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Fotografia: B Shootin
Publicado a: 14/12/2020

Dos livros, filmes e videojogos se fez a aventura deste circo musical.

Namir Blade: “O Aphelion’s Traveling Circus é o álbum com o qual eu sonho desde criança”

Fotografia: B Shootin
Publicado a: 14/12/2020

Facto: 2020 foi o ano dos imprevistos. Na música, a Mello Music Group contribuiu positivamente para esse capítulo das surpresas quando decidiu editar Aphelion’s Traveling Circus, o primeiro grande projecto de Namir Blade, em Setembro passado.

Algures entre os OutKast e os Soulquarians, o som deste artista de Nashville deu um salto qualitativo enorme para conseguir chegar ao catálogo de uma das editoras mais importantes do circuito indie rap norte-americano. A diferença é imediatamente audível se escutarmos ScatterbRAIN, o álbum que em 2013 ditou a sua estreia no formato, mas basta-nos dar um salto até ao seu SoundCloud — onde residem “Angel“, “UFO” ou algumas das suas inversões pela electrónica mais dançável, como “Leia In The Haus” e uma remistura para um tema de Solange — para percebermos que já estava na altura de Namir Blade lançar um novo disco, um que lhe fizesse justiça ao momento que atravessam tanto as suas rimas como a sua produção.

Para chegar a Aphelion’s Traveling Circus, o talentoso MC e multi-instrumentista de Nashville criou o seu próprio universo, do qual faz parte Sci-Fi Washington, o personagem-central desta viagem pelo cosmos da música negra futurista. Em conversa com o ReB, numa chamada por Zoom que atravessou o Atlântico, Blade revelou como o cinema, a literatura e os videojogos lhe continuam a alimentar a imaginação.



Como tens passado?

Estou bem, man. Acabei de terminar uma faixa, o gajo das entregas veio cá trazer comida, está um lindo dia lá fora e ao fundo da rua estão a fazer obras. Está tudo bem deste lado.

Lançaste um álbum há pouco mais de dois meses mas já estás de volta de música nova?

Sim. O meu trabalho nunca pára. Eu passei algum tempo a trabalhar nesse álbum. Assim que o terminei, comecei a gravar outras merdas.

Olha, eu não te conhecia de todo até este disco mas fiquei impressionado. Depois de o ouvir andei a vasculhar um bocado e percebi que tinhas editado um outro no ano passado. É curioso que o som do Aphelion’s Traveling Circus está muito mais polido do que esse anterior. Como é que chegaste a este ponto num período de tempo tão curto?

Há uma cena sobre aquilo que está no meu Spotify: a maioria dessas coisas, à excepção deste álbum, são coisas que eu gravei quando eu tinha uns 18/19 anos. Por volta de 2012/2013. São o que são. Mas havia tanta gente que gostava deles, desses projectos antigos, de toda a sua crueza… “Será que podemos ter isto nas plataformas de streaming?” Então eu decidi fazer os uploads em massa. O Scatterbrain foi a primeira cena que eu fiz a rimar mais seriamente. Lancei também uma compilação de beats que ainda não tinham sido utilizados por ninguém. Nessa altura estava falido e precisava de todos os cêntimos que pudesse obter do Spotify. Aproveitei para recuperar o meu catálogo para essas plataformas e assim preparar também as pessoas para a próxima edição.

Tinhas editado onde? O teu Bandcamp neste momento só tem o Aphelion’s Traveling Circus e creio que também não consegui encontrar nenhum perfil no SoundCloud ou assim.

Ah. Há um perfil no SoundCloud que por acaso tem um link para o meu Bandcamp antigo. Este Bandcamp novo foi algo que decidimos fazer para que as pessoas fiquem focadas apenas neste novo projecto e não no resto das coisas que eu já lancei. Posso passar-te o link desse Bandcamp, se quiseres. É lá que está a primeira beat tape que eu produzi independentemente e mais algumas outras coisas de quando eu era novo e andava a experimentar.

Como é que foste dar com a Mello Music Group?

Foi através de um amigo meu, o Odd Moon. Ele tentou introduzir-me ao A&R deles durante muito, muito tempo. Simplesmente não funcionou. Até que de repente a ligação deu-se. Eles vieram até mim, “estás a trabalhar num álbum?” E eu disse que sim. Na altura eu tinha música suficiente para uns quatro álbuns ou assim. Enviei-lhes uma data de rascunhos e de coisas que tinha aí paradas, ideias que eu tinha gravadas. E eles: “compila um álbum coerente. Nós queremos editá-lo”. A partir daí comecei a seleccionar e a gravar novas faixas para este projecto.

