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Fotografia: Henrique Horta
Publicado a: 05/07/2022

Não deu para estar em todos os concertos, mas fica a reportagem possível do festival.

MUPA’22: todos os caminhos foram dar à planície

Fotografia: Henrique Horta
Publicado a: 05/07/2022

Entre os dias 22 e 26 de Junho, através da realização da terceira edição do MUPA – Música Na Planície, a cidade de Beja voltou a mostrar que a cultura merece ser descentralizada não só a nível nacional como municipal – mais uma vez, o festival apostou num programa que exaltou a importância da contemporaneidade musical em diferentes pontos da capital do Baixo Alentejo. O dia que iniciou o evento não teve nenhuma actuação, mas esse factor não o impediu de ter feito um arranque ideal do mesmo: localizada na Praça da República, A Pracinha abriu a actividade no final do dia com a inauguração das exposições de dois artistas plásticos do distrito, Vilas e Cláudia Sofia, seguindo-se, pelas 21h30, a passagem do documentário Batida de Lisboa, um notável registo da cada vez mais indissociável faceta da cultura africana presente no cenário musical da capital portuguesa, que mereceu a atenção de todes es que encheram a lotação do café. 

Clothilde fez as honras performativas do MUPA no dia seguinte, no salão da Santa Casa da Misericórdia, onde, munida de um conjunto imponente de sintetizadores modulares, nos apresentou uma sessão de paisagens sonoras desconcertantes, porém contidas e sustentadas por drones inquebráveis e por projecções sonoras reminescentes de sirenes a la Cluster no seu disco de estreia. Se a artista fora recebida de forma bastante satisfatória por parte do público, a reacção duplicaria com o acolhimento de Tellurian, um projecto de Carincur e João Pedro Fonseca que contou com a participação do Coro do Carmo de Beja numa residência artística na cidade em questão. Os dois porta-estandartes da ZABRA Records estabeleceram uma ponte entre o mundo da electrónica experimental à qual nos têm habituado e o da cultura tradicional portuguesa, e, observando os felizes rostos dos seus cúmplices vocais, era evidente que a conexão entre o coro e as maquinarias digitais de Carincur e Fonseca se fazia sentir de uma forma harmoniosa, com a tradição e modernidade a respeitarem-se mutuamente ao ponto de serem um só elemento. Quem assistiu não se encontrava alheio a tal, e isso verificou-se na forma entusiástica da sua ovação. Encerrou-se a noite em modo clubbing na Oficina Os Infantes com os DJ sets de Tiago e Viegas, com fumo de palco denso e luzes minimais a servir de acompanhamento visual ideal para uma carga musical vigorosa que não deixava ninguém indiferente na pista de dança.

Mais um dia, mais uma mudança de itinerário, desta vez na periferia da cidade, no Campo de Jogos do Bairro da Conceição, que serviu de mostra de alguma da música electrónica mais ousada a ser desenvolvida a nível internacional. Destacaram-se as actuações de aya (uma das mais recentes contratações da conceituada Hyperdub), que, entre as batidas pujantes e instrumentais leftfield que soltava, ainda mostrava a sua faceta de performer fortemente assertiva, e os finalistas da noite, De Schuurman e Diaki, ambos a representarem a editora Nyege Nyege e a comprovarem a sua importância no cenário electrónico global através de ritmos contagiantes; apesar da baixa temperatura e ventos que se fizeram sentir no recinto, a plateia permaneceu intacta.



Regressou-se no sábado à Santa Casa de Misericórdia, mas a festa realizou-se no Pátio da Capela da Nossa Senhora da Piedade, pertencente à mesma instituição, e o primeiro espectáculo do dia tinha todos os elementos certos alinhados para iniciar do quarto dia do festival melhor forma: os diversos balanços dançantes explorados no repertório de África Negra, a performance imaculada dos três vocalistas que constituem a formação actual do grupo santomense e a vista da torre de menagem do Castelo de Beja atrás do palco do recinto davam as condições perfeitas para um fim-de-tarde singelo.

Esta noite repetiu o mesmo modo que a noite anterior com mais um leque de electrónica global aventureira e, desta vez, o nome vencedor foi claramente o de Lapili, que, mesmo em formato de DJ set, terminou a sua prestação com a interpretação de dois temas tão energéticos como as selecções musicais a que recorreu, mostrando durante toda a actuação – e com duas bailarinas no mesmo patamar performativo – a pertinência da batida incontornável do reggaeton. A sucessão musical de MBODJ e Baba Sy dos Jokkoo Collective não aparentou gerar exactamente o mesmo tipo de frenesim por parte do público, mas foi apelativo o suficiente para findar o programa deste dia com bastante intensidade.

Chegámos ao final do festival com a plateia da Associação Dadores de Sangue do Bairro Social disposta a receber a panóplia de sonoridades que por aqui passaram e que culminaram no kraut minuciosamente e hipnoticamente rítmico dos Föllakzoid e no kuduro imbatível de DJ Firmeza. Feito o retorno à Oficina Os Infantes, foi aqui que se colocou o ponto final da terceira edição do MUPA, com os DJ sets de João Melgueira e Hang The DJ a representar a vivacidade do panorama cultural bejense na diversidade das suas escolhas. Num festival pautado por tantos parâmetros de pluralidade, é impossível não ansiar por aquilo que festival possa oferecer no futuro.  


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