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Fotografia: Ana Viotti
Publicado a: 30/09/2025

Electrónica de dança a quatro mãos.

MXGPU: “Fez sentido pensarmos em algo que fosse mais do que só uma colaboração de GPU Panic e Moullinex”

Fotografia: Ana Viotti
Publicado a: 30/09/2025

Tudo começou quase por acaso, numa colaboração que parecia apenas mais uma experiência criativa. Guilherme Tomé Ribeiro, mais conhecido como GPU Panic, cruzou-se com Luís Clara Gomes, o produtor e DJ por detrás de Moullinex, primeiro em palco e depois em estúdio. A química foi imediata: das guitarras e vozes de um lado, às batidas e sintetizadores do outro, foi-se formando uma linguagem comum que rapidamente deixou de ser episódica para ganhar corpo e funcionar em sintonia. O que começou como uma parceira para Moullinex ao vivo, em singles avulso e colaborações ocasionais, transformou-se num projeto com identidade e nome próprios: MXGPU.

Depois de dezenas de concertos em que exploraram formatos híbridos e imersivos, com o público a rodeá-los em formato 360º, com lasers a cortar o ar e a música a nascer em tempo real, entre máquinas e vozes, foi ficando claro que havia ali mais do que apenas uma parceria temporária. Havia uma vontade de criar um universo, de expandir o território da música eletrónica portuguesa para além da pista de dança e de lhe dar a densidade narrativa de um álbum.

É desse percurso que nasce Sudden Light, o primeiro longa-duração de MXGPU. Um disco que resulta de centenas de ideias gravadas em estúdio, filtradas até restarem apenas onze faixas coesas, capazes de equilibrar intensidade e vulnerabilidade, energia clubbing e momentos de introspeção. Pensado como um todo, Sudden Light propõe-se a ser ouvido numa só viagem, numa só corrida, mas ao mesmo tempo abre espaço para canções que já ganharam vida em palco e que ao vivo se transformam em experiências mais cruas e expansivas.

A celebração deste novo capítulo não poderia deixar de ser feita em comunhão com os adeptos e é por isso que nos próximos dias 27 (no Time Out Market, no Porto) e 28 (na Casa do Capitão, em Lisboa) de setembro estão marcados dois concertos que prometem transportar o público para o centro da experiência MXGPU, onde a linha entre artista e plateia se dissolve e a música volta a ser, como dizem os próprios, uma espécie de fogueira partilhada.

Foi a propósito deste lançamento e desta estreia em disco que nos sentámos à conversa com Luís e Guilherme, para compreender melhor como raiou este Sudden Light, de que forma o projeto se distingue das suas aventuras a solo, e o que significa construir uma identidade conjunta depois de anos a cruzar caminhos.



A vossa colaboração remonta já desde o tema “Painting By Numbers”, do álbum Hypersex do Moullinex, e terá sido a primeira colaboração do Guilherme, enquanto GPU Panic, com Moullinex.  

[GPU Panic] Exatamente! 

Foi aí que perceberam que havia uma química e pernas para um projeto conjunto? 

[Moullinex] [Risos] Acho que a química até foi antes disso, porque o Gui entrou na minha banda em  Moullinex Live para tocar guitarra. Eu gostava muito do trabalho dele enquanto guitarrista e vocalista dos SALTO, mas fui contactá-lo para tocar guitarra. E as coisas, de facto… Houve uma  química musical muito grande e desafiei-o para escrevermos e ele cantar num tema meu. E entretanto vários anos se passaram e muito trabalho conjunto houve. E então é que, algures no processo, fez sentido pensarmos em algo que fosse mais do que só uma colaboração de GPU Panic e Moullinex. 

Vocês já estavam a trabalhar para este álbum, o Sudden Light, há algum tempo? Já andavam a trabalhar em alguns dos temas deste álbum antes de sequer pensarem em lançar um álbum? Ou a ideia de fazer o disco veio primeiro e estas faixas já foram criadas a pensar nele? Pergunto isto porque acho que há aqui uma diferença grande entre aquilo que vocês apresentam ao vivo em comparação com o que podemos ouvir neste Sudden Light. Sinto que as músicas do LP têm uma sonoridade mais clean, se calhar até caminha para um lado mais pop e easy listening, digamos assim.  

[GPU Panic] É assim, este disco é muito feito da experiência que vem do formato ao vivo. A maior  parte destas músicas já tocámos ao vivo. As músicas ao vivo são, se calhar, menos polidas e menos arrumadas, como ficam no disco, porque é diferente pensar e gravar  um disco em estúdio e estar a tocá-lo ao vivo. Mas a maior parte destas músicas já as tocámos ao vivo e nasceram exatamente disso, de querermos fazer um espetáculo, de andarmos na estrada com o espetáculo e de queremos fazer  música nova para esse espetáculo. Nascem, por isso, da em que começámos a tocar como Moullinex GPU Panic, neste formato frente a frente, com um laser em cima de nós. Elas nascem aí. Só depois é que aparece no caminho esta ideia de: “Vá, ‘bora dar um nome a isto, que é mais do que só Moullinex GPU Panic!” E como estávamos todos os dias no estúdio a fazer música e havia tanta música que gostávamos e tanta música que queríamos mostrar ao mundo, pensámos que faria sentido juntá-las num só [disco] e contá-las de uma maneira, com um fio condutor, que é um álbum. E é daí que nasce a ideia de álbum.

