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Publicado a: 18/01/2017

Mundo Segundo: “Este disco é uma forma de agradecer”

Publicado a: 18/01/2017

[ENTREVISTA] Ricardo Farinha [IMAGEM] Sebastião Santana [ÁUDIO] Tiago Galvão

Sem nada que o fizesse prever, Mundo Segundo — o ancião rapper e produtor dos Dealema, além de grande impulsionador do hip hop no Porto — editou um novo EP, Sempre Grato, que foi lançado com a revista Blitz, na edição de Dezembro.

São sete temas novos, que serão apresentados ao vivo este sábado, 21 de Janeiro, no Hard Club, no Porto, e depois em Lisboa, dia 27, sexta-feira, no Musicbox. O novo trabalho serviu de base para uma conversa com o Rimas e Batidas sobre o que esperar do ano de Mundo Segundo.

 


Lançaste em Dezembro, com a Blitz, Sempre Grato. Era um trabalho que já estava nos teus planos, ou aconteceu de forma espontânea nos últimos meses de 2016?

Estava nos meus planos fazê-lo. Entretanto, surgiu a proposta da Blitz para fazer por eles. Eu já tinha em mente e até [talvez pensasse em] oferecer, como forma de gratidão. Foi um dois em um. Preferi fazer de surpresa porque acho que, hoje em dia, há um excesso de publicidade sobre algo e depois a expectativa não corresponde. Então preferi não avisar ninguém e quando o disco já estava cá fora, disse às pessoas: já podem ir comprar que está disponível.

O disco representa precisamente essa gratidão aos fãs e ao legado de uma carreira?

Sim, é uma forma de agradecer. Não só aos fãs, mas aos meus amigos, à minha família. É, no fundo, uma prenda para todos. E também para mim. Queria que as músicas fossem um pouco de encontro com esse conceito, para as pessoas que me seguem já há muitos anos.

E aproveitaste, por exemplo, para colaborar com o Bezegol pela primeira vez. Era algo que também já estava nos teus planos há muito tempo?

Sim… eu e o Bezegol conhecemo-nos mais recentemente, pessoalmente. Ainda não nos conhecíamos. Claro que já conheço o trabalho do Bezegol há muito tempo, e ele também conhecia o meu, mas agora tivemos a oportunidade de nos cruzar, através de outros amigos que são comuns, e aconteceu fazermos este som. Era algo que eu já queria fazer há algum tempo, que gosto muito do trabalho do Bezegol. E achámos que esta era a altura ideal, já estamos mais maduros, passaram muitos anos desde o início da história do hip hop no Porto. E fiquei muito contente com o resultado final.

Além disso, o Macaia, que te tem acompanhado em palco, também entra no EP… foi a estreia dele contigo, não foi?

Sim, já anda connosco há mais ou menos dois anos e qualquer coisa na estrada, mas como eu o incluí na formação já depois do lançamento de Segundo o Ancião, este é oficialmente o primeiro registo que ele faz comigo e espero que seja o primeiro de muitos.

Como é que se conheceram?

Através de um dos teclistas que trabalham comigo, o Francisco Reis — na altura [foi] na Plastic Sounds, no Porto. Ele estava lá a trabalhar com o Reis, a gravar uns temas. Ele falou-me, eu andava à procura de uma voz soul. Fui ao estúdio na altura, conheci-o, vi o trabalho dele, apreciei bastante, entretanto fiz-lhe o convite e foi uma coisa natural. Eu ando sempre à procura de coisas novas, novos talentos, de alguém que possa participar e refrescar aquilo que vou fazendo.

Em relação aos concertos, vais ter uma ligeira diferença na forma de tocares ao vivo para apresentar este EP, não é?

Sim, vou fazê-lo na mesma com a banda que tinha — neste caso temos mais teclistas ao barulho, mais dois do que tínhamos inicialmente —, e estamos neste momento a cozinhar o concerto e a prepará-lo aqui para o Hard Club e para Lisboa — onde será um pouco diferente porque a sala é mais pequena e não permite levar a panóplia toda da banda. Mas estamos a preparar algo especial. À parte da roupagem que as pessoas conhecem, da música original, pomos sempre algo mais. A música ao vivo soa sempre diferente.

Estamos no início de 2017, que projectos é que tens em mente para este ano? O esperado álbum com o Sam The Kid?

Sim, ainda a semana passada estive com o Sam, estamos a cozinhar mais um tema, algo que em breve estará aí a circular. Estamos a preparar um banger para 2017, à parte do disco que estamos a gravar, porque é difícil conciliarmo-nos à distância. Ainda são três horas de viagem para cima, mais três para baixo, e quando nos encontramos tentamos aproveitar o tempo ao máximo. Mas estamos neste momento focados em fazer o disco.

O objectivo é que saia este ano?

Sim, nós temos esse objectivo. Isto aqui, com a arte, a gente costuma dizer que é um bocado intemporal. Posso-te dizer que o nosso objectivo é sair em 2017, mas sairá quando nós acharmos que está mesmo bom para sair. O que nós prometemos é que estamos sempre a trabalhar e daí de x em x tempo pormos um vídeo cá fora com uma música nova, para as pessoas não pensarem que isto é um mito urbano, algo que não vai sair. Nós temos 90% do álbum escolhido em beats — poderá haver espaço para mais um ou dois —, e também temos 85% dos temas escolhidos. Estamos nesta fase final de ir gravando e perceber o que é que falta para que o disco soe como um todo e uma obra, e não um conjunto de músicas. Nesse sentido, somos um bocado perfeccionistas, apesar de não ser bem essa a palavra. Que esteja ao nosso gosto. E quando estiver, as pessoas vão poder usufruir do disco e apreciá-lo, e perceber que tem muitas horas de trabalho ali.

E, então, até lá, teremos mais singles.

Sim, talvez no primeiro semestre deste ano já iremos revelar mais um single do álbum, que tem um condimento especial. Depois as pessoas vão perceber. Temos ali uma participação muito especial. [Explicaria esta fotografia… ou será algo feito há mais tempo?]

E em relação a outros projectos?

Com Dealema, estamos a preparar um documentário que será exibido em diferentes episódios, que fala sobre a génese do grupo, como começámos, tem depoimentos de quem esteve envolvido no início da nossa história, tanto a nível de pessoas de editoras, como jornalistas, ou pessoas de bares onde a gente tocava. Temos uma panóplia grande de gente que vai prestar o seu testemunho, vamos oferecer isso às pessoas para conhecerem um pouco mais da nossa história. E estou também a fazer o Skills Radio Show [na Rádio Nova Era] que é algo que já vai fazer um ano. São duas horas de rap, todas as semanas