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Fotografia: Geraldo Ferreira
Publicado a: 01/09/2023

Colectivo de Setúbal apresentou A Cultura de Pi.

NastyBee Collective no Tokyo: o rap underground também pode ser orelhudo e melódico

Fotografia: Geraldo Ferreira
Publicado a: 01/09/2023

Não é todos os dias que assistimos ao concerto mais especial da vida de alguém. Estamos apenas a presumir, mas normalmente quando se apresenta pela primeira vez um álbum de estreia perante uma casa composta recheada de caras familiares, de brilho nos olhos e letras na ponta da língua não há como escapar. E poder presenciar um momento destes, de profunda comunhão entre artistas e plateia, de orgulho sentido de parte a parte, e poder captar a inocência típica dos primeiros passos na música, é de facto um privilégio.

Mais do que isso: os NastyBee Collective (compostos por Polaz, Fidas, ZO2 e Crise Brown) não são uns artistas quaisquer, nem são apenas “mais uns”. O rap nacional pode estar cheio, como é natural em todos os géneros musicais, de réplicas mais ou menos conscientes, de artistas que começaram inspirados por outros e que demoram a encontrar a sua identidade. O quarteto de Setúbal é particularmente original para quem está a começar: os NastyBee apresentaram este ano o seu surpreendente primeiro disco, A Cultura de Pi, e em palco a coisa traduz-se da melhor forma.

Embora tenham os códigos e sejam, de facto do rap underground, a sonoridade destes rapazes é bastante mais melódica. Com refrões orelhudos, mas mantendo um bounce clássico, têm bases instrumentais vibrantes e distintas, muitas vezes funky e chegando até a ser dançáveis. 

O principal responsável por isso é Polaz, produtor e arranjador musical do grupo, que no microfone transita entre o sotaque brasileiro e o português. E não é exagero quando dizemos que é rap com uma dose de musicalidade bem acima da média: Polaz deixou temporariamente a sua posição de MC durante o concerto para tocar teclado e guitarra eléctrica nalguns temas. Onde já se viu isto num concerto de rap underground? As normas do game mudaram, o panorama está menos conservador e isso só pode ser positivo para estas novas gerações de artistas, que estão mais libertos na sua criação. Além disso, contaram com a participação do saxofonista Zé Miguel Zambujo.

Têm temas mais enérgicos e outros introspectivos, letras mais viradas para o egotrip, para a crítica social ou para questões de foro mais pessoal. Há espaço para progredir, como é mais do que natural, mas a identidade que já demonstram é provavelmente a característica mais importante que qualquer artista emergente poderia pedir. Com um espírito fraterno, jovial e brincalhão, em palco têm bastante carisma e o facto de estarem a jogar em casa (ainda que em Lisboa) também ajudou. Nota mais do que positiva neste primeiro encontro ao vivo com os NastyBee Collective. Eles prometeram que isto era apenas o início e este prenúncio deixa-nos ainda mais atentos.

A primeira parte esteve a cargo de Johny Malibz bom aluno da nova escola subterrânea do rap da Grande Lisboa , MC de Almada que trouxe convidados mais firmados como Tom Freakin Soyer e Mura. Com caneta no sítio e atitude vincada, conseguiu convencer e aquecer bem o palco para os setubalenses.


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