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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 01/05/2023

“Não Me Leves a Mal” e “Compensa” são os primeiros avanços de mais um trabalho feito com o produtor Nanu.

Na jornada para o terceiro disco, o potencial de Yang revela-se cada vez mais

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 01/05/2023

Com dois discos no currículo, Yang tem vindo a construir um percurso notável, embora discreto, no cada vez mais amplo mapa nacional das rimas e batidas. Na sexta-feira passada, 28 de Abril, apresentou um novo single, “Compensa”, que sucede a outro tema que apresentou recentemente e que teve algum impacto, “Não Me Leves a Mal”.

Yang, que tem vindo sempre a trabalhar com o produtor Nanu, parte do hip hop mas tem explorado sonoridades tão distintas que torna difícil categorizar a sua música, seria sempre redutor. É um protótipo de um artista nascido numa era em que cada vez mais se esbatem as fronteiras entre géneros musicais e o que importa é a melhor mescla que cada um consegue fazer.

João Branco de nome civil, tem hoje 24 anos e vive em Oeiras, embora tenha passado por Carcavelos e tenha morado alguns anos em Mem Martins. O seu interesse pela música, que vem desde muito cedo, pode muito bem ter vindo do pai, que sempre tocou guitarra e cantava em casa. Chegou a ter algumas bandas, e Yang descreve-o carinhosamente como o arquétipo do “gajo que levava a guitarra para a fogueira”. 

“Sempre foi uma pessoa muito apaixonada por música, consumia bastante música variada. Tinha aquela caixa de CDs bem vasta na bagageira, isso ajudava nas viagens.” Ali tanto se ouvia Toranja como Mind da Gap, exemplifica. “Daí se calhar nasce a primeira raiz. Mas sempre fui um puto um bocado criativo e que se intrigava sobre como é que as coisas eram feitas. Com o passar do tempo, também me interessei por guitarra, muito por estar a vê-lo e tê-la lá. As primeiras cenas que toquei foi numa de ir roubar a guitarra dele ao quarto.”



Chegou a frequentar escolas de música, mas foram sempre passagens muito breves, sem grande repercussão. Eventualmente, começa a cantar covers, no início da adolescência. À medida que os anos foram avançando nesta fase tão importante para o desenvolvimento pessoal, começou a ouvir cada vez mais rap.

“Durante a adolescência, o sítio aonde me agarrei mais foi ao hip hop. Já tinha outro tipo de maturidade para ouvir e na altura teve um impacto bué significante em mim. Aliado a isso começou a brincadeira dos freestyles. E era engraçado porque eu era o gajo que estava de guitarra, mas ao mesmo tempo também gostava de fazer aquilo. Nasceu ali uma fusão engraçada.” Nessa altura gravava e partilhava vídeos de covers online.

Chegada a altura da faculdade, optou por um curso na área do desporto, onde esteve dois anos. Mas não estava seguro de que era aquilo que queria para a sua vida. Sabia que a música era uma paixão superior, mas tinha dúvidas e não se sentia determinado. “Meio que precisava ali de uma luz.”

Essa luz chegou na forma de Slow J, quando João Branco ouviu, certo dia, uma entrevista com o rapper e produtor na Antena 3. “Nessa entrevista ele diz: ‘parem de fazer covers. Se querem criar, não façam covers porque isso é o caminho fácil’. E eu: ‘isto está-me a fazer bué sentido’. E foi assim [risos].”

“Eu vejo essa cena, estou sentado com uma amiga minha na sala, estávamos a ter uma daquelas conversas meio que sobre decidir o futuro. ‘Não estou bem, tenho de perceber o que quero fazer’. Curiosamente ouvimos isso e ele diz que estudou engenharia de som. E como às vezes sou um gajo um bocado impulsivo… Pensei logo: isto é o que quero fazer. Só que ele diz que estudou no estrangeiro. Então, no dia a seguir, cheguei ao pé da minha namorada: ‘Olha, é assim, vou estudar para Inglaterra’ [risos]. ‘Mas isto vem de onde?’ Depois sentámo-nos e lá vimos hipóteses aqui em Portugal. Acabei por ir para a Escola Superior de Música de Lisboa.”



