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Fotografia: Inês Condeço
Publicado a: 02/03/2020

Aura é o primeiro EP de Marlene Tavares.

Nenny: “Nunca sou uma coisa só. Essa é a Nenny”

Fotografia: Inês Condeço
Publicado a: 02/03/2020

Se no final de 2018 nos tivessem dito que o ano que estava prestes a começar seria aquele em que uma adolescente de 16 anos surpreenderia tudo e todos com a sua música, poucos seriam aqueles que entrariam realmente com dinheiro nessa aposta. A verdade é que, praticamente 365 dias depois, Nenny mostrou-se com temas que acumularam dezenas de milhões de plays no YouTube, subiu a palcos como o do MEO Sudoeste, conquistou Portugal e uma grande massa de público lusófono e, acima de tudo, reuniu o consenso dos pares.

Ao mesmo tempo, suscitou dúvidas, surpresa e gerou curiosidade. Quem é? Que idade tem? Será que tem mesmo 16 anos? De onde vem? Quem está por trás? Deve ser prima de alguém, não? O que será que vai lançar a seguir? É ela quem escreve as canções? Muito se perguntou e mais ainda se especulou. Pouco apareceu. Ou aparecia. Entrevistas foram raras até ao final de 2019 e as redes sociais serviram, essencialmente, para promover o que realmente importa: o trabalho que não parou de chegar. A estratégia parecia simples: permitir-se fazer o que a vontade pede com a maturidade e o cuidado que a adolescência exige. No domingo que passou, a artista lançou Aura, o seu primeiro EP, que servirá de base para as actuações em festivais como o Sumol Summer Fest, por exemplo. Dias antes deste lançamento, Marlene sentou-se no estúdio onde criou as canções que agitaram o panorama nacional para uma longa conversa com o Rimas e Batidas.

Vinha a pensar: quando nos conhecemos, no Verão de 2018, aqui no estúdio do Charlie Beats, estavas a escrever a tua primeira faixa, a vibrar com as primeiras audições…  Mudou, não?  Mudou! [Risos] Entretanto já lançaste seis faixas. Como é que foi este ano? Muita coisa mudou, sim. Cenas novas a acontecer, e… Tem corrido tudo bem até agora! Estavas à espera? Não. Não estava mesmo nada à espera… Nessa altura em que estavas aqui, sentada neste sofá, a tua expectativa qual era? Eu nem sei! Nas primeiras vezes que vim eu pensava que ia só visitar o estúdio, ter uma noção do que era e depois bazar! [Risos] E afinal não. Afinal, 2019 ainda tinha muita coisa para acontecer.  Mesmo nas primeiras vezes que aqui estiveste, não havia uma estratégia propriamente dita… Não, nunca houve. Foi sempre pelo feeling! O que acontecer, acontece. E mesmo para a “Sushi”, eu só estava ali a “dropar”, mesmo. Não tinha expectativas nenhumas. Se tiver que sair sai e se não, tudo bem. Foi muito genuíno.  Um ano depois, pensas de forma diferente, de alguma maneira? Sim. Já penso de forma diferente. Agora as coisas são um pouco mais calculadas antes. Algumas! [Risos] Às vezes venho aqui com uma letra, gravo e pode acontecer ou não. Faço a minha cena. Como é que esse processo se desenrola? Como não vivo cá, estou a morar no Luxemburgo, o produtor manda-me os beats, eu escrevo em casa e quando volto venho ao estúdio e gravo. Tento melhorá-los de alguma forma. Já estou mais experiente até em termos de como se estrutura uma faixa, claro, e isso vem com a prática.  E em termos de outras estruturas? De vida, por exemplo. Aos 17 anos já tens que pensar que tens que encaixar o teu trabalho nas tuas férias da escola, dar entrevistas, sessões de estúdio…  Quem me ajuda nesse processo é o meu irmão. Eu não trato muito disso! Eles tentam sempre planear entrevistas, gerir essa agenda. Quando sei o que tenho que fazer vou lá e faço! Organizo-me e venho.  Lidas bem com isso? Tem sido cansativo, mas temos que trabalhar. Tem que ser!  É algo que te sai naturalmente ou nem é algo que gostes muito de fazer mas que sabes que faz parte do processo? Eu vejo isso como algo que tem que ser feito, sim. Tranquilamente. Faz parte do meu trabalho. E encaro isso bem. “Vamos fazer uma entrevista? Baza!” Nunca penso demasiado! Acho que nunca se deve pensar demasiado nas coisas. É fazer e pronto! Em relação às seis faixas que lançaste, que são bastante diferentes entre si, são uma experimentação tua, no sentido de encontrares a sonoridade em que melhor te encaixas ou uma forma de mostrares, também, uma certa versatilidade? Ou ambos? Ambos. É, sim, uma forma, também, de mostrar versatilidade. Mostrar que consigo estar bem em diferentes géneros. E porque, na verdade, é algo mesmo meu! Eu nunca sou uma só. Não sou agarrada ao trap nem sou agarrada ao rap ou ao dancehall. Sou agarrada aos três géneros, ou mais, da mesma forma. Nunca sou uma coisa só. Essa é a Nenny.