E de onde veio este conceito do Aphelion’s Traveling Circus?

Eu sou uma pessoa extremamente imaginativa e vejo muita ficção científica. Cresci a assistir Saturday Morning Cartoons, filmes de ficção científica, de kung fu e de crime. Isso foi a minha base. Era o que eu tinha à minha volta enquanto crescia. Por isso sempre tive diferentes conceitos a ebulir na minha cabeça. Diria que foi por volta de 2015/2016 que eu tive a ideia para o conceito desta personagem, o Sci-Fi Washington. Eu queria que o Sci-Fi Washington fosse este personagem de cartoon que tem aventuras no espaço e cenas assim. A história por detrás do mundo dele… Porque o Aphelion’s Traveling Circus e o mundo onde vive o Sci-Fi Washington pertencem ao mesmo universo. Nesse universo, durante os últimos dias da Terra, muitas das pessoas ricas decidiram partir, porque elas tinham a capacidade de pagar por naves especiais e assim. Metade deles decidiu pagar pela construção de um planeta artificial que orbita à volta da Terra e, assim, aproveitar toda a imunidade que a Terra tem para oferecer, aliado à luxúria. Eles decidiram fazer com que todos os trabalhadores na Terra se mantenham numa fábrica a construir todas as peças necessárias para a manutenção desse planeta artificial, para que ele se mantenha sustentável. A outra metade decidiu aventurar-se em galáxias distantes e assim. Naquele ponto, o homem já tinha dominado a física quântica e a velocidade da luz e o universo tinha-se tornado o seu recreio. Eles iam para diferentes planetas habitáveis, estabeleciam-se, integravam-se com as outras formas de vida que por lá existiam… Na história do Sci-Fi Washington, ele vai para este planeta chamado Vertuni, que é uma espécie de… Imagina Las Vegas como se fosse um planeta, inteiramente dedicado ao entretenimento. É uma combinação entre Las Vegas, Tóquio, Rio de Janeiro, Banguecoque… Além disso ainda existe o factor alien. O Sci-Fi Washington parte para esse planeta à procura de uma mulher com quem tem mantido uma longa relação à distância. Quando ele lá chega, percebe que ela é a líder de um bando de ladrões. Ela rouba-lhe a nave e todo o dinheiro que ele tinha — “malditos piratas do espaço!” [risos] Eu quis elaborar aquilo que o planeta Vertuni é. Então decidi criar o Aphelion’s Traveling Circus, que é um retrato daquilo que é a experiência de um cidadão comum nesse planeta. A cena do Circus é que eu sempre adorei o circo desde pequeno. Achei que seria uma experiência engraçada, especialmente porque se deu isto do COVID-19 e toda a gente está presa em casa, ninguém pode fazer nada. Quis adicionar ao disco o factor do entretenimento. Assim as pessoas podem deixar-se levar por este universo no conforto dos seus sofás, em casa ou onde quer que estejam, sem precisarem de sair para ir ao encontro daquela sensação que o circo lhes dá. Isso foi muito importante para mim durante o processo de criação do álbum.



Na introdução ouvimos-te a dizer que essa experiência “é uma grande oportunidade.” Também o é na vida real?

Sim! Absolutamente. Este é o álbum com o qual eu sonho desde criança. Eu meti a minha mãe a ouvir o disco e ela lembrou-me de que, quando eu era pequeno, tinha este conceito do “Mundo do Namir”, em que eu essencialmente criava um grande parque de diversões e me divertia imenso. Este álbum foi a materialização de um sonho de infância. Sei que daqui a muitos anos vou conseguir olhar para trás e continuar a sentir que este foi um momento espectacular. Se pudéssemos andar em digressão neste momento, o meu sonho seria integrar essa ideia com a de um circo viajante verdadeiro. Uma espécie de carro alegórico ou assim. Esse era o meu grande objectivo e eu ia trabalhar imenso para que se tornasse numa realidade. Só que veio o COVID-19 e deu um valente estalo nisto tudo [risos]. “Fiquem em casa!” Mas eu hei-de tentar colocar a ideia em prática. Ela não vai morrer! Mal eu tenha dinheiro suficiente ou algum patrocínio, vai acontecer. Anota as minhas palavras [risos].