Foi no curso de engenharia de som que conheceu precisamente Nanu. Entraram no mesmo ano, eram ambos da zona de Oeiras e deram-se logo bem. Nanu já tinha algumas bases — tinha feito um curso de produção na World Academy. Yang acabou por também se iniciar na produção nesta altura, numa fase em que já idealizava construir um projeto na área do hip hop ou música urbana. E a simbiose entre os dois muito contribuiu para isso.

“Acho que era um bocado o que faltava a cada um de nós. A ele faltava alguém que explorasse os beats e as ideias dele. A mim faltava-me um mentor a nível de produção, porque também foi uma cena em que fui evoluindo graças a ele. Ele é que me foi passando essas bases.”

O primeiro resultado desta parceria artística foi o EP Modus Operandi, lançado em 2020 e que Yang descreve como “uma descoberta de tudo”. “Superou muito as nossas expectativas. Para já, nunca fizeste, portanto não sabes o que vem aí. Ao longo desse processo fomos descobrindo coisas bacanas. Olhando para o fim do projeto, a nível criativo não estávamos balizados com nada. E acho que isso se refletiu, está bué variado. Não estávamos a pensar num género específico, se o público queria ouvir isto ou aquilo. Noto perfeitamente que se nos apetecesse mudar um beat a meio fazíamos, e foi o que fizemos com o ‘WWA’, que foi um dos sons que na altura correram melhor. Relativamente ao público também foi surpreendente. Nós não falámos com ninguém sobre isto. Foi uma coisa que quisemos manter e preservar… Queríamos que fosse orgânico. Do nada lançamos aquilo em agosto, que se calhar é dos piores meses, e correu bué bem, com muita gente a partilhar e a vir falar connosco.”

O EP evidenciava um artista livre de regras e padrões, que tanto cantava como rappava — talvez à imagem de Slow J — por cima de bases instrumentais diversas e ricas, que se envolviam de forma orgânica com os refrões melódicos. Deram seguimento a esse projeto com o álbum Overtime, que haveriam de lançar em 2021.

“A nível de escrita pensei um pouco mais, era o segundo projeto e efetivamente queria que fosse melhor, que se sentisse um gap. E sinto que se nota uma linha bastante coesa entre as cenas que fizemos.” Em Overtime já apostaram em ritmos mais “batidos” e dançáveis, tal como aqueles em que Yang continua a apostar agora.



“Não Me Leves a Mal”, o single que apresentaram em março, surgiu naturalmente numa sessão de estúdio em que Yang estava com outro amigo. “Fiz a melodia e a partir daí o tema desenvolveu-se bastante rápido. Gostamos de partir de conversas, o ambiente da sala é importante para nós, e acabámos por aplicar isso no tema que estávamos a escrever. Depois acabei de escrever o segundo verso e chega a parte em que o Nanu vem e arrasa aquilo que fizemos e dá-nos na cabeça [risos]. Estou a brincar, mas ele tem um olho bastante cético e é uma pessoa que se deixa influenciar muito pouco. Desliga-se completamente e é um ouvido que queres ter no estúdio. Porque ele vai dizer-te exatamente aquilo que sente e é muito assertivo.”

Fizeram um videoclip elaborado que retrata um combate num ringue. “Pelo poder energético da música, já tinha na cabeça que queria algo a ver com street fight ou boxe. A cena partiu daí. Construímos a ideia todos juntos, gostamos bué de colaborar e trabalhar em equipa.” Também são Yang e Nanu que misturam e masterizam os seus próprios temas.

Esta sexta-feira, 28 de Abril, foi a vez de revelar outro single, “Compensa”. “Gosto mesmo muito da música, da maneira que está a soar, da mensagem que traz e da leveza com que, mais uma vez, a música aconteceu. Estou bastante curioso para saber o que é que a malta vai sentir. É uma perspetiva diferente, mais leve, mais tranquila. Visualmente transmite-me muito um pôr do sol, uma cena mais relaxante.”

Estes dois temas farão parte de um terceiro disco, que está a ser preparado e que pode ficar pronto nos próximos tempos. “Estou a trabalhar para isso. Se conseguir, antes do verão…” Yang assume estar “ainda numa fase de descoberta” e de formação de uma identidade artística, mas claramente já deu provas do seu potencial. “Não sou um gajo muito fixo, de ficar balizado a um certo género ou tema. Gosto de ser inspirado e ser um veículo para isto, de deixar passar a vida através da minha música.”


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