pub

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 07/02/2022

Foi bom enquanto durou.

Na hora do intervalo sem fim definido, 15 canções dos BROCKHAMPTON para ouvir em repeat

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 07/02/2022

A 14 de Janeiro de 2022, os BROCKHAMPTON anunciaram um hiato, uma surpresa para o mundo e um adeus que se espera temporário, mas para já por tempo indefinido. É seguro afirmarmos que a formalmente designada “All-American Boy Band” deixou a sua marca, usando a música como ponto de partida para uma exploração (bastante) pessoal. Os seus temas empáticos e emocionais vivem muito do hip hop mas, através de hooks infecciosos e earworms intoxicantes, demonstram um alcance mais abrangente e uma aguçada sensibilidade pop. 

A obra sonora do grupo encabeçado por Kevin Abstract — e que conta com mais de uma dezena de colaboradores entre os quais rappers, produtores e designers — é composta por vários capítulos, em que acompanhamos a colectiva na sua evolução, tanto musicalmente como emocionalmente. Começaram por se apresentar ao mundo com a mixtape ALL-AMERICAN TRASH, um bloco de pedra lapidado de forma simples. A energia de temas como “BEN CARSON”, “PALACE” ou “MICHIGAN” dão algum contorno ao mármore, mas ainda não se notava nos BROCKHAMPTON aquela facilidade em se desdobrarem uns nos outros sem perderem a sua própria identidade.

A trilogia de álbuns SATURATION consagrou-os como uma força musical a respeitar, através da sua facilidade em criar refrões que não saíam da cabeça e batidas apetecíveis, servindo como a ideia geral para os álbuns que se seguiram. Mas esse plano foi abalado em 2018: depois de assinarem um contrato milionário com a gigante RCA Records, Ameer Vann foi expulso quando surgiram acusações de abuso sexual e emocional. iridescence surge na ressaca de tudo isso, do sucesso e da dor pessoal, o projecto que os BROCKHAMPTON precisavam de fazer para poder seguir em frente.

Um ano depois dessa terapia musical, estavam prontos para conquistar o mundo da música pop. Em GINGER, vemo-los a colaborar com outros artistas de forma expressiva, mostrando-se menos introspectivos, rejuvenescidos, prontos a partilhar o seu espaço sonoro com os seus contemporâneos. O resultado é um projecto ambicioso, um álbum direccionado e habilmente executado. 

Ainda com ROADRUNNER: NEW LIGHT, NEW MACHINE na cabeça e no dia em que dão uma das suas últimas actuações, em Londres, em jeito de despedida/celebração deste grupo que certamente ficará marcada na história recente da música, aqui fica uma lista de 15 músicas dos BROCKHAMPTON em que se ouve aquilo que melhor sabem fazer: músicas bem construídas, empáticas e fáceis ao ouvido.



[“GOLD”]

Um exercício da clássica técnica de egotrip, em que escrevem sobre a riqueza física como metáfora para o orgulho na “riqueza” mental, no orgulho em ser quem se é. É uma metáfora interessante, e também ajuda ter um dos melhores hooks de Kevin Abstract de toda a trilogia SATURATION



[“MILK”]

Aquilo que os BROCKHAMPTON sabem fazer melhor: simplicidade que bate bem forte. Soa nos últimos momentos da sua estreia como uma take home message sublime, em que Ameer Vann, Merlyn Wood, Dom McLennon e Matt Champion falam sobre as vicissitudes das suas vidas, e que culmina num refrão com uma verdade tão universal que a simplicidade é perfeitamente adequada.



[“QUEER”]

Bastou chegarem ao segundo álbum para estes rapazes se sentirem capazes de tudo e prontos para qualquer desafio. Esta canção é um dos destaques de SATURATION II, intensa de forma caótica com um refrão calmo e de velejar descontraído, fervor que culmina numa atmosfera de missão cumprida. É uma dicotomia bem explorada, alternando de forma engenhosa entre dois ambientes diferentes. 



[“JUNKY”]

A batida ameaçadora deste queima o pavio enquanto são discutidos tópicos como a homofobia, toxicodependência, e machismo. Os BROCKHAMPTON trocam as melodias apelativas e facilidade ao ouvido por algo mais desconfortável, sem nunca deixarem de soar honestos, transmitindo mensagens urgentes e necessárias.