[Moullinex] O Gui disse tudo. A verdade é que um álbum tem um propósito. Para nós, tem o propósito de ser ouvido numa assentada. Enquanto que singles soltos para a pista e para os DJs tocarem obedecem a outra linguagem. Os single soltos levam o seu tempo, são versões estendidas de 5, 6, 7 minutos. O álbum faz sentido que seja muito mais fluído e dinâmico. Então, muito do que fizemos para o álbum é desdobrado depois  ao vivo de uma forma muito mais larga, e mesmo se fores às lojas de DJs, tipo o Beatport, as músicas vão estar lá nas suas versões estendidas. E o que também é um desafio para nós é conseguir encontrar essa interseção do que é que tocamos ao vivo, com o que é que tocamos nos DJ sets, e o que é que depois faz sentido viver num álbum. Estas músicas, centenas de músicas que desenvolvemos em estúdio, depois traduzem-se em onze num disco — então é algo que se diz de economia de sublimação. 

Foi difícil fazer a triagem dos temas que queriam para entrar neste Sudden Light? Houve muita coisa que ficou de fora, algumas que foram mesmo riscadas à última da hora, do tipo: “Vamos sacrificar esta e depois usamos noutra coisa”?  

[GPU Panic] Sim, houve muita coisa que… Ou melhor, ficou muito mais música de fora do que  dentro do disco, isso é certo, completamente certo. Houve muitas que tiveram até a última naquela do “fica ou não fica?” Não queríamos fazer um disco muito longo também, não fazia parte do nosso  imaginário do que é que seria um primeiro álbum. E há muitas que vão ver a luz do  dia mais tarde, outras que provavelmente nunca sairão, ou quem sabe daqui a uns anos revisitamos, pegamos nessas ideias e damos-lhes uma volta. Mas foi um processo difícil e também muito fixe, porque tivemos muito tempo em estúdio a fazer música, depois tivemos muito tempo a ouvir o que tínhamos feito, e depois tivemos muito  tempo a trabalhar essas músicas que nos deram logo mais vontade de: “Estas aqui fazem sentido trabalhar até ao fim”, para estarem o mais perto possível da sua representação final e  percebermos se vão para o álbum ou não. E depois temos esta representação que para nós era: “Ok, isto aqui já está!” Há as músicas que sentimos que fazem mesmo parte deste universo. “‘Bora mostrar isto a um grupo restrito de pessoas, também para perceber o que é que elas acham destas músicas.” E foi fixe perceber que a maior parte das pessoas estavam a sentir o mesmo que nós e estavam a receber daquelas músicas coisas parecidas. Estávamos todos a caminhar para um sítio parecido e foi uma ajuda muito fixe para chegarmos a esta ideia final do que era o primeiro álbum de MXGPU. Por isso foi um processo longo, foi um processo bastante longo, pensando bem agora em retrospectiva.

Vocês já estão a colaborar há cerca de 5 anos, não é?  

[Moullinex] Sim. Começou com o tema “Swim”, que saiu em Julho de 2020. 

Pergunto isto para enquadrar aqui esta dinâmica de dupla, porque vocês têm os dois backgrounds bastante diferentes, não é? Eu sei que têm ambos um grande gosto pela música eletrónica, mas têm sensibilidades diferentes, óticas diferentes. Se calhar, o Guilherme tem sonoridades mais “brutalistas”, mais intensas comparativamente a algumas cenas do Luís. Acaba por haver aqui um contraste interessante das vossas estéticas sonoras, digamos assim. Que tipo de barreiras musicais é que sentiram que tiveram de quebrar para esta nova união que é MXGPU?  

[Moullinex] Olha, para mim, em muitas coisas não há necessidade nenhuma de comunicar  verbalmente com o Gui. As coisas são muito naturais. E tu, como já conheces o meu trabalho há muito tempo, sabes que eu sou uma pessoa que gosta imenso de colaborar. As colaborações são todas diferentes e esta, de facto, é uma que… Há muita coisa  que não é preciso falar. Temos a mesma intuição em relação às coisas. E eu também já me apresentei em espetáculos muito diferentes, com bandas de quinze pessoas, com banda de duas pessoas, DJ sets, lives sozinho — já fiz todo o tipo de  formatos. E este é o formato que me dá mais prazer tocar ao vivo. Já demos 85 concertos, estivemos a fazer as contas ontem. 85 como Moullinex + GPU Panic, Moullinex GPU Panic e MXGPU. É muito, muito, muito concerto e eu estou a adorar tocar assim, a querer tocar mais assim. O feedback que temos recebido do público também é esse, é mesmo mágico este formato, para o público. E por isso, se isto está a funcionar, acho que é a isto que eu quero dedicar o meu tempo. 

[GPU Panic] Sem acrescentar muito, é completamente isto! Sabemos os dois e sentimos os dois o quão especial isto é. Sabemos os dois, como gostamos mesmo de fazer isto, como gostamos de estar na estrada, como gostamos de sonhar estes concertos, de imaginar estes desafios técnicos e tecnológicos e de implementar um concerto assim no meio do público. De como gostamos de imaginar as tours, de planear as tours, de planear um disco e de viver tão intensamente este processo. Tem sido tão incrível que também não me vejo a fazer outra coisa  e é isso que estou a fazer a tempo inteiro, dedicado de corpo e alma!

