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Publicado a: 30/11/2015

Nicolas Godin: “Procuro sempre que a minha música seja sensual e sexy”

Publicado a: 30/11/2015

[ENTREVISTA] Rui Miguel Abreu [FOTO] Direitos Reservados

 

A carreira dos Air é extraordinária. No ano em que se completam duas décadas sobre a edição do clássico EP Modulor Mix, que haveria de merecer lançamento internacional na Mo’ Wax de James Lavelle em 1996, Nicolas Godin avança pistas para um futuro pós-Air, deixando entender que de certa forma o projecto se esvaziou. De facto, os Air têm uma muito preenchida carreira discográfica, com oito álbuns de originais lançados desde 2008, começando em Moon Safari, registo pioneiro em que se colou a paixão pelo easy listening e os clássicos discos de sintetizadores de arranques dos anos 70 e uma declarada vertente pop que garantiu uma sonoridade bem original que serviu de pilar a uma bem sucedida carreira, e terminando em Music For Museum que data já do ano passado.

Godin refere agora que não faz ideia do futuro discográfico dos Air e que a sua procura por novos desafios o conduziu a Contrepoint, álbum que toma o universo clássico de Bach como ponto de partida para uma aventura que navega nas margens do prog, de algum jazz mais barroco e de uma pop electrónica de recorte elegante.

A entrevista teve lugar à beira do palco do Tivoli, um par de horas antes do seu concerto no Vodafone Mexefest.

 

Vejo um grande piano no palco…

Sim, um Steinway Grand Piano.

É o Rolls Royce dos pianos. Vejo também um Fender Rhodes, que mais?…

Há um Moog Source no topo do Fender Rhodes. É um Moog muito importante porque tem lá alguns presets, o que é muito raro com Moogs. Podes memorizar até 16 presets.

Como é que descreverias o som que estás a explorar em Contrefeit? É algo entre clássico e rock? É prog-rock? É música electrónica clássica?

Sabes, o meu problema é que não sei descrever o que faço. Recordo-me de apanhar táxis com a minha guitarra e pessoas perguntarem-me, ‘és músico, que tipo de música fazes?’. Nunca soube responder. Prog-rock é demasiado sério, procuro sempre fazer algo sensual e sexy, porque é algo muito importante para mim na música e prog-rock é demasiado sério, há pouca sensualidade. Na maioria das fazes faço música instrumental e procuro que não seja aborrecida. É o meu objectivo e é simples (risos).

O teu álbum parece um daqueles filmes em que não podemos sequer pestanejar sob pena de perdermos um qualquer pormenor importante.

É uma questão de respeito, creio que as pessoas são inteligentes o suficiente para ouvir esta música. Não têm de ouvir coisas simples, confio que são capazes de ouvir música boa. É a minha fé no futuro da humanidade.

 


 

 


Acreditas que a música que fazes agora se prende também com uma questão de maturidade?

Creio que sim. Eu fiz este trabalho durante uma crise de meia idade, quando cheguei aos 40. Isso terá algum significado, eu não poderia ter feito isto quando era mais novo, até porque estive a aprender música clássica até há pouco tempo. Implica de facto ter alguma experiência. Dei algumas das músicas a escutar aos meus filhos e até na primeira faixa procurei que soasse a um jogo da Nintendo, para os procurar captar.

Porquê Bach como ponto de partida?

Pareceu-me mágico. Quando ouvi Bach soou-me à raiz da própria música. Não que descarte Chopin ou Debussy, mas Bach pareceu-me original face a muitas coisas com que crescemos. Acho que cresci na música e Bach foi determinante para procurar uma maior sofisticação nos meus arranjos.

Ele delineou as regras básicas, como o que os Beatles fizeram com a música pop?

Exactamente, ou Bob Marley com o reggae. Há sempre alguém que começa tudo.

Sentes que também começaste algo?

Não, não creio. Acho, sim, que criei algo original. Tu consegues reconhecer ao fim de dois segundos uma música dos Air. Eu tenho as minhas músicas e o meu estilo, acabei por encontrar um espaço que ninguém encontrou, mas não comecei nada. Depois de ouvir os amigos Daft Punk, encontrei muita gente a tentar copiar o estilo, mas com os Air não me parece que tenhamos começado nada porque ninguém nos consegue copiar. Nós estamos sempre numa zona perigosa, estamos sempre a surfar em ‘mau gosto’ e às vezes quem procura seguir uma faixa nossa acaba por cair em ‘mau gosto’. Estamos sempre no limite.

O que será o futuro de Air?

O meu problema com os Air é que agora somos uma banda velha. Como fã de música, vejo que todas as minhas bandas favoritas que atingem este ponto acabam por preferir os discos antigos. Então, não sei o que fazer. Se não encontrar uma grande ideia para fazer um novo disco, então vamos em tour, mas sem nenhum material novo. Mas temos de encontrar algo. Está em aberto. Não somos uma banda nova, mas também não somos velhos. Estamos ali no meio da transição.

Há duas semanas aconteceu algo dramático em Paris. Para alguém que vive uma vida a tocar em diversos palcos e a fazer música, a trazer felicidade às pessoas, como é que um artista como tu reage a uma coisa destas?

Neste momento sentimo-nos nauseados. Sentimo-nos estranhos e que precisamos de tempo para recuperar.

 

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