É importante para ti… É. …passares essa ideia de que não te encaixas numa fórmula única. É super importante. Porque eu sou assim! A Nenny nunca é uma “cena” só. A Nenny nunca é rapper ou uma dama de dancehall. Sou os dois, os três, os quatro. Sou muitas coisas.  E quando lançaste a “Sushi” talvez existisse essa ideia de seres uma rapper, não é? Sim. Quando lancei a “Sushi” e explodiu logo, as pessoas já me tentaram colar àquele rótulo. “A Nenny é rapper”. Eu percebo. É normal. Foi o primeiro som, foi aquilo que as pessoas imaginaram. Foi o que viram, então foi o que projectaram. Talvez essa ideia de que agora só iria lançar rap. Mas não. Depois cheguei com a “On You” e mostrei que também sou cantora. Também tenho vocals e não estou sempre a “cuspir”. E aí já senti a surpresa… “Afinal a Nenny também tem vocals!” [Risos] A partir daí criou-se aquela expectativa. “O que será que virá a seguir? Vai ser rap ou vai ser r&b”. Não foi nenhum dos dois! Foi afro.  E foi porque foi aquilo que me apeteceu! A “Bússola” foi uma cena muito inesperada. Eu cheguei aqui e disse que achava que as pessoas estavam a curtir muito aquilo que eu estava a fazer e que precisava de lançar mais. Depois foi o que o produtor fez, foi o que saiu, foi o que escrevi e lancei. E foi mais um hit, graças a Deus!  Também estás nomeada para os Prémios PLAY, estávamos a falar disso lá fora, com a “Bússola” e como Artista Revelação… A “Bússola” é uma das tuas preferidas ou nem por isso? Nem por isso! [Risos] A minha preferida é uma que está no EP. Quando a escrevi já tinha tudo na cabeça e geralmente isso não acontece. E esse som… Eu ouvi e mesmo sem escrever já sabia qual era o tema e já sabia o que escrever. Algo que já querias passar cá para fora há algum tempo? Exacto! Uma cena que eu queria expressar, que queria tirar daqui de dentro e quando ouvi o beat fez-me todo o sentido. Já lá vamos ao EP mas, antes disso, gostava de saber como tem sido o teu trabalho com a equipa da i.M. Com o Charlie e o Gson aqui no estúdio. Imagino que tenha sido uma escola importante para ti… Tenho aprendido muita coisa. Tanto da vida como da música ou da indústria. Ouvir um beat e já ter mais noção do que posso trazer ao beat. Backs, bridges, cenas mais técnicas. E depois muitos valores e muitas formas de me encaixar melhor na indústria, que é complicada. E eu nem sequer sei metade, se calhar nem um quarto! Mas tem sido fixe lidar com isso. Estamos sempre aqui a trabalhar, isso é o que interessa. Sempre a criar mais conteúdo para lançar. E, mesmo assim, aconteceu tudo muito rápido. Ninguém estava à espera que a minha carreira fosse arrancar desta forma. Que as pessoas fossem aderir logo. Simplesmente aconteceu. Porque é que achas que isso aconteceu como aconteceu? Talvez porque não havia uma menina de 17 anos a fazer o que estou a fazer, como estou a fazer. Não sei bem… Talvez porque exista muito sentimento e genuinidade naquilo que eu faço. Vou sempre atrás do que sinto. Estou sempre a fazer o que quero. Se te identificares, vem comigo. Se não te identificares, tranquilo.  Algo que gostei muito de ver, e achei engraçado porque me lembro da primeira vez que estivemos aqui e estava também a Melissa que, juntamente com a Cláudia, aparece em quase todos os teus vídeos… A Cláudia é minha prima. E a Melissa é uma amiga de infância. Elas estão sempre na minha back. Sempre estiveram e vão estar sempre comigo. E foi algo muito natural. Elas vinham ao estúdio, acompanhavam-me e quando pensei em fazer o videoclipe foi inevitável que elas entrassem. Elas estão aqui sempre, dão-me apoio e também é algo que gostam de fazer. Acho que elas estão felizes por estarem a participar nisto comigo e que, para elas, também vai ser algo fixe. Vai ser uma experiência importante, também. Não só para mim. Elas estão aqui porque querem estar comigo!  Digo isto porque estamos habituados a que sejam os amigos dos rapazes e não o contrário… Sim! Não é tão comum. Mas é exactamente a mesma coisa! Eu quero que elas estejam comigo. Para mim é óptimo. E agora estão mesmo a trabalhar comigo. É algo que descobriram. Que as três descobrimos!  Pode-se dizer que estão a construir já uma pequena “empresa” as três, sendo assim! [Risos] Sim! [Risos] Começamos por vir para aqui as três sem saber o que fazer! Entretanto eu gravei uma cena. Disseram que ia sair e saiu. Elas entram no vídeo. Gostam de estar aqui. A dançar e sempre a apoiar. Começaram a aparecer sempre e a mostrar vontade, a encaixar-se e a comprometer-se. “Eu quero mesmo fazer isto ou aquilo porque é o que eu gosto e vou-me dedicar mais a esta área”. E no fundo é sempre o trabalho de um trio. Elas dedicam-se tanto como eu.  É bonito, isso… É bonito, sim.  A dança é algo natural ou foi algo que tiveste que trabalhar mais quando começaste a gravar os vídeos? É natural porque danço desde pequenina. Sempre gostei de dançar e, em 2014, quando fui para França, entrei para um associação que angariava fundos para enviar material escolar para Cabo Verde. Fazíamos isso através das festas nas quais dançávamos. Quando saí da cidade onde estava e fui para Paris, entrei numa escola de dança de hip hop e aí começou a tornar-se mais sério. Comecei a aprender coisas mais técnicas. Não cheguei a fazer nenhum festival como fazia quando estava na outra associação, mas treinava mais. E agora nos vídeos, quando surge a coreógrafa, a Carla, para mim já é mais simples. Tentamos sempre melhorar e adaptarmo-nos, claro, mas foi sempre fácil. Tanto para mim como para a Cláudia e para a Melissa. Se calhar para elas, que não tinham background, talvez tenha sido um pouco mais complicado, mas souberam adaptar-se super bem. E agora que estás com 17 anos, estás no Luxemburgo, vais acabar a escola… Já tens uma ideia do que queres fazer? Vais continuar a estudar? Não vais? Tens alguma ideia de como gostarias que as coisas se encaminhassem a partir daqui? Não sei bem, ainda… Sei que quero fazer concertos, quero dedicar-me mais a isto. Trabalhar. Ensaiar. Tentar ser melhor. Na verdade é o meu único objectivo para este ano: ser melhor.  Como é que foi o Sudoeste? Foi incrível. Ver ali um mar de gente… Foi uma experiência mesmo boa. Estava bué nervosa no início mas depois entrei, fiz a minha cena e deu certo. Estava a comentar com um colega, horas antes de vir para cá, que há muita gente que acha mais difícil cantar para 20 pessoas do que para 20 mil. Sim, é mais! É mais fácil para mim estar ali no Sudoeste do que cantar para as pessoas do meu bairro, por exemplo. Elas já me conhecem e há sempre aquela pressão quando conheces as pessoas. E quando não conheces é tentar interagir com elas e passar sempre uma boa vibe. Mas quando conheces já tens mais aquela ideia de “eu tenho que fazer isto bem porque eles já me conhecem e se eu falhar…” (Risos) Por exemplo, no MEO Sudoeste o mic falhou no fim. E pronto, foi tranquilo, lidei bem com isso. Claro que é Sudoeste. Se não falhasse ia ser mesmo perfeito… O que aconteceu? No fim, eu ia começar a cantar o refrão e acho que desligaram o mic. Já não se ouvia nada e eu ali a cantar e as pessoas já não ouviam nada! [Risos] Que bandeira!  Shit happens… [Risos] Sim! É isso. It happens. É só mesmo ter aquela mentalidade de que não há nada a fazer e aceitar. Para a próxima vez já não vai ser assim. Entretanto sai o teu EP, Aura. Porquê Aura? Aura porque tentei transmitir várias emoções através de vários géneros. Como disse há pouco, eu não tento passar só um tipo de emoção num só género. Como rapper, por exemplo. Como as pessoas viam no início quando lancei a “Sushi”. Tento sempre transmitir cenas mais alegres ou mais down, dependendo do meu mood. Depende da tua energia, do que vais libertando… Exacto! E a Aura é isso. É uma energia que toda a gente tem. Uma electricidade que toda a gente tem devido às emoções e à personalidade da pessoa. Cada faixa representa uma emoção. Cada Aura é uma emoção. É uma coisa que é mutável, não? Que depende de muitos factores. Sim, a aura vai mudando. Às vezes tens uma cor. Tens o verde mas amanhã a tua aura poderá já estar azul. E o EP é isso. Hoje estou com uma vibe de drenar, amanhã já estou a ouvir a “On You”. É algo que muda. Basicamente a ideia é essa.  Sei que a saúde mental e todas as questões em torno disso são algo que te interessam muito e que gostas de explorar.  Sim. E mesmo no que diz respeito ao artista. Vejo vários artistas que surgem super contentes e é essa a visão que os fãs têm deles, mas que se calhar em casa passam pelos piores momentos sem que ninguém se aperceba. Parece que quase ninguém se importa com isso. E eu acho isso super importante. Deves importar-te com o próximo e com a saúde mental dele. As pessoas dão muita importância ao exterior, ao físico, à atitude que tens no momento. Mas nem sempre essas atitudes definem o teu carácter. Todos nos deveríamos aprofundar mais nesse tema. Eu hoje estou aqui super contente mas se calhar em casa sou a pessoa que está a sofrer mais… Tu se não perguntares, não sabes. Se estiveres a conversar com alguém que sofre de depressão, por exemplo, e perguntares se está tudo bem, ela vai responder que está tudo bem. Mas amanhã suicida-se e tu nem sabes porquê. Ontem perguntaste se estava tudo bem e ela disse que sim. Mas não é assim. Devemos insistir e falar mais sobre isto. Devia falar-se mesmo a sério. É uma questão super importante, super essencial. Principalmente para nós, adolescentes. Há muitos adolescentes a passar por isso e pouca gente sabe. Às vezes vejo cenas no Twitter do género, “ah, este Verão tenho que estar assim e assado porque as pessoas me vão ver desta forma”… Mas tu não tens que ir pelo que as pessoas vão dizer! Tu tens que ir pelo que tu gostas. Pelo que tu és. Vejo bué malta com essa mentalidade de “tenho que ser assim porque senão as pessoas não vão aceitar-me”. Mas as pessoas têm que te aceitar pelo que tu gostas, pelo que tu és! “Tenho que ir por determinada direcção porque só se eu fizer isto vou ser aceite”. É mentira. Se as pessoas não quiserem aceitar, não vão aceitar de qualquer forma. Eu estou a ser eu mesma… Num dos sons do EP digo algo como “estou a ser sempre fiel a mim mesma”. E é o que importa.  Achas que as redes sociais empolam isso? Sim. Acho que muitos artistas passam isso. Não vou estar aqui a citar nomes, mas há pessoas que eu sinto que passam a ideia de “eu sou assim e se tu seguires isto ou fores assim vais ser aceite por toda a gente”. E não é assim. Para além das questões físicas: “Se eu tiver um corpo assim toda a gente vai gostar” e “se eu tiver um corpo assado já vai ser diferente”. A perfeição não existe. Se calhar a tua imperfeição é a tua perfeição. Acho que é isso. Eu posso ser uma pessoa mais gordinha e tu veres isso como uma imperfeição, mas eu gosto de ser assim! É a minha visão do que é ser perfeito. Ou, se calhar, tens aquela ideia de que uma mulher tem que ter uma cintura fina, tem que ter as mamas no sítio e tem que ter ancas. Tem que ter um corpo de sereia. Isso para ti é a definição de perfeição? Para mim, não. Eu também tenho aqui as minhas banhas, as minhas curvas. E gosto delas assim.

E isso numa altura em que a imagem vende como nunca, em que nós próprios somos o produto, torna-se difícil de gerir. Nós somos o produto, sim. Para mim, essa ideia super girly não é muito a minha cena. Muita maquilhagem… Para já, não é o meu estilo. E depois não acho que seja isso que te faz ser mais mulher. Na minha visão, claro. Eu uso as minhas sweats, cenas mais largas, porque é aquilo que eu gosto. Mas depois acho que, e a sociedade tem muito isto, “ela é mulher, portanto devia estar assim ou devia vestir-se assim”. Naquilo que eu vejo, acho que ainda é mais assim para as mulheres do que para os homens. “Vamos analisar, vamos ver como é que ela é, se ali tem make-up ou não”. É sempre aquela pressão. A mulher tem sempre uma pressão maior em cima. Não devia ser assim… E hoje em dia as pessoas acabam por querer ser algo que não as representa. Acabam por ser aquilo que elas viram durante vários anos, que lhes entrou na cabeça. O ser humano é assim…  Vais repetindo o que te ensinam, o padrão que te é imposto, mesmo de forma inconsciente… Exacto! Se durante muitos anos a única coisa que vês na televisão é um padrão de beleza de loiras, por exemplo, aquilo acaba por mexer com a tua cabeça. Se calhar pensas que devias ser um bocadinho mais branca e devias meter um cabelo loiro. Eu, por exemplo, cresci só com personagens tipo… white. Sem referências… Ya. Ou, então, cresci com aquelas mulheres blacks mas mestiças. Não eram como eu. Nunca vi uma artista como eu. Era sempre mulheres brancas ou mulheres que eram blacks mas sempre com características brancas. Quanto mais claro melhor. Sim, era isso. Cabelo mais liso… Aqui não te vou saber dizer nenhuma artista, quando era pequena, que eu tenha visto que eu dissesse que se parecia comigo. Eram sempre artistas que eram sempre mais para o branco. Podia ser mulata. Mas tinha o cabelo liso e tinha o nariz fino, percebes?  Quem são as tuas principais referências para hoje pensares como pensas?  No dia-a-dia não tive muitas. Até porque a minha família partilhava também esse pensamento colorista. Esse pensamento de “tens que desfrisar o cabelo”, “tens que meter tisagem” ou meter algum produto para o cabelo ficar mais esticadinho. Na minha família não tive muitas referências. Gosto de uma artista, a Lauryn Hill, que foi uma referência para mim nesse aspecto. Sempre mostrou ser quem era. Ela já estava ali com as rastas dela, via-se que ela era genuína. Era ela própria. Quando via a Beyoncé já não me identificava, por exemplo. Via a Aaliyah e já não me identificava. A Lauryn Hill sim. Gosto muito da cena dela. Já entrámos aqui por vários caminhos… Já viajámos bué! [Risos] Vamos recuar um bocadinho. [Risos] Em relação aos prémios PLAY, foste nomeada também como artista revelação. Como é que olhas para isso? Consideras-te uma revelação? Bem, isso é complicado de responder… [Risos] Eu, sinceramente, não acho muito importante. Ou seja, não é o que define o meu trabalho. Embora eu considere isso fixe, claro.  Sim, acabar por ser uma das muitas montras e isso é interessante mas, prémios ou não, a minha questão é: como é que tu te sentes quando tanta gente se refere a ti como tal. Já devem ter esgotado a palavra revelação este ano! Fico contente! Fico agradecida. As pessoas conseguem reconhecer o meu trabalho… É muito fixe. Entretanto já vais ao Sumol Summer Fest com um álbum novo. Já estás a pensar nesse espectáculo? Já! Já estamos a ensaiar. Já vai ser um espectáculo meu a solo, sem o apoio da Wet [Bed Gang] mas vai ser fixe, de certeza. Para terminarmos: o que anda nos teus ouvidos por estes dias?  Recuei no tempo! [Risos] Estou a ouvir bué Lil’ Kim, Biggie. Também ando a ouvir Brent Faiyaz, um artista que acho que está a começar a ter o seu reconhecimento, que eu acho que merece. Richie Campbell ouço sempre muito. Depende, às vezes ouço Bob Marley, depois ouço um funaná… Depende da tua aura, não é? [Risos] [Risos] Exacto. Depende mesmo da minha aura!

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