opção onde tens de selecionar a categoria onde se insere [risos].

Da mesma forma em que aprecio ouvir diferentes estilos de música, acontece-me o mesmo em criar música, muitas das vezes quando estou com o meu irmão à frente do pc ele pergunta-me: “o que estás a sentir hoje, qual é a vibe? Cute? Hard?”, e a partir da resposta de como me sinto nesse dia ele faz o beat. E é nesse aspecto que penso que todas as minhas músicas, apesar de terem pequenas semelhanças, são todas celebradas em momentos diferentes em dias diferentes com emoções diferentes. 

Para já escutámos uma mixtape, estas faixas todas que lançaste terão sido desenvolvidas ao longo dos últimos dois anos, não? Como descreverias o processo  de olhares para o que tinhas feito e juntares tudo para publicar?

Apesar de se terem passado dois anos parece tudo tão recente ao mesmo tempo. Não podia estar mais feliz com o lançamento da mixtape, foram músicas que foram gravadas ao longo do tempo e sentia que tinha que fechar este capítulo. Depois de ouvir as músicas em repeat tantas vezes começamos a duvidar um pouco de nós próprios e havia músicas que já não me identificava tanto e que ponderei em tirar, mas, ao mesmo tempo, pensei que se as retirasse estava a retirar também uma fase da minha vida. 

Lançar a mixtape era algo que ansiava há muito tempo, porque no final do dia as pessoas podiam ouvir-me em concertos mas se quisessem ouvir em casa ainda não tinham essa opção.  

A pandemia é intrínseca à história dos dois últimos anos. Como é que o navegar entre produzir música e apresentá-la ao público foi influenciando este período de tempo?

Posso dizer que a pandemia ajudou-me de forma positiva em produzir música e apresentá-la ao público. Depois da minha licenciatura em Design de Moda, fiquei com algum tempo livre e, como eu e o DRATI estávamos a passar a quarentena juntos, decidimos comprar o nosso microfone para podermos finalmente gravar juntos. E havia semanas entre Porto, Lisboa e Tavira em que eu e o meu irmão nos encontrávamos para fazer música. 

O sector da música foi claramente prejudicado pela pandemia, muitos concertos com artistas internacionais foram cancelados, o que é mau, mas que por outro lado penso que deu mais oportunidades em apostarem e procurarem artistas nacionais, [que foi] o que aconteceu no meu caso. 

Tu abordas vários géneros musicais na construção da tua mixtape e colaboras com vários artistas que também manipulam limites do experimental. Quem são estes artistas? O que é que representam para ti na construção da cena experimental do SoundCloud português?

São das pessoas mais importantes na minha vida, comecei a fazer música porque todos eles me influenciaram. Vê-los ao vivo a exporem a sua arte deixava-me extremamente emocionada e orgulhosa.

Para mim eles são o significado da música underground tuga, eu não sou muito fã de música portuguesa, no geral, por isso o facto de eles terem aparecido mudou a minha perspectiva toda, por serem genuínos e terem todos uma identidade muito própria visível e presente nas suas músicas.

É muito gratificante ver que somos todos diferentes, mesmo a nível musical, mas que nos completamos e que conseguimos criar algo novo e refrescante. 

Quais são os teus próximos planos para 2022, já há álbum no horizonte? Estás a colaborar com alguém a produzir nova música?

Para 2022, o meu objetivo é tentar ser mais constante nos lançamentos das minhas músicas, lançar mais music videos e dar mais concertos. Tenho algumas pessoas em mente no que toca a colaborar. E em relação a álbum vamos ver… [risos]

Para quem lê, o que é que tens ouvido ultimamente? Quem é que se destaca e porquê?

Tirando o pessoal amigo da underground scene tuga, a nível internacional duas artistas que não consigo viver sem a música delas diria [que são a] Coucou Chloe por produzir beats super club desconstruído que já por si são incríveis como os completa cantando por cima deles. Ouvia-a uma vez ao vivo no Pérola Negra, no Porto, e fiquei fascinada de a ver sozinha em palco sem depender de ninguém. Eu adorava também saber produzir, sinto que se pode explorar muito mais a nossa voz e utilizar efeitos. 

A outra é a incrível e super underrated é a HOOK e creio que a música dela influenciou também a minha, por ser uma artista que tanto consegue fazer músicas mais soft e melódicas como um trap super agressivo.


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