Essa vossa performance de 360º, presumo que a vão manter agora nos próximos tempos, já é um trademark do vosso projecto. A primeira vez que alguém chega a um concerto vosso e se depara com aquele setup e se vê ali envolvido convosco, se calhar nem sabe bem o que vai presenciar dentro de momentos, não é? Pelo menos foi o que senti na primeira vez que vi este live.

[GPU Panic] Onde é que foi a primeira vez que viste, lembras-te? 

Foi no NOS Alive. Era para ter visto no Sónar, mas foi aquela situação…

[Moullinex] No Sónar não ias ver um 360º! [Risos] 

Exato, exato. Por acaso já tinha visto vídeos, mas nunca é a mesma coisa. E algo de referir também é a vossa indumentária, que acrescenta ali uma cena, lembra-me de certo modo de Talking Heads, apesar de não ter muito a ver — mas ao mesmo tempo tem.  Tem aquela cenografia, aquela vestuário, que é impactante para quem está a ver.

[Moullinex] Obrigado, é uma grande referência! 

[GPU Panic] Mesmo! 

Como é que foi criar este setup de forma a que vocês se sentissem à vontade em palco e não intimidados por estarem ali tão expostos ao público?  

[GPU Panic] É engraçado, porque eu acho que nós nunca nos sentimos intimidados por estar ali no meio do público. Quando começámos a fazer os primeiros concertos assim, a pessoa sente-se intimidada com a ideia de não estar onde está montado o palco e estás no meio do público. Aparentemente, há muitas coisas que podem  correr mal, mas a verdade é que nestes 85 concertos que demos em dois anos, a conclusão é mesmo o contrário. Estamos completamente seguros, porque as pessoas, não sei… Há ali uma troca de energia e de experiência que dá uma segurança a tudo aquilo. O Luís é que faz a mistura do show, ele é técnico de frente e performer ao mesmo tempo, e só isso já é assim um bocado louco [risos]. Depois temos de cantar em frente ao PA, temos um laser em cima… É tudo características que, aparentemente, poderiam ser altamente desafiantes. E são — hoje em dia menos, porque esta rodagem toda levou-nos a conhecer tão bem o formato, e os promotores também a conhecerem o formato, que tudo é realmente simples. 

[Moullinex] Só para acrescentar ao que o Gui está a dizer. Da mesma maneira que, se calhar, quem vem pela primeira vez vê uma coisa que não estava à espera, para nós também é igualmente… Quanto mais cresces enquanto projeto e quanto maiores são os palcos em que tocas, mais distante estás, na prática, do público. Começas a ficar cada vez mais afastado fisicamente do público e até o som que tu ouves é totalmente diferente. De repente, poder ouvir ao que é que o teu concerto soa, como se fosses membro do público… É muito mais libertador do que estar à frente do público, porque nós estamos literalmente no meio, pertencemos ao público, e de repente em vez de estarmos vulneráveis à frente de alguém, estamos com alguém. E estou à frente do Gui, que é tipo o meu bro: “Tá-se bem, tás a ver?!” [Risos] Ou seja, de repente é muito mais libertador, a ver ao que é que tudo som soa. Tudo isto é mágico também para nós. 

Pois, de facto nunca sequer me tinha passado isso pela cabeça, porque realmente vocês estão a ouvir exatamente o que o público está a ouvir, uma coisa muita rara no mundo dos live shows

[GPU Panic] E é aquela ideia de que, sem ser neste formato, tu nunca ouves o teu próprio concerto, como se fosses do público. Podes ver um vídeo, podes ver uma gravação, podes tudo o que quiseres, mas nunca vais ver o concerto como o público viu. E aqui, vemos e tocamos o concerto exatamente da mesma maneira que o público está a ver. 

[Moullinex] Isto faz-me lembrar um conceito, que ainda vem dos meus tempos de neurologia, que é o biofeedback e o neurofeedback, que é aquele processo de se tu te estiveres a acalmar e estiveres a ver um resultado nalguma imagem da tua calma, tu consegues potenciar um ciclo em que te acalmas ainda mais. E nisto acontece a mesma coisa, que é: nós sabemos o que é que estamos a dar ao público porque sabemos a que é que soamos, o público dá-nos isso de volta, e por isso damos mais disso ao público e isto torna-se num loop com um imenso potencial… Eu fico com arrepios só de pensar [risos].

Vocês estão aqui de certa forma a desenvolver, quase um novo método terapêutico a nível musical…  

[Moullinex] Não é novo. A música amplificada é que tem imenso poder, porque pode ser muito mais alta do que a acústica, mas ao mesmo tempo criou uma barreira entre performers e público que nós só queremos é acabar com ela. 

Vocês, de certa forma, quebram essa barreira. Apesar de ser um live, acaba por ter também aquele formato clubbing, por isso se aproxima daquilo que um DJ faz, que é pôr pessoas a dançar.

[GPU Panic] Exatamente. 



Neste disco há momentos em que vão ali a uma cena mais trance e a sonoridades mais progressivas, mas na “find u” exploram uma cena diferente, meio drum’n’bass, meio UKG, um bocadinho alternativo. Não é que seja propriamente uma sonoridade inesperada, até porque já exploraram ritmos mais acelerados e tudo, mas acaba por ser algo mais fora da caixa naquilo que vocês costumam fazer. Isto era algo que vocês já tinham intenção de explorar ou foi algo que surgiu naturalmente? Estavam a fazer um beat mais house ou techno, deram ali um switch no ritmo e chegaram a essa sonoridade? Como é que foi o processo?  