[“FIGHT”]

Uma das destrezas dos BROCKHAMPTON é conseguirem abordar temas de consciência social de um ponto de vista pessoal mas, ao mesmo tempo, universal. “FIGHT” é um hino à perseverança e à luta contra o racismo, orgulho no que escolhemos quando jogamos o jogo da vida mas com a noção de que para alguns os dados estão viciados.



[“BOOGIE”]

No que toca a bangers que explodem ao vivo, é certo que este deixará muitas saudades. A sua energia maníaca é melhor apreciada em grandes espaços ao ar livre, alicia-nos a que gritemos as suas palavras aos saltos, tresloucados e em êxtase. É uma lição em bangers engendrada com uma naturalidade jovial.



[“BLEACH”]

A primeira das várias colaborações entre Ryan Betty e os BROCKHAMPTON em que os hooks nos prendem logo após a primeira audição. A sua batida docemente digital consegue abraçar e simultaneamente soar inóspita, adequando-se às palavras íntimas e tristes que a acompanham.



 [“WEIGHT”] 

Dotado de soberbos arranjos de cordas interpretados por oito músicos, este destaque de iridescence é adornado de muito mais sentimento, uma evolução musical face à modesta mas eficaz produção da trilogia de álbuns SATURATION. É profundo, de ponderação, com várias fases que terminam de forma fatídica, levando o ouvinte numa viagem de final doloroso e execução magistral. 



[“DISTRICT”]

É um dos temas que justifica o porquê de iridescence ser o álbum mais experimental dos BROCKHAMPTON. Há muita abrasividade, caos de altas octanas destilado pela batida e pelos intervenientes vocais. No olho do furacão, discutem a nova etapa social e financeira da sua vida, com uma pujança inigualável. 



[“NO HALO”]

Um dos cartões-de-visita para a música dos BROCKHAMPTON. A guitarra é incorporada de forma exímia, um instrumento que por esta altura já não era estranho na música deste grupo mas que aqui ganha outro corpo. Resguardado e pensativo, “NO HALO” é sobre ter esperança, nunca desistir e seguir em frente de cabeça erguida, e mostra exactamente porque é que este grupo é tão especial. 



[“SUGAR”]

Se o título não for claro, a canção trata de o esclarecer: esta é, sem dúvida, a música mais calórica dos BROCKHAMPTON. O refrão — mais uma vez cortesia de Ryan Beatty — é docemente intoxicante, um convite para nos perdermos com a nossa cara-metade e uma ode aos amores da juventude.



[“GINGER”]

A faixa que dá o título ao quarto álbum une melancolia e algo semelhante ao chorar de um robô numa batida dançável que exercita tanto os pés como a mente. É para reflectir, e ouvimos nas declarações sentidas de Matt Champion ou bearface uma emoção genuína, tornada ainda mais real pelo refrão choroso. 



[“BUZZCUT”]

Foi o primeiro avanço de ROADRUNNER: NEW LIGHT, NEW MACHINE, o equivalente a mandarem a porta abaixo a pontapé e anunciarem que estavam de volta. A sua energia característica mostra-se polida, auxiliada pelo calor insano de Danny Brown, e a música consegue fazer muito em pouco tempo com uma progressão instrumental bem orquestrada.



[“BANKROLL”]

Naquele que é agora tido como o seu último projecto, conseguimos perceber que os BROCKHAMPTON já tinham uma fórmula aprimorada, e “BANKROLL” é (mais) uma expressão dessa fórmula. Auxiliados por uma potente introdução de A$AP Ferg, fazem o que sabem fazer melhor. Melodias instrumentais apelativas e uma percussão vivaça de banger juntam-se a versos de opulência em que a química do grupo transparece fielmente.



[“DON’T SHOOT UP THE PARTY”]

No seu último álbum, aproveitam para fazer um throwback aos primórdios da sua carreira. A batida lembra o trabalho instrumental da trilogia SATURATION, um piscar de olhos para os fãs OG e uma execução sem falhas para aqueles menos familiarizados com a obra dos BROCKHAMPTON. Nesta reflexão sobre a violência de armas nos Estados Unidos, há uma festa apocalíptica que não poupa na adrenalina.

pub

Últimos da categoria: Ensaios

RBTV

Últimos artigos