Mas neste momento não pensas em nenhuma alternativa? Esse circo podia viajar mas pela web, de alguma forma…

Sim. Eu pensei em alternativas. Mas a forma de como a minha vida está estabelecida neste momento… Eu não teria tempo para alugar um espaço, encontrar acrobatas e outras gentes do circo ao mesmo tempo que mantenho o meu emprego. Ter um emprego torna as coisas muito complicadas. Não posso só fazer aquilo como e quando bem me apetece. E a indústria musical… Ugh. Não acredito que vá ver alguma mudança até daqui a, digamos, um ano. Aí poderei mover-me da maneira que quero. Mas estou a apontar para algo, talvez a partir do meu quarto. Não quero não fazer nada e deixar este momento morrer. Vou acabar por encontrar algo que seja económico e fácil para mim de fazer. Algo que não exija tanta energia da minha parte.

Quais dirias que foram as tuas influências? Presumo que não sejam tanto a um nível local. Eu, pelo menos, não consigo encontrar grandes exemplos dentro do hip hop que tenham surgido em Nashville.

Para te ser sincero, a minha cidade não me influenciou em nada, do ponto de vista da sonoridade. Sempre vivi aqui e o meu tipo de som nunca foi abraçado pela malta que aqui vive. Porque aquilo que eu faço descola-se tanto daquilo que os outros andam a fazer… Tive algumas dificuldades com isso no início. Agora apenas sigo em frente. “Tanto me faz. Vamos a isso”. Eu acredito naquilo que faço muito antes de alguma outra pessoa acreditar. Era apenas eu e uns poucos amigos que tinha. Eu diria que Nashville me influenciou na forma como faço música. A praticidade na forma como eu toco. Porque quase toda a gente nesta cidade toca um ou vários instrumentos. Nós temos uma certa diligência para com isso. Quando estamos a criar, nós ficamos ali de volta da linha de baixo até ela sair perfeita. Nós reescrevemos as nossas rimas até saírem perfeitas. Mas do ponto de vista sónico, a maior parte das minhas influências vieram de pontos mais distantes do globo. Eu tive o privilégio de ter tido acesso a canais estrangeiros quando surgiu a TV por cabo. Quando era miúdo, lembro-me de ouvir cenas do Japão, Coreia, Bangladesh, descobri artistas brasileiros, artistas cubanos e africanos, do Reino Unido… Por isso, as minhas influências vieram de todos esses lados. Também ouvia muito hip hop da costa este. Algumas coisas do sul também, claro, porque foi onde cresci. Mas no que diz respeito à música sobre a qual eu gravito e que eu melhor compreendo, é um espectro bem mais alargado do que aquela que é criada dentro da minha região.

Falas na capacidade de tocar vários instrumentos como algo presente na maioria dos cidadãos de Nashville e tu próprio, no Bandcamp, apresentas-te como um multi-instrumentista. Eu rodei o álbum várias vezes e não consegui decifrar qualquer sample. Foste tu que tocaste tudo aquilo que ouvimos no Aphelion’s Traveling Circus?

Eu acho que o álbum só contém um sample, se não estou em erro. Tudo o resto foi feito por mim durante a produção. Eu tenho guitarras, teclados, sintetizadores, consigo simular instrumentos de cordas… Tenho um violoncelo, que toquei no disco. Tenho uma bateria digital, munida com um amplo leque de drum kits que tenho vindo a acumular com o tempo. Foi o aglomerar disso tudo que fez este projecto. Em projectos anteriores eu dependia imenso de samples. Agora que amadureci enquanto artista e enquanto músico, que me disciplinei nos mais variados instrumentos, praticamente tudo vem de mim. É do tipo, se eu ouvir algo de que goste, em vez de samplar tento tocar. Dessa forma consigo manipular muito melhor a forma como as coisas são tocadas e como encaixam no resto.

Tu há pouco falaste-me da importância do cinema para ti enquanto criativo. Do que eu absorvi das letras, arriscaria-me a dizer que há também aí reminiscências de outros universos, como livros e videojogos.