[GPU Panic] Olha, a “find u” é uma música que existe desde há muito tempo no  processo de estar já a pensar em álbum e ela existia como uma versão super curta, que tinha quase tudo — não tinha voz ainda, mas já tinha aquela progressão de acordes, aquele beat mais perto do drum’n’bass… E estivemos até ao fim do álbum, até ao fim do momento de fechar o álbum, com essa música um bocado pousada  na prateleira, porque tinha uma espécie de via verde para ir parar ao álbum. Ao ouvir aquilo, sabíamos tudo o que queríamos pôr lá ainda sem a ter pegado no estúdio. E tínhamos este compromisso de “só  vamos pegar nesta música quando for exatamente para fechá-la para o álbum.” E foi isso que fizemos. Nós gostamos desta história de álbum, desta história de um espetáculo ao vivo, de ter nuances, de ter intensidade, de ter calma, de ter muita energia, depois uma melancolia, um relaxe, de ter alegria, de ter introspecção e alguma tristeza… Por isso, gostamos desta confluência, de ter muita coisa variada ao mesmo tempo e de explorar essas diferentes coisas e as dinâmicas que isso traz. Por isso, a “find u” encaixa que nem uma luva num álbum com esse espírito, que é realmente diferente e que, para nós, era um bocado um wild card do álbum. Foi por isso que a guardámos, não quisemos que fosse mexida antes do tempo e só pegámos nela para fechar e arrumar e pôr pronta para o disco. 

Vocês têm aqui um disco com onze faixas e contam apenas com uma voz convidada, a Malu no tema “ease”, ela que é um nome que eu por acaso já conhecia de outras colaborações com nomes completamente distintos dentro da música electrónica. Como é que decidiram que havia espaço e para uma colaboração e que ela seria com a Malu?  

[Moullinex] No processo de fazer as músicas, como estamos a falar literalmente de centenas de demos, muitas vezes pegávamos numa delas e fazíamos qualquer coisa, voltávamos a fechar, depois não visitávamos os temas durante imenso tempo até lá voltarmos. Esta “ease” estava sempre inacabada para nós, faltava ali sempre qualquer coisa. E o mesmo se passou com a “find u”, porque a “find u” também foi co-composta com  a Malu. Havia qualquer coisa, o refrão estava lá, o verso não estava — acho que foi o caso da “find  u”, da “ease” talvez ao contrário. E a Malu passou por cá, por Lisboa, tivemos a mostrar-lhe os temas, e como ela tem este skill de fazer sessões com muitos músicos diferentes, como bem disseste, ela mal está a ouvir e… é só pôr a gravar. Ela põe a gravar um voice memo e vêm logo ideias à cabeça, e muitas vezes essa intuição é algo que vale a pena respeitar, porque essas ideias que nos vêm logo à cabeça, se calhar só temos que não as estragar, porque às vezes a primeira intuição está certíssima. E foi esse o caso com ela. De facto, a “ease” veio com muita naturalidade, com muita facilidade, tanto é que os ad libs dela, aquelas coisas faladas no início, são  literalmente ela a dizer: “Pá, é só pores a andar, é só pores a andar, tá-se bem, é só pores a andar!” Pusemos a gravar logo e saiu assim. E de facto não tínhamos planeado ter convidados, mas foi tão natural que fazia sentido abrir uma exceção. 

Mas, de certa forma, vocês têm um outro convidado neste disco, ou não?

[Moullinex] Tás-me a dar uma novidade! 

Não estão a ver? No tema “last call” vocês têm, assim, uma gravação… Eu posso estar enganado, mas vocês vão-me corrigir se estiver.  

[GPU Panic] Não, tu tás certíssimo! [Risos] 

[Moullinex] Bem, muito bem apanhado! [Risos] 

O meu palpite é que vocês gravaram alguém, numa das vossas viagens, num lugar tipo México, ou algures na América do Sul…  

[Moullinex] Literalmente. É o Omar, foi o nosso driver no México. 

[GPU Panic] No fundo, estávamos perdidos dele, ele estava noutro aeroporto, ou era noutro  terminal, já não me lembro… 

Confesso que só reparei nisto quando voltei a ouvir o disco de phones, e pensei: “Quem é este senhor a falar?”  

[Moullinex] Vou-te mostrar o áudio do Omar! 

[GPU Panic] O áudio é maravilhoso. 

[por motivos logísticos não nos é permitido mostrar o audio do Omar, mas é um sujeito com uma voz engraçada e com aquele sotaque mexicano, bem corrido]  

[Moullinex] É isto! [Risos] 

Então vocês estavam a produzir a “last call” e lembram-se que tinham esse audio? Como é que surgiu essa ideia de usar esse excerto?  

[GPU Panic] Eu lembro-me que estávamos a fechar essa música, e em algumas músicas nós  gostamos de ir atrás, de andar à procura de alguma sonoplastia e de algum sound design que  quiséssemos acrescentar. E eu lembro-me perfeitamente do Luís, de um momento ou outro: “Espera aí, nós temos as mensagens de voz…” Foram diretamente do WhatsApp para a “last call”. E é incrível.

