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Publicado a: 14/12/2017

N.E.R.D: uma visão idealizada em Neptuno

Publicado a: 14/12/2017

[TEXTO] Gonçalo Oliveira [FOTO] Direitos Reservados

Desde a “despromoção” de Plutão em 2006 que Neptuno passou a ser o planeta mais afastado do Sol, considerando apenas a nossa galáxia, obviamente. Descoberto no século XIX, ainda muito pouco se sabe sobre o grande globo azul, isto quando comparamos com o conhecimento e experiência adquiridos durante os milhares de anos que o ser humano leva no planeta Terra.

Não estamos muito virados para a ideia do Homem se apoderar de um qualquer corpo celeste para o usar em seu próprio benefício. Basta-nos o planeta no qual residimos, que tanto se tem degradado com o uso excessivo dos recursos que tem para oferecer, ao qual se junta ainda o factor da poluição, cujas marcas ecológicas são cada vez mais visíveis – e sentidas – no nosso dia-a-dia.

Mas existem excepções: e se a vida em Neptuno fosse limitada a duas pessoas? Com um terceiro elemento, que se certificaria de que a passagem do Homem por aquele planeta seria a maior das lições no capítulo da sustentabilidade. A finalidade era simples: criar arte através de uma nova perspectiva. Bem-vindos ao planeta N.E.R.D.

 



[A ORIGEM DOS N.E.R.D]

A ideia que leram na introdução do texto não é, de todo, nossa e, de certo modo, foi já colocada em prática por uma dupla de amigos de longa data de Virginia Beach. Colocando de lado a imaginação, Pharrell Williams e Chad Hugo conheceram-se através da música aos 12 anos. Começaram a elaborar as primeiras músicas alguns anos depois e as experiências eram postas em prática ao lado de outros amigos como Timbaland ou Sheldon Haley, que mais tarde viria a fazer parte dos N.E.R.D..

A química existente na parceria de Chad e Pharrell foi crucial para o aparecimento do trio que veio mexer com as águas da pop e do rock. No início da década de 90, os dois deram início a uma das melhores duplas da produção musical à escala mundial, cujo conceito seria vestir a pele de de um habitante de Neptuno para trazer até nós, comuns mortais, uma nova abordagem à música até então feita. A colaboração fez borbulhar centenas de produções para outros artistas, dignas de uma origem longínqua, como se fosse feita num outro qualquer planeta que não a Terra.

A partir de 1992, os The Neptunes foram contribuindo bem de perto para a evolução da música global, produzindo para Jay-Z, Busta Rhymes, Ma$e, Ol’ Dirty Bastard, Ludacris ou Noreaga. Desse trabalho precoce, a dupla estabeleceu parcerias de sucesso com Kelis, Justin Timberlake e os Clipse. Pharrell Williams e Chad Hugo já amealharam vários prémios e distinções – destacamos os quatro GRAMMYs enquanto The Neptunes.

Nunca faltou o reconhecimento dos seus pares e da crítica, mas ainda havia uma grande fome em conseguir ainda protagonismo no panorama musical. A vontade de se emanciparem levou à criação dos N.E.R.D., projecto para o qual começaram chamaram novamente Sheldon Haley, a peça que faltava ao trio que viria a baralhar a ideia de rock e hip hop que se tinha até então.

 



[OS ÁLBUNS]

O grupo já conta com quase 20 anos de carreira, carregando o acrónimo No_One Ever Really Dies, um nome que faz jus à sua longevidade. Apesar dessas quase duas décadas no activo, o trajecto dos N.E.R.D tem sido pontuado por momentos altos e baixos.

A banda conseguiu um contacto com a Virgin na sua fase inicial, o que lhes permitiu um certo conforto para a produção de um disco de estreia. O objectivo passaria por aplicar as técnicas que Pharrell e Chad foram aprimorando para outros artistas, com recurso a instrumentos reais para ganhar uma sonoridade mais trashy, digna de um conjunto de rock. Antes de colocarem de lado a produção digital definitivamente, os N.E.R.D. editaram em 2001 a primeira versão de In Search Of…, que posteriormente recebeu um novo tratamento com a ajuda dos Spymob para a sua versão final de 2002.

O álbum de estreia trouxe-nos a frescura de uma nova combinação entre o rock e o hip hop, com muito funk e até r&b pelo meio. In Search Of… é uma espécie de peso-pesado, um trabalho em que as letras de Pharrell remontam ao período do ensino secundário e cativam-nos pela sua sinceridade juvenil. Kelis ou Pusha T e Malice, dos Clipse, foram alguns dos colaboradores na estreia do grupo liderado por Pharrell.

 



Três anos passaram até Fly Or Die, aquele que foi, muito provavelmente, o álbum dos N.E.R.D. que chegou a mais gente. A banda deu uma volta de 180 graus para a produção do segundo projecto, tendo abdicado dos serviços dos Spymob para que Pharrell, Chad e Sheldon se focassem a 100% em todos os aspectos do disco. Os dois primeiros começaram a estudar e praticar em novos instrumentos para que conseguissem replicar ao vivo tudo aquilo que surgia apresentado no alinhamento. Novamente com o carimbo da Virgin Records, este seria o derradeiro trabalho – que contou com participações de Lenny Kravitz e Questlove – a ser editado pela editora. “She Wants To Move” foi um dos hinos da música pop de 2004.

Seeing Sounds e Nothing surgiram em 2008 e 2010, respectivamente, e marcaram a estreia da Star Trak Entertainment, o selo editorial criado pelo grupo em parceria com a Interscope. Os dois discos também foram marcos importantes para entendermos totalmente a visão da banda, expandido, cada vez mais, os seus projectos. Apesar da queda do número de vendas, trio continuou a surgir bem posicionada nas tabelas de música um pouco por todo o globo. Nelly Furtado, Daft Punk ou Jimmy Iovine contribuíram para o último álbum que o N.E.R.D. nos deixaram… até dia 15 de Dezembro de 2017.

 

 



[O LEGADO]

Pharrell Williams tornou-se uma das maiores estrelas pop nos últimos anos, levando uma legião de músicos, cantores e produtores a tentarem copiar e emular o seu estilo. Seja nos The Neptunes ou nos N.E.R.D., o autor de “Happy” é o homem que dá a cara, e o seu nome é o que surge mais creditado nas obras publicadas. O estilo do Billionaire Boy é inconfundível: batidas fortes, melodias e acordes soul e um falsete que todos nós guardamos em loop no pensamento sempre que sai um novo hit com a sua assinatura.

Todos ficámos viciados em canções como “Drop It Like It’s Hot”, “Get Lucky” ou “Happy”. Muitos dos que perdem o sono com as sonoridades com o artista até já colaboraram de perto com ele. E a ausência de Pharrell nos seus trajectos artísticos poderia mesmo ter originado caminhos bem diferentes daqueles traçaram. Os já referidos Clipse, Kelis e Justin Timberlake serão os casos mais concretos, com a assinatura dos The Neptunes a surgir em grande destaque nos seus discos de estreia. Kanye West é outros dos admiradores do toque de Williams e até já lhe ofereceu versos em “Number One”, o tema colaborativo presente no disco de estreia de Skateboard P, lançado em 2006, numa fase em que Yeezus se estava a tentar descolar do seu registo anterior – mais tradicional – para começar a abordar as maravilhas do digital e da electrónica. O mais confesso apreciador e seguidor dos ensinamentos de Pharrell será Tyler, The Creator, cujo percurso foi sofrendo várias mutações sónicas e que hoje muito se aproxima dos standards do músico dos N.E.R.D.

 


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