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Fotografia: Cat David
Publicado a: 15/12/2021

Satisfeitos a todos os níveis.

Natal do Marginal’21 – 14 de Dezembro: o repasto da firma

Fotografia: Cat David
Publicado a: 15/12/2021

O Natal do Marginal não estaria completo sem jantar de consoada da “empresa”. Foi assim esta terça-feira: a firma sentou-se à mesa, no Maus Hábitos, para abrir as prendas da Paga-lhe o Quarto. Não é habitual assistirmos a concertos rap de talheres na mão, no entanto foi uma experiência que resultou muito bem, podemos garanti-lo.

O primeiro a subir a palco foi Bug, poeta, produtor e rapper por consequência. Em 2019 tivemos direito ao EP Tripolar, lançado pela PoQ, mas o arranque enquanto artista é anterior, 2018, com a compilação Relatos de alguém e vários singles soltos disponíveis no seu canal de YouTube. Ontem, Bernardo Valinhas trouxe-nos uma apresentação contida e honesta da sua obra e revelou ser um intérprete que vai muito para além da spoken word monocórdica. 

Acompanhado por DJ Slice nos pratos, a noite foi aberta com o tema “Egoísta”, um óptimo contextualizador do seu trabalho: “Os meus poemas são só p’ra mim/ Eu só escrevo p’ra que eles me curem”. À primeira vista, este posicionamento pode ser entendido como um exercício egocêntrico, mas a verdade é que há uma enorme quota-parte altruísta neste processo. A capacidade de expor as suas incertezas e frustrações pessoais funciona como uma auto-terapia, como o próprio refere, mas a vulnerabilidade em que se coloca é, acima disso, uma ferramenta terapêutica para os que o escutam e enfrentam os mesmos desafios.

O gig foi crescendo — e referimo-nos à sua presença em palco . A espontaneidade no discurso do rapper de Paços de Ferreira foi progressivamente ofuscando a sua timidez e cativando a atenção do público. Tivemos direito a vários temas exclusivos e, pela reacção dos presentes, há, por estrear, muito trabalho de estúdio que promete.

Um belo exemplo do carácter pessoal da música de Bug é a carta que escreveu ao seu amigo e que transformou, com produção própria, numa canção apaixonante, que foi lançada há dois anos. Durante a interpretação da carta vimos um salto para melodias mais descabidas, provando que há potencial em si para a transformação num cantor-poeta na linhagem de Manel Cruz, por exemplo.

Na recta final do concerto, ficámos a conhecer a sua primeira colaboração. Colega de “quarto”, Pibxis foi fortemente aplaudido pelo seu verso ao lado de Bug. A sobremesa foi servida em inglês, com a faixa “Waste Your Time”, uma surpresa vinda de um heterónimo de Bernardo. Segundo as suas palavras: “Não sou eu, mas sou eu… Pode ser que saia, pode ser que não saia…”

“Finalizada a refeição, vem a AZIA”. A piada foi de Keso, que introduziu dessa forma o segundo show. O alinhamento foi bem desenhado: depois de um momento pouco ruidoso, era altura de mergulhar na psique de AZIA e caminhar por batidas acentuadas. As canções disponíveis na Internet, inteiramente produzidas e interpretadas pela artista, aguçaram a curiosidade para este momento. A sua estética, tanto sonora como visual, levam-nos para um lugar desconcertante e foi com esse sentimento que nos agarrámos ao segundo momento deste diferente jantar.

Com a iluminação no mínimo para respeitar a premissa do primeiro tema, “APAGA A LUZ!“, a artista apareceu acompanhada por DEL. Estática em palco, com uma expressão facial apática e sem nunca desvendar a personagem (assumindo que o é), deu um concerto implacável, mostrando com sucesso como é que se faz rap psicadélico à portuguesa. Ao seu lado, DEL deu corpo às vozes da consciência que nos invadiram durante uma “BedTrip” à vista de todos. Os seus backvocals, bem como o seu verso em “Foque-o!“, elevaram as palavras da rapper.

Entre faixas que ainda não viram a luz do dia, harmonias paranóicas, risos sinistros e muita distorção, AZIA também arrasou fora do microfone: foram diversos os momentos em que se deslocou para a sua MPC, onde nos brindou com uma exibição criativa de fingerdrumming e remisturas ao vivo. Pode-se dizer que foi um espetáculo completo e que, ao contrário do seu avô, não estragou o Natal a toda a gente. Pelo contrário…

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