[Moullinex] E também fazia sentido associar este universo do “estamos em trânsito”.

Continuando assim nesta linha de curiosidades: o Luís eu sei de que de há uns anos para cá se dedicou um bocado à corrida, às maratonas…  

[Moullinex] Maratona ainda não. Só meia maratona! [Risos] 

Ah ok. E tu Guilherme, também és adepto?

[GPU Panic] É raro fazer uma corrida assim tão longa, mas gosto de fazer exercício, embora seja mais ginásio, calistenia… [Risos]

Esta minha questão vai ao encontro do “slow down”, tema para o qual vocês têm alguns visuais que também remetem essa parte da corrida, do jogging. Ou seja, o “slow down” é também essa necessidade de abrandar após de uma grande corrida? Não sei se até terá sido nesse sentido que apostaram na colocação desse tema como penúltimo do alinhamento, servindo para abrandar um bocadinho essa viagem, essa correria, e acabar de forma mais relaxada.

[Moullinex] É engraçado que estejas a falar na “slow down” em termos temáticos, porque, de facto, a “slow down” é mesmo sobre isso, sobre respirar, aquele “stop and smell the roses”. Esse tema quase não ia ser incluído no disco. Foi o Bruno [Xinobi] a jogar um joker nos alinhamentos. E é muito, muito  engraçado, porque apesar de não saber exatamente qual foi a razão que o levou a escolher este tema, ele é, se calhar, a pessoa à nossa volta que está mais a pregar a calma. Ele está mais naquela fase… Enquanto eu e o Gui estamos mais numa de “let’s go, let’s go, let’s fucking go!”,  o Bruno está muito mais chill, muito mais calmo, e se calhar foi isso que, consciente ou  inconscientemente, o levou a ter uma ligação com a “slow down”. De facto, esse tema é mesmo uma travagem antes do “symptom of u”, que é, se calhar, o tema mais vulnerável e, pessoalmente, dos meus favoritos.

Ocorreram momentos “acidentais” em estúdio — seja um glitch, um erro no sampler, um patch do synth que marou, uma ressonância inesperada — que foram mantidos nas músicas?  

[Moullinex] [Risos] Tinha que estar a ouvir um a um, mas, por exemplo, o “mrbls” é um tema que tocamos ao vivo há muito tempo e experimentámos imensas vezes. Fizemo-lo para aí há dois anos, na Tailândia, enquanto estávamos em Bangkok uns dias entre concertos. E a sessão foi mesmo completamente caótica, com o sintetizador a desafinar-se por todo o lado e praticamente a descarrilar. Foi isso que tentámos depois incluir de novo na gravação. Portanto é uma performance live do sintetizador lead a ficar completamente caótico. A mesma coisa aconteceu se calhar no lead da “into flames”. Algumas vezes as melhores ideias vêm acidentes. 

[GPU Panic] Há uma coisa que também fazemos imenso neste disco, em bastante músicas, que é: nós enquanto estamos a trabalhar nas músicas, muitas vezes elas ainda não têm nem a melodia final nem letras. E então há alguns momentos melódicos que vamos gravando, às vezes até já estamos em casa depois de uma sessão de estúdio e gravamos no telefone, pegamos no projeto num instante, gravamos no computador só para pôr a ideia lá e mandamos um para o outro. É tipo: “Olha, era isto que eu estava a imaginar, para amanhã quando tivermos a pegar outra vez  na música, se calhar partimos daqui.”Então há muitas músicas, mesmo, que têm estas vozinhas todas cortadas e recortadas, sem palavras, com palavras inventadas. Muitas vezes fazem quase uma camada de back vocals ou um novo instrumento, um lead. Por isso, adoramos aproveitar estas pequenas coisas de voz, porque a maior parte das vezes seriam erros, não é? Seriam coisas que eram só uma ideia, só um apontamento, que depois obviamente não iriam para o disco, que é para gravar uma voz como deve de ser. 

Eu não sei se é na “the fall” que vocês fazem uns vocal chops, meios que usam aquilo como um arpeggio, não é?  

[Moullinex] Sim! Nós referimo-nos, com carinho, à voz do Gui em chops como “as galinhas”! [Risos] 

[GPU Panic] [Risos]

[Moullinex] E a “the fall” tem galinhas, e a “little love” também tem galinhas. A “the fall” é no último  refrão que tem. É o vocal principal cortado ali com um tipo de “trance gate”. 

[GPU Panic] A “last call” também tem galinhas… 

[Moullinex] Pois tem, pois tem! 

É uma coisa que já tinha apanhado nas produções de alguns artistas, tipo o Flume, e é um pormenor que eu sinto que dá uma certa vida e uma certa energia, que faz tipo um género de contrabalanço com a melodia. Não sei se vocês usam isso como complemento ou é algo que vão testando e logo se vê. Como é que se dá esse processo de começar a implementar isso, que vocês chamam de galinhas, num tema? 

[Moullinex] Na verdade, é também um bocadinho para fugir àquela coisa da eletrónica como uma  coisa que se leva muito a sério. É logo um elemento mais humano, mais brincalhão, um bocadinho menos sério. Pronto, e depois também acaba por ser… Remete a uma expressão, acaba por ser o instrumento mais livre que existe na nossa música, que é a voz. Se calhar, é também outra maneira de dar uma cor diferente à voz do Gui ou à minha. Muitas vezes é também uma maneira de eu me sentir mais confortável com a minha voz, toda manipulada, claro.

