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Fotografia: Gonçalo Barranqueiro
Publicado a: 08/09/2022

Em contínua ascensão.

NENNY: “Estou a preparar o meu álbum e vou surgir mais madura e crescida”

Fotografia: Gonçalo Barranqueiro
Publicado a: 08/09/2022

Faltavam poucos minutos para a meia-noite na Sé de Faro no passado dia 1 de Setembro e o óbvio silêncio esperado a tal hora era substituído por uma plateia que fazia questão de entoar um só nome em uníssono: NENNY. Um pouco depois, a jovem artista de Vialonga saía desse palco sob um forte coro de apoio após um dos primeiros grandes concertos da sétima edição do Festival F.

Este fenómeno da música nacional estreou-se com 16 anos e desde o primeiro tema que a sua carreira tem sido sinónimo de sucesso, e por essa mesma linha se tem mantido, especialmente se contabilizarmos o acompanhamento do público em praticamente todos os concertos que tem feito — no F não foi exceção. Os últimos tempos para a jovem incluíram novos caminhos, mas nunca se desviando do êxito, como é o caso da sua marcante participação no A COLORS SHOW e no Tiny Desk, feito extremamente honroso e apenas alcançável até hoje por (muitos) poucos artistas portugueses (no último apenas Camané havia participado, em 2015).

Aproveitámos a presença de Marlene Tavares em Faro para trocar umas palavras sobre o momento actual da sua carreira, coincidindo com o dia de lançamento do seu novo tema “Mar Azul”, que faz questão de apresentar como um dos primeiros avanços daquele que será o seu álbum de estreia. Um pequeno compartimento do backstage icónico do Palco Sé do Festival F foi o local em que nos sentámos para esta agradável conversa.



Vamos começar pelo teu novo tema “Mar Azul”, uma homenagem às tuas raízes e não só; também homenageias o cantor Jorge Neto, demonstrando o tipo de camaradagem para com um colega de profissão que nem sempre é vista.

Sim, ele é uma grande inspiração na minha vida. Quando comecei mesmo a ouvir música e a formar-me enquanto ouvinte – a minha família ouvia bué sons de Cabo Verde como Jorge Neto, Cesária Évora, Lura… então, o Jorge Neto foi grande inspiração enquanto [era] criança e agora quis prestar essa homenagem no “Mar Azul”, em que estou a representar a minha essência (que é no bairro) e a de muita gente de origem cabo-verdiana, que tem saudades da terra e que estão em Portugal há muitos anos e não conseguem voltar lá tão cedo. Como tal, criámos esse convívio entre as nossas origens no bairro — temos saudades — e tentamos viver da melhor forma a emigração. Esta novidade é muito [sobre] as saudades, é a celebração da nossa comunidade, das nossas origens, é um som muito importante.

Ao vivo parece ter resultado bem… saiu há bem poucas horas [entrevista feita na quinta-feira passada] e já se ouvia vários fãs a cantá-la bem alto.

Ya! Eles conseguiram pegar rápido no refrão e fiquei muito feliz por isso.

Achas que podes vir a ser um Jorge Neto da tua geração, alguém capaz de carregar a bandeira de Cabo Verde para fora do país, de levar nova música às grandes comunidades espalhadas pelo globo?

Eu acredito muito que sim, estou a trabalhar para isso. É mesmo aquilo que eu sempre quis fazer, quero deixar o meu legado e acho que [chego lá] com muito trabalho, muita dedicação. Também acredito mesmo em mim e acho que mais tarde me posso vir a tornar uma “lenda”, seja de Cabo Verde, seja de Portugal. Acho que isso é completamente possível.

Fruto de acreditares em ti, de teres confiança na tua música, creio que isso se tenha afirmado noutras coisas que tens feito, como o COLORS.

Sim! Pá, eu estava trancada em casa, mas felizmente ainda consegui lançar o “Tequila” e o “WAVE” em confinamento e consegui transmitir a minha vibe às pessoas. Eu antes disto tinha acabado de lançar o meu EP Aura, então acho que foi bué bom porque as pessoas não ficaram com aquela sede de querer mais porque foi COLORS, Tiny Desk, aparecer na playlist EQUAL do Spotify lá no Times Square. Acho que foi muito bom apesar de termos estado trancados e, pessoalmente, consegui transmitir a minha arte nesse tempo bué difícil.

