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Fotografia: Rafaela Ramos
Publicado a: 17/12/2021

Entre fases e intenções.

Natal do Marginal’21 – 16 de Dezembro: nova escola, velha escola, melhor escola de sempre

Fotografia: Rafaela Ramos
Publicado a: 17/12/2021

O Natal do Marginal 2021 já vai com mais de uma semana, no entanto, não estão à vista evidências de cansaço, pelo contrário, a vontade de mandar a casa abaixo mantém-se em altas. De regresso ao Hard Club, palco que estreou o festival com Alcool Club e apresentação de Sinceramente Porto, desta foi noite de abanar a cabeça ao som do newcomer Big Jony e do estabelecido Tekilla. Arte vinda de gerações diferentes, mas com bastante em comum: uma postura de líder para alimentar uma fome insaciável por “barras” e “egotripping”.

O primeiro a pegar no microfone foi o menino de ouro nortenho. Big Jony entrou a rasgar com “Rusga”, tema que os conterrâneos cantaram em uníssono. Apesar de não ter tido uma sala cheia para a sua primeira gala de coroação, os presentes garantiram que o rapper, depois daquela noite, já pode descansar no seu trono. Convenhamos que descansar não combina muito bem com Jony — são inúmeros os singles que têm bombardeado a Internet, gravados no Segundo Piso ou com a curadoria de Beiro, por exemplo. Aproveitou para anunciar, que fruto desse trabalho, a Ascensão — o título do seu primeiro projecto — estará garantida em 2022.

Foi um espectáculo bastante emotivo e as palavras do artista estavam em concordância com o seu rosto — a gratidão que sentia inundava a aura do espaço: “Há dois anos, na primeira edição do Natal do Marginal, estava aí na primeira fila a assistir aos meus artistas favoritos, hoje tenho a benção de estar deste lado. Estive a minha vida toda à espera deste dia”.

Como fica bem assente nas suas letras, a turma veio com ele — subiram ao palco Rilha e UEST., a representar Caixa Cartão Collective. O segundo ficou para mais uma faixa: “Marionetas”, assinada por Beiro, pôs as primeiras filas a saltar e deixou bem claro que é uma questão de tempo até os maiores palcos nacionais conhecerem estes nomes. Quem também cantou ao lado de Jony foi Qvxno, outro senhor da cena do Porto, que com o seu pedal de efeitos, mostrou um controlo do auto-tune que abrilhantou o refrão do tema “Na Mira”.

Não demorou muito tempo para Tekilla conquistar o amor do Porto. Sem pisar terrenos invictos há quase uma década, como confessou, a sua energia rapidamente compensou a ausência. Com muita certeza do seu lugar na cultura, apresentou-se com Isac Ace nos pratos e Duvale na percussão. A exibição do segundo nas congas e nos pads (carregados de sons predominantemente afro) foi exímia, elevando as produções de Fred Ferreira no disco que Killa apresentava – Olhos de Vidro, editado pela britânica BBE em 2021. 

Mesmo a jogar fora de casa, o rapper não se foi abaixo e deu um espetáculo sem tempos mortos. Ficou bem explícita a visão do artista com este álbum — “Olhos de vidro para tapar o buraco que a indústria cultural geral tem (…)”, tal como as referências aos velhos tempos, ao skate, à vontade de passar uma mensagem através das rimas, tendo actuado com uma raiva saudável, servindo-se de punchlines que matam aquela que, na sua perspectiva, é uma nova escola que não está à altura da sua cultura. Feliz para uns e infeliz para outros, esse foi o statement da noite e a sua performance esteve à altura do seu sermão. 

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