Se tivessem que escolher uma faixa que melhor resume o espírito deste álbum, qual seria?

[GPU Panic] Essa é difícil… 

[Moullinex] O espírito ou o som? 

Que tal o conceito?  

[Moullinex] É porque o som é mais fácil, e nesse aspeto é a “the fall”, porque em termos de sound  design tem quase tudo o que há no resto do disco. As texturas, os sound recordings, tipo texturas de água, texturas de ruas, texturas de pessoas a falar, isso existe. Os drums todos distorcidos com redux, tipo como se fossem samplers vintage. O tipo de progressão de acordes, o tipo de melodias lead e o tipo de melodias de voz do Gui, mais a temática lírica que também é bastante… Mas em termos conceptuais é muito mais difícil dizer-te [risos].

[GPU Panic] É muito mais difícil, mesmo… 

[Moullinex] Talvez a “shout in the dark”, até porque deu o título, tem a temática do “sudden light”,  literalmente, e está lá escrita.

[GPU Panic] Fugindo à pergunta, por que pedes uma, eu diria que há três que eu acho que tocam um bocadinho em tudo — a “shout in the dark”, a “into  flames” e a “symptom of u”. Em termos de contrastes, em termos das cores do disco, dos sentimentos do disco, acho que são três que tocam um pouquinho em tudo. A “the fall” sem dúvida, pela questão de som que o  Luís falava, mas estas três, se calhar, resumem também essa… Mas tu só pediste uma, por isso eu já estou a fugir à pergunta! 

Não, não, estás muito bem! Mas curiosamente, esses são três temas que vocês não lançaram previamente ao disco.

[GPU Panic] Exatamente. 

[Moullinex] Os deep cuts ficam para quem ouvir o álbum, não é? 


 


Vocês têm editado os singles todos em vinil. Começaram com a “digits”, neste formato que é tipo white label, não é? E com aquele design que já está muito associado a vocês, minimalista, mas visualmente marcante. Eu sei que a Discotexas já fez cenas parecidas no passado, mas de onde é que surgiu esta ideia de lançar single a single neste formato white label, mesmo exclusivo? Foi com a intenção de dar mais exclusividade aos vossos fãs ou a pensar também no formato clubbing para DJs?  

[GPU Panic] É assim, os singles, sendo uma caminhada para um álbum, numa altura em que  também as coisas são… O consumo de música é muito rápido, não é? Por isso num dia sai uma coisa, num outro dia sai outra. E muito facilmente tu esqueces-te do que é que já saiu, já passou, já faz parte do passado. Criar um objeto, numa altura em que os objetos já fazem menos parte, por um lado, do consumo de música, acaba por marcar o single de uma forma mais especial. Por isso há uma coisa associada ao single, e foi muito fixe, porque as pessoas queriam mesmo aqueles singles, por isso nós juntámos os singles todos. Acho que vai um bocadinho ao encontro dessa necessidade também que algumas destas pessoas que nos acompanham e que temos a sorte de nos acompanharem terem essa ligação ao objeto que representa aquela música em específico. E isso é super fixe! Acho que dá um bocadinho de calma ao processo de consumir a música. Eu muitas vezes ponho um vinil a tocar em casa e não sou — nunca fui — mega fã de vinil. Nunca fui muito de gastar dinheiro nisso, mas algumas pessoas foram-me dando e eu acabei por ir juntando alguns discos.

[Moullinex] Tu és collector, não és? És super colecionador, segundo me lembro.

Eu sou, sou. Já não tanto como era, mas sim! [Risos]  

[GPU Panic] Lindo! Isto assim ainda é mais fixe! 

Eu acabo por ouvir muita coisa em CD no carro e em vinil em casa. Acabo por ter mais gosto em fazer a escuta do disco na íntegra e é nesses espaços que me dá mais jeito, muito mais do que pegar no Spotify ou Apple Music e pôr a rodar um disco do início ao fim, porque fico mais tentado a dar skip e passar para outra cena. Não sei se também vos acontece o mesmo…  

[Moullinex] És o último dos moicanos! És uma espécie rara! [Risos] 

[GPU Panic] És mesmo, é que já nem se fazem carros com leitores de discos! [Risos]

É verdade… Eu é que não consigo abdicar de ter leitor de CDs no carro! [Risos]  

[Moullinex] Mas olha que ficas a saber que a tua espécie rara é uma espécie que está sempre nos  meus pensamentos, a fazer discos, porque acho que… Não sendo eu uma pessoa que não ouve só música assim, mas também ouve música assim, oiço muito disco do início ao fim. Há discos  que tenho o prazer de não interromper e sei que só vou ouvir se os conseguir ouvir inteiros, porque não quero parar na música quatro. Esses discos eu não posso ouvir em vinil porque, por exemplo, oiço numa corrida de 45 minutos. Se o disco tem 44 minutos, eu consigo ouvi-lo numa corrida, mas não ia andar com o gira-discos atrás. Eu faço música a pensar nisso, faço muita música a pensar no processo, na viagem do início ao fim e no que é que fica em ti. Às vezes sinto que era uma pessoa quando comecei a ouvir um disco e sou outra quando acabo. 

