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Publicado a: 12/10/2020

O bode e o fantasma.

NERVE: “Adaptar-me a circunstâncias adversas não é coisa que me seja novidade”

Publicado a: 12/10/2020

“Caem no chão como o respeito que eu por ti não sinto/ Tento mas não consigo ouvir-te porque és ridículo/ O teu máximo é o meu mínimo/ Deixa ver se simplifico”. NERVE parte dos “100 Insultos” de VRZ e convida Ghost Wavvves para o acompanhar neste “MÍNIMO” que é um exercício de técnica e uma mostra assinalável de quotables que impõem respeito e metem em sentido qualquer MC cá do burgo.

Este é o segundo tema de Tiago Gonçalves em 2020 e a primeira vez que rima em cima de um instrumental do produtor da Monster Jinx, um encontro que, pelo resultado obtido, deveria ser apenas o início de uma próspera relação musical.

Entre os “pigmeus”, a “letra daninha” e o “burro de merda”, o autor de Auto-Sabotagem esmera-se e nem precisa de transpirar (ou de se chatear). E já sabem: “Uns são melhores com números, outros são melhores com letras”.



Começando por este primeiro encontro com o Ghost Wavvves: estava para acontecer há muito tempo rimares num beat dele ou é uma paixão recente?

Já conheço o Ghost há uns anos e desde o início que falamos dessa possibilidade. Só calhou acontecer agora por nenhum motivo em especial. Ele enviou-me uns instrumentais que achei incríveis e um deles usou-se para esta faixa. Talvez ainda lhe mate mais uns.

A “faca” estava mais afiada do que nunca para escreveres a letra deste tema — cuidado com as cabeças, nunca é demais avisar. Na “Tríptico” falas de não tropeçar em tubarões enquanto caminhas nas águas, enquanto na “Mínimo” dizes que no fim tudo é filho teu. Ou “que uns são melhores com números, outros são melhores com letras”. O que é que te chateia mais? Tubarões alimentados pelos números (e sem grande esforço ou talento para a escrita) ou os novos miúdos que se acham ao nível apesar de terem acabado de chegar?

Na verdade, já pouco me chateia. Há é muito que acho engraçado, ainda assim. Para pôr a coisa em perspectiva, quão caricato seria eu andar para aí a bater-me que tenho números incríveis de visualizações, streams, vendas, etc? Seria hilariante, certo? Porque claramente eu não sou o gajo dos números. No fim do dia, se calhar seria até meio desrespeitoso para os gajos que realmente trabalham para ter bons números e conseguem. Pronto. Ao contrário, acho igualmente ridículo. Só isso. Portanto, só para reforçar, eu não ando aí chateado com ninguém, acho só algumas posturas meio engraçadas, vá, mas isso também é bom para servir de entretenimento e certamente eu também sou o mesmo para muita gente. Acho que cada um deve fazer a sua cena e ser feliz como conseguir. Nada contra quem tem bons números, nada contra quem acabou de chegar. Há até por aí tipos excepcionais que além de bons números têm boas letras. Não nego isso. Mas é um meio engraçado. Sempre foi.

Provavelmente estarás mais interessado em esmerar-te e autocentrares-te para melhorares em vez de andares a reparar no que outros fazem ou não, mas há alguém da nova geração que seja mais do que um “pigmeu” para ti?

A rima em que digo “pigmeu” é um bocado específica. Não representa o que penso sobre todo e qualquer newcomer. Claro que há talento na nova geração. Olhem o Il-Brutto, por exemplo.

Deste recentemente uma espécie de concerto na Estação Minhoca. Como é que te sentiste a voltar a interpretar os temas ao vivo e de que forma é que isso matou um bocado o “bicho” de actuar?

Um showcase. Foi bom voltar a apresentar-me em público mas, considerando as circunstâncias e a super reduzida plateia, serviu quase como um exercício de treino para voltar a entrar nos eixos. Foi diferente, foi relaxado e adorei o espaço. Hei-de fazer lá mais coisas.

Imagino que a pandemia te tenha trocado bastante as voltas. Em que pé é que está ESCALPE e que outros planos tens para os próximos meses?

Adaptar-me a circunstâncias adversas não é coisa que me seja novidade. Acredito que colegas mais habituados a uma situação de conforto tenham sentido o contraste mais que eu. Quanto a novos planos, as sessões de PURGA têm agora nova casa na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa e vão manter a periodicidade mensal. Além de PURGA, no próximo mês vou ter outra data a solo num espaço onde irei manter uma curadoria também mensal. Quanto a ESCALPE, em breve conversamos.


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