Ya! Claro. A minha mãe era uma daquelas pessoas que sempre quis que eu fosse uma pessoa melhor do que o que existe ao meu redor. Não importava em que circunstâncias. Ela encorajava-me a ler. Sempre tive uma carrada de livros em casa. Videojogos também. Essas coisas mantinham-me em casa e não me deixavam tanto tempo na rua, por aí. Até porque, durante a minha infância, passei muito tempo de castigo [risos]. Em criança joguei muitos videojogos e li muitos livros. Em adulto, meio que recuperei esses hábitos. Comecei a coleccionar muitos videojogos antigos, que tinha quando era novo. Muitos deles nem consegui terminar na altura por estar sempre de castigo [risos]. Finalmente tive a oportunidade de chegar ao fim de alguns jogos. É uma experiência totalmente diferente. Mas posso dizer que sim, foram coisas que me influenciaram muito. As bandas sonoras dos jogos, o artwork, os diálogos… Joguei muitos RPGs e jogos de acção/aventura, que dependem imenso de histórias e personagens marcantes. Há dinâmicas muito, muito boas. Até que te ensinam algumas lições de vida. Eles enfiam muitas lições de vida dentro desses videojogos. O mesmo se passa com os livros. No outro dia estava a falar com o meu colega de casa, porque estávamos a rever o Harry Potter… No segundo ano de escolaridade eu tive uma professora, que foi das poucas a ter imensa fé em mim… Amo aquela senhora até à morte e espero que ela esteja bem. Mas a senhora Illg metia-nos a ler Harry Potter à parte do nosso plano curricular. Aqueles livros deram-nos os pontos que precisávamos para o ano todo porque eram incrivelmente grandes. E eles inspiraram-me imenso. Só mais recentemente é que pude mergulhar na ficção científica. Em criança, foi o Harry Potter e mais uns quantos livros em torno do paranormal. Os Arrepios, por exemplo. Entre outras coisas relacionadas com magia e mistério. A ficção científica surgiu por volta dos meus 22 anos. Foi quando fui a uma livraria e disse ao gajo da loja que estava à procura de ficção científica. Ele ficou tipo “ah!” E levou-me ao fundo da loja para me dar um livro do Ray Bradbury. Era o The Illustrated Man. Posso dizer-te que esse livro me deixou estupefacto. E ele deu-mo de borla. “Toma isto, vais adorar. Só te peço que voltes para me dizeres o que achaste”. O conceito de livraria está a morrer… Já não existem muitas. Porque as pessoas preferem a Amazon, os Kindle Fire, os audiobooks… Essa merda está a tomar conta da cena. Mas ya, ele deu-me o livro e mudou a minha vida por completo. A partir daí foi sempre a crescer, no que diz respeito a livros de ficção científica.



Antes desta entrevista andava a ver que tipo de reacções é que ecoavam na Internet sobre o teu álbum e deparei-me com um artigo muito interessante da NPR, que falava sobre uma nova vaga de artistas de hip hop a surgir em Nashville e no qual surgias em destaque. Para ti, que estás no centro da acção, o que é que sentes que está a acontecer ao certo?

Já não era sem tempo, man. A comunidade hip hop em Nashville existe deste os 80s/90s. Há uns quantos OGs nesta cidade que fizeram músicas incríveis. Esta é uma cidade de hustlers. Temos carradas de empreendedores. Temos o Quanie Cash, Dell & Digum… Há umas quantas pessoas que ajudaram a espalhar a palavra. Eu diria que o momento alto foi nos 2000s, quando o Young Buck surgiu nos G-Unit. Isso foi uma grande cena para a cidade. Digas o que disseres sobre o Buck, ele trouxe imensa atenção para a cidade. Mesmo que ele não andasse por aí a ajudar a malta da zona, só a existência dele trouxe uma grande dose de atenção para nós. O primeiro álbum dele até de chama Straight Outta Cashville. Apontou para cá os holofotes. A malta percebeu “yo, há gente desta cidade do sul, onde não se ouve mais nada a não ser música country, que consegue mesmo rimar”. Isso foi muito importante para nós. Depois disso tivemos o All $tar, que agora se chama Starlito, na Cash Money. Ele tornou-se um monstro e tomou o underground de assalto. Colaborou com o Don Trip, de Memphis, que foi extremamente importante. Porque Nashville e Memphis têm esta estranha rivalidade, em que há um grande sentimento de ódio de uns para com os outros. Eu não te sei dizer porquê. Só sei que sempre foi assim. Por alguma razão a malta de Nashville e de Memphis não se dão. O Starlito e o Don colaborarem foi algo extremamente importante para o hip hop sulista. Abriu uma janela que fez com que as pessoas se mostrassem mais abertas a colaborar umas com as outras. “Nós somos do mesmo estado, temos de segurar esta cena porque ninguém o vai fazer por nós”. Porquê movermo-nos separadamente se podemos unir forças e atacar a indústria como uma potência só?

