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É quase um pecado que não existam espetáculos todos os dias da semana, para que a probabilidade de noites como esta da passada sexta-feira, 12 de Abril, possa aumentar.
XEXA entrou em palco com um sorriso incendiando a sala, que vivia momentos de amena cavaqueira entre o numeroso público que esperava os concertos. Agora, todas as atenções estavam viradas para o gesto que iniciava a apresentação do seu trabalho de estreia pela Príncipe Discos, Vibrações de Prata.
Por detrás de um altar de colorido padrão, XEXA mostra-se dotada da capacidade de emular os digitais sons criados nos mais carnais e madeiros analógicos, apurada nos detalhes e com o cunho de rebeldia de querer todos os seus momentos revestidos de um cuidado de ourives. Nada é ao acaso. A riqueza de composição veste de especial beleza os seus momentos minimais.
Entramos no mundo da DJ e produtora pelas suas mãos e voz. Senhora de uma elegância extrema e de uma voz peculiar, encheu a Black Box do gnration com uma viagem rica em diversidades sonoras. Desde traços ambientais a enchentes fantasmagóricas tribais, fomos conduzidos ao imaginário de um mundo preenchido de minudência, beleza e êxtase. Chegaria o final do concerto com a surpresa de um espetáculo tão rico em cuidado musical e deslumbre.
A espera por Nabihah Iqbal foi breve. Depressa nos vimos imbuídos na introdução de DREAMER com a música “In Light”. Acreditei que estaria na presença de uma banda de post-rock, e logo fui avisado de que não, por muito que me recordasse as Fin Del Mundo.
Nabihah iniciava o seu primeiro concerto em terras lusas e, também, em formato banda. Um quarteto constituído por Aldus Robinson na guitarra, ele que acompanha Iqbal noutras aventuras, em dueto; Beth O’Lenahan, na guitarra baixo; Elmo Raves, na bateria; e a própria Nabihah, na voz e na guitarra.
Ao termino de cada música, Iqbal contou-nos uma história. Foi assim que soubemos que “Dreamer” é, entre muitas coisas, sobre o seu casamento e de toda a assoberbação de se estar apaixonado e nada mais desejar do que querer tanto estar junto de quem nos completa. Nestas narrativas, descobrimos que “Sunflower” é sobre humanidade e é inspirada em todos os artistas e almas criativas que se cruzam connosco e muito cedo partem deste estágio terreno… Tal como Jeff Buckley, recentemente descoberto pela artista, e Byron, um dos seus poetas de eleição. Aprendemos que “Gentle Heart” tem a ver com o pôr do Sol em Londres, no Verão. E ainda que “Closer Lover” foi inspirado nas cartas de John Keats à sua amada, enquanto apartados por motivos da sua doença terminal e conscientes disso mesmo. Nabihah é, a nosso ver, a compositora mais alegre de músicas tristes.
Houve tempo, ainda, para duas covers. Uma dos Deftones, “Be Quiet and Drive (Far Away)”, banda de eleição da cantora; e uma outra muito esperada pelo público, dos The Cure, “Forest”, executada de forma brilhante, à imagem da banda, e que deixou o público rendido à sua qualidade.
Nabihah Iqbal é produto do bom que estes tempos conturbados criam. Senhora de uma criatividade multifacetada e de uma cultura geral riquíssima, trouxe a palco uma amalgama de talismãs com a sua música. Obviamente que será tão grande quanto quiser ser, pois tem o talento para isso, e a sua banda não podia ter sido melhor escolhida. Alturas houve em que percebi Kae Tempest entre esses talismãs, outras em que a guitarra de Johnny Marr, dos The Smiths, era marcante e toda a atmosfera nos enchia com os Cranes. Esta maga da composição está longe dos rótulos de post-punk e aforismos do género. Iqbal é uma transportadora de boas influências e, se a mantivermos debaixo de olho, o futuro reservar-nos-á boas surpresas.
No fim, foram os autógrafos, os vinis e os milhares de pasteis de nata com abraços.
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