Vocês conhecem aquele projeto da Nike, o Nike+, que agora é o Nike Run, que é uma app para usar durante uma corrida?

[Moullinex] Ah sim, eu uso isso às vezes! 

Na altura, a Nike convidou algumas bandas e DJs para gravarem um disco, em formato continuo, para ouvir durante a corrida, como foi o caso do “45:33” dos LCD Soundsystem. Sinto que este conceito seria algo que faria bastante sentido no universo de MXGPU.  

[GPU Panic] Então não?! 

[Moullinex] Posso-te dizer que o Sudden Light foi testado em corrida muitas, muitas, muitas vezes [risos]. Este alinhamento é run approved, ok? Acho que funciona bem em termos de dinâmica, como o “45:33” funcionou para mim, também o usei várias vezes. Por isso, tocaste na mouche, no meu processo de aprovação do disco. 

É porque senti que algumas das vossas faixas neste disco terminam de uma forma quase que a preparar a próxima faixa para entrar. Não todas, mas algumas. Vocês construíram o disco… Ou seja, quando começaram a dar toques finais, tentaram fazer com que as músicas se fundissem o mais harmoniosamente possível?!  

[Moullinex] Muito mesmo! Olha, se quiseres uma curiosidade sobre isso, a “find u”, por ser  drum’n’bass e por cair num tema bastante mais lento, nós tivemos de voltar atrás e criar mesmo um slow down, entra o sample de audio do metro de Tóquio, da altura em que lá tivemos. A “find  u” teve de ter essa sonoplastia, esse sound design, e voltar ao laboratório para caber no alinhamento dessa forma.

Já que estivemos a falar em vinil, o disco também sairá neste formato e vem acompanhado por uma t-shirt e uma vela, não é assim?  

[GPU Panic] E um cap. Também há um cap

Como é que surge a ideia de incluir uma vela? Qual foi o conceito por trás desse objeto?  

[Moullinex] Toda a coleção foi um bocadinho DIY, e com amigos, e neste caso a Joana, a minha  mulher, desenvolve isto para outras pessoas, e obviamente fazia todo o sentido representar o nosso universo, que já tínhamos representado em todas as formas — visual, musical… E como todo o espetáculo é imersivo, fazia sentido ter também… Quando apresentámos os concertos no MATT e na Casa da Música, também tínhamos uma fragrância custom a ocupar o espaço e a estender a nossa realidade, e foi por isso que fizemos a vela, para levar essa fragrância para casa. A vela chama-se “take me home” como o tema do disco. 

Vocês já referiram aí que são fãs de nomes como James Turrell ou Suzanne Ciani. Se pudessem mandar fazer mais algo físico para acompanhar o disco — não necessariamente algo para as pessoas adquirirem, mas um objeto conceptual que fizesse sentido — o que seria? 

[Moullinex] Olha, ia ser quase de certeza algo em cimento. Se pudermos ser livres e se as pessoas  não tivessem que levar para casa, era em cimento. E para mim seria pegar na arquitetura do Tadao Ando, que é um dos meus arquitetos favoritos, que joga muito com as entradas de luz dos sítios. Para quem viu recentemente o filme O Brutalista, também há uma referência à entrada de luz e a a forma como a luz desenha o espaço. As obras do James Turrell também alteram o espaço com a luz, muitas delas, e então eu gostava de criar um espaço só para a escuta do disco que estivesse acusticamente perfeito, e que fosse variando ao longo do dia, durante o dia, e o disco  soasse de forma diferente dependendo da hora do dia que fosse ouvido, da mesma maneira que a luz que está nesse espaço muda o espaço por completo. Assim, no plano de sonhos era o que eu  gostaria de fazer! 

[GPU Panic] Uau! Estou… É difícil acompanhar isso, isso é inacreditável! Já me estou a ver a ouvir o disco assim.

Guilherme tens alguma sugestão, ou ficaste um bocado perdido nesta descrição do Luís?  

[GPU Panic] Fiquei perdido porque acho que ficamos muito bem… Nem é ficar perdido, é que está  tão bem representada uma possibilidade aqui, que acho que merece mesmo essa a possibilidade. É mesmo fixe imaginar isso assim, essa “sudden light” a transformar o espaço e a transformar a audição da música. Para mim, ganhou grandiosamente. 

[Moullinex] Nós temos que fazer isso. Temos que criar um listening experience!

[GPU Panic] Ya, isso era incrível. E há muitos sítios incríveis para fazer isso.

E Portugal tem uma vantagem fixe, que é a questão da luz, principalmente no pôr do sol.

[GPU Panic] Sim, temos uma exposição solar incrível. 

[Moullinex] Especialmente o nascer do sol, estou muitas vezes mais a contemplar o nascer do sol do que o pôr do sol. Por vários motivos: porque gosto de acordar cedo, porque muitas vezes  acabo de tocar e é o nascer do sol… Então é sempre mais poético para mim. E por isso o nascer do sol em Portugal acho que é uma coisa incrível. E o Sudden Light é  também uma celebração do nascer do sol. 

Sei que agora vão estar a surfar a onda deste Sudden Light e provavelmente vão estar um bocado mais parados na exploração de novas sonoridades, mas haveriam ainda outros territórios musicais dos quais vocês gostariam de explorar nas próximas fases de MXGPU?  