Relativamente ao agora? Nashville ficou bem melhor no que toca ao mediatismo dentro da cena hip hop. Tivemos a máfia da música country a tentar suprimir-nos, porque Nashville é uma cidade governada por “gajos brancos”. Vou-me ficar por aqui. Essas pessoas não querem que a cidade seja reconhecida necessariamente pela música feita por gente com a minha aparência. Se calhar só lhes interessa que o foco do turismo na nossa cidade passe pelos homens e mulheres brancos. E talvez isto os fosse assustar ou trazer o tipo de atenção que eles não querem para a cidade. Mas a coisa chega a um certo ponto em que, por mais que tentes tapar a panela de pressão, a cena rebenta. Creio que é isso que está a acontecer neste momento. Toda a gente que está a fazer música na cidade está focada, a trabalhar a sua arte, a ramificar-se para outras zonas mais distantes. Eles já não se preocupam em ser os melhores da cidade. Eles preocupam-se em ser os melhores à escala nacional, em partir em digressão pelo país. É exactamente onde temos de estar agora. Dá-nos um ano e a indústria musical vamos ser nós. Até porque somos muitos, operamos em géneros diferentes e somos todos criativos por defeito. Temos algo que precisamos e temos de o dizer ao mundo.

Olha, este ano foi — e está a ser — de loucos. Imagino que o tenha sido ainda mais para um cidadão norte-americano. Não vos bastou o COVID-19, ainda tiveram a morte do George Floyd a despontar manifestações à escala nacional. A tensão racial está no seu auge. Recentemente o vosso presidente ameaçou não reconhecer o Joe Bidden como vencedor do último sufrágio. Como tens estado a lidar com tudo isto?

Pessoalmente, estou tranquilo. Isto não é nada de novo para nós. Mas é um facto: estamos numa crise nacional. E temos este bobo como nosso representante para o resto do mundo… Está a tornar-se exaustivo. Tipo, “sai daqui, meu! Não precisamos de ti. Tu não és bom”. Nós odiamos 99% das coisas que ele diz [risos]. Ele só se importa consigo mesmo. Não importa com que custo. Há muitas pessoas que já sofreram com isso. Não precisamos desse tipo de representação. Precisamos de um líder para o nosso povo. Alguém que faça as coisas bem feitas. Só que eu não sei se, do modo como o nosso sistema está montado, isso é viável. Sinto que o melhor a fazer é começar algo de novo, que seja justo para toda a gente. Todos temos de estar no mesmo patamar. Essa cena dos protestos após a morte do George Floyd… Eles andam a matar-nos aos anos e vão-se safando! Chegámos a um ponto em que era uma cena rotineira. “Adivinha quem é que a polícia matou esta semana?” Ficamos irritados, marchamos, protestamos, chegam organizações até nós, iniciam-se campanhas de solidariedade e angariação de fundos… Depois a polícia chega, suprime-nos, chegam as finais da NBA e toda a gente meio que se esquece e segue com a sua vida. Acho que a única diferença entre o antes e o depois é que deixou de haver tantas distracções. Não temos cerimónias de entregas de prémios, não há concertos, não podemos ir a bares. Estamos nas nossas casas e os nossos olhos estão colados aos ecrãs dos computadores e dos telemóveis.

Ainda não decidiste como vais continuar a promover o disco, na estrada ou na Internet, mas já andas a criar músicas novas. Quais são os teus próximos planos para o próximo ano?

Para o próximo ano, penso em melhorar a minha arte para poder oferecer a melhor música possível às pessoas. Tenciono tirar algum tempo para mim e para a minha sanidade mental. Acho que isso é muito importante para um artista, tirar algumas pausas para aliviar a cabeça. Somos o tipo de pessoas que fazem isto por amor. Falo por mim: todos os dias, quando acordo, eu tenho música na cabeça que precisa de sair. Mas quero tirar algum tempo para jogar videojogos, assistir a uma carrada de animes, ouvir música… Tenho andado a exercitar-me no piano cada vez mais. Tenho andado a exercitar-me no violoncelo cada vez mais. Acho que em breve vou começar a tocar trompete. Acho que, da próxima vez que receber uma boa quantia de dinheiro, vou comprar um trompete e vou ensinar-me a tocar aquilo. Tenho alguns projectos nos quais estou a trabalhar, que em algum momento acabarão por vir cá para fora, talvez durante o próximo ano. Provavelmente vou fazer uma actuação digital. Mas quero que seja uma cena única. Eu vejo muita malta que se limita a montar uma câmara e já está. Creio que as pessoas merecem mais do que isso da minha parte. Sinto que eu, apenas sentado com um microfone à frente, não faz justiça àquilo que eu crio. Quero que as pessoas se sintam entranhadas na experiência, que fiquem com os olhos colados na cena.


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