[TEXTO] Rui Miguel Abreu [FOTOS] Direitos Reservados
Tendo em conta o justo estatuto de veterania do NEOPOP e o seu invejável role de cabeças de cartaz acumulado ao longo de muitos anos de militância não é descabido este reclamar do título de “capital do techno” para Viana do Castelo, pelo menos entre 8 e 12 de Agosto, que logo depois entram as festas da Nossa Sra. da Agonia e a música passa a ser outra.
No dia de arranque desta décima edição enquanto NEOPOP (o festival decorre há mais tempo — antes designava-se como Antipop), St. Germain era o óbvio destaque. O veterano projecto do produtor francês Ludovic Navarre assinou uma histórica passagem pelo Lux, em Lisboa, há mais de uma década, momento especial que certamente ainda perdura na memória de muitos dos presentes ontem à noite no Forte de Santiago da Barra. Certamente perdurará na de Rui Vargas, eterna cabeça de cartaz do mítico clube lisboeta a quem coube a responsabilidade de antecipar a subida ao palco de Ludovic Navarre e da sua banda.
A tarefa não foi facilitada pelo tempo, com uma inesperada chuva a “abençoar” todos os que rumaram a esta capital electrónica. Vargas, como é seu hábito, respondeu com a classe que domina há anos, tocou o som sofisticado que lhe garantiu a longevidade de que goza e deixou a multidão bem preparada para o que se seguiu.
Navarre trouxe consigo músicos do Brasil e do Mali, de Guadalupe e da Martinica: bateria e percussão, um saxofonista que se dividiu entre o soprano, o barítono e a flauta, guitarra e kora e ainda teclados serviram para pintar as bases clássicas de temas como “Rose Rouge” ou “Hanky Panky”, sempre com amplo espaço para que os músicos exibissem a sua destreza nos respectivos instrumentos.
O concerto abriu com os sons envolventes e hipnóticos das cordas tradicionais do Mali, espécie de declaração de intenções de um músico que sempre se integrou bem na histórica banda sonora de Paris, cidade que soube acolher o jazz e o disco, que foi palco de revoluções electrónicas e que é alvo de muitas diásporas africanas, acabando por isso por acolher também a doce ondulação dos blues do Mali.
Ludovic viu-se recentemente obrigado a cancelar as datas que ditariam o seu regresso aos palcos devido a problemas de saúde e a passagem pelo NEOPOP dita o seu efectivo regresso, o que só revestiu o seu regresso a Portugal de um carácter ainda mais especial. Discreto na sua posição de “maestro” com a mesa de mistura por batuta, Ludovic Navarre carimbou com classe esta primeira noite vivida na capital do techno. Ainda que mais perto de Bamako do que de Detroit, o apelo do seu groove não deixar de ser irresistível.
Mais logo promete-se aceleração de batidas nos palcos NEO Stage e Anti Stage e as previsões são de bom tempo, pelo que se adivinha festa rija neste arraial electrónico que liga esta cidade onde em tempos se fizeram muitos barcos a outra onde também em tempos se fizeram muitos carros. Em ambos os casos, uma certeza: a música é mesmo a indústria do futuro.