[GPU Panic] Claro! Nós não pomos grandes travões nessas áreas, nós gostamos imenso de  experimentar, não fazemos um julgamento pré-concebido do que é que podemos ser ou não, estamos a deixar a coisa em aberto para experimentar e para saírem coisas novas e diferentes e que nos desafiem também. 

Vocês têm planos, ou uma ideia de qual será o vosso próximo passo estético, por exemplo, a nível de colaborações visuais, numa componente mais arquitectónica, ou até mesmo algo orquestral…  

[Moullinex] [Risos] Olha, entre as coisas que já fizemos e as coisas que queremos fazer, tocaste nos pontos todos, basicamente. Porque a seguir ao disco vai sair uma representação visual daquilo que para nós é o universo do disco, e é logo no mês de Outubro — vai sair para toda a  gente e estamos só a acabar isso. Depois também é um sonho nosso poder construir ou reconstruir este disco com uma orquestração. Portanto, é algo em que estamos a trabalhar e a planear. Portanto, no fundo, foste tocar nos nossos passos seguintes. Obrigado, Freud. 

Prometo que não tenho acesso a informações privilegiadas, não sou o Nardwuar [risos].

[Moullinex] Não, mas acho que acompanhas o meu e o nosso trabalho há muito tempo e, por isso, se calhar quase que consegues adivinhar o que é que nós queremos fazer a seguir. 

Há alguma coisa que sentem que gostariam de mencionar e que não deu para abordar nas respostas às perguntas que vos coloquei?

[Moullinex] Acho que era importante… Eu gostava de mencionar isto, deixar assim aqui em on, o  nosso agradecimento ao João Cardielos, aka Beiramar, que tem sido o nosso braço direito neste  processo todo, tem sido incrível ter alguém com quem… que muitas vezes se anula para nos potenciar. Além de ser um músico incrível e um artista completíssimo, muito novo, portanto tem um potencial gigante. Está a trabalhar connosco neste rollout, é quase o nosso Creative Supervisor. E então tem sido espetacular. Pronto, queremos deixar esse agradecimento. 

[GPU Panic] Shout out

Neste disco, basicamente foram vocês os dois, mas fora o Beiramar, que pelos vistos tem ajudado bastante, há mais algum elemento da família Discotexas que também tenha estado presente, sem ser o vosso Rick Rubin, o quase guru e mentor Xinobi?  

[Moullinex] Sim, além do Xinobi, que está sempre presente, o Dani, o nosso braço armado da parte  da logística da label, o Rapaz Ego, primo do Gui, aqui também colega de estúdio, está aqui sempre também muito envolvido no processo… 

[GPU Panic] Grande entusiasta! 

Curioso, não fazia ideia que eram família… 

[GPU Panic] Sim, sim. Primos direitos. 

[Moullinex] E minha família também, não oficial. 

[GPU Panic] Exatamente [risos].

[Moullinex] E depois a nossa parceira visual, Ana Viotti, que tem acompanhado o processo desde o início, veio connosco ao Jazz Café, no primeiro concerto de Moullinex + GPU Panic. E é isto, basicamente é esta a família alargada da Discotexas, neste momento. 

Relativamente ao vosso lado mais técnico, a nível de synths e tudo aquilo que vocês têm no vosso live: é tudo material que vocês usam na criação dos vossos temas ou não necessariamente?

[Moullinex] Tentamos que não, na verdade. Se eu tivesse que escolher uma coisa que está em todas as malhas, são os meus Air Pods [risos]. Do que temos em estúdio, usamos os instrumentos da SOMA Laboratory, como por exemplo aqui o Pulsar -23, esta drum machine que está aqui, usámos em muitos temas do disco. Mais os baixos Moog, o Sub Phatty…

[GPU Panic] Esse nunca falha! 

[Moullinex] Os Oberheim’s, para os pads, o ARP 2600 para os leads, acaba por ser muito o som  deste disco. Mas ao vivo… 

São todos esses os equipamentos que vocês levam para o live

[GPU Panic] Não… 

[Moullinex] Para o live é uma versão mais simples, é um modular. O Gui usa o MiniFreak da  Arturia, que é um que é responsável pela maior parte dos nossos sons polifónicos — porque é muito fixe para recriar os sons que criamos noutros synths, depois é muito fácil, como aquilo é super versátil, dá para recriar muitos desses sons. Depois o modular são duas vozes de synths e uma drum machine. E é isso, basicamente este é o setup

Tinha ficado com aquela curiosidade de se usavam maquinaria completamente distinta entre estúdio e live.  

[Moullinex] Pá, as nossas regras para o live é que tem que caber tudo, e tudo o que tu vês num  concerto nosso, tem de caber em três malas de 23kg. 

[GPU Panic] Mais do que isso… Para entrar mais alguma coisa, outra coisa tem que sair,  normalmente. E acontece… [Risos] 

[Moullinex] Portanto, o que eu ando a fazer agora é a tirar um synth. Estou a tirar este synth, que foi  de onde vieram todos os nossos leads durante dois ou três anos, e está a ser substituído. Este [synth] japonês está a ser substituído por um grego [risos]. 

Por um grego? Confesso que nem sabia que se faziam synths na Grécia!

[Moullinex] São dos melhorzinhos que se fazem na Europa, da Dreadbox.


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