Gostava que me explicasses como surge a oportunidade de participar no COLORS/Tiny Desk, são dois marcos gigantes.

Surgiu de uma forma que não estava nada à espera. Já conhecia essas plataformas e pensei que seria muito fixe chegar lá e representar Portugal e Cabo Verde e conseguir ter uma boa visibilidade — e dar um upgrade na minha carreira. Entretanto estava a discutir com a minha equipa sobre isto e até lhes disse “não sei como se faz, mas podíamos tentar inscrever-nos ou assim…”, mas, depois desta conversa, passaram-se uns meses e o COLORS mandou-nos um e-mail a fazer um convite e eu fiquei mesmo chocada, não estava à espera. Foi uma experiência muito fixe, o COLORS é em Berlim e tivemos que viajar para lá e estar nos estúdios umas horas. Foi super tranquilo, é malta bué jovem que trabalha por lá, deram-me directrizes do que fazer e a cor que tinha escolhido estava na parede de fundo, o microfone pendurado. Foi mesmo muito fixe, meteram-me muito à vontade. A malta do COLORS foi mesmo impecável.



E o Tiny Desk?

Foi semelhante, só que no COLORS tivemos alguns meses de preparação enquanto no Tiny Desk demonstraram interesse, mas com pouquíssimos dias para preparar – era pegar ou largar mesmo. Foi assim de repente, não estávamos nada à espera e conseguimos expressar muito bem a nossa arte ali em dois/três dias. Conseguimos preparar tudo muito rápido e correu muito bem.

Ver a bandeira da lusofonia hasteada tão alta nestas coisas é muito gratificante, é um grande orgulho. Consideras que a pandemia foi um bom período para reflectires sobre algumas coisas e prepares melhor novos passos da tua carreira, apesar de ter sido um período muito conturbado para todos nós?

Não gostei nada, tive bué ansiedade, queria sair e ver os meus amigos. Estava no pico da adolescência, estava farta de estar confinada em casa, mas no meio disso tudo consegui criar e puxar mais pelo meu processo criativo, e foi na quarentena que escrevi o “Tequila” e a “WAVE”. Respondendo à tua pergunta, ainda assim consegui extrair momentos muito positivos da pandemia.

Nesse mesmo período considero que deste um step up na carreira: visualmente, sonicamente, esteticamente. Aliado a isso, tentas sempre agregar valor com o conteúdo na tua música, tens temas dedicados a todas as mães, temas da sociedade, feminismo, saúde mental…

Para mim é muito importante retratar todos os tipos de sentimentos e temas que sempre fizeram parte da minha vida, como a saúde mental, ter emigrado muito cedo com a minha mãe para França, mas também sempre quis celebrar e divertir-me com os meus amigos, então acho que consigo retratar esses momentos e emoções da minha vida na minha música. Acabam por ser sentimentos transversais a toda a gente, há dias que estamos mais tristes e vamos ouvir a “On You“, outros em que estamos contentes e vamos ouvir “Bússola“. Tento retratar todos esses sentimentos na minha arte.

Gostavas de fazer sons em crioulo?

Eu já tenho bué sons na gaveta em crioulo. Este “Mar Azul” é o primeiro em que canto algumas partes nesse registo, mas tenho algumas coisas preparadas.

Para finalizar, este “Mar Azul” é o início de uma nova era para a NENNY… do primeiro álbum?

Sim, estou a preparar o meu álbum, vai surgir uma NENNY mais madura, mais crescida. Estou mesmo a trabalhar noutros tipos de abordagem, a tentar cada vez mais ajudar as pessoas para que elas possam ser a melhor versão delas através da música, é esse o meu objectivo enquanto artista. Foi isso que outros artistas me fizeram e agora quero ser eu a fazê-lo. Estou quase a mandar cá para fora novo álbum! 

E datas para sair, daqui a uns meses?

Meses… diria um ano… dois, só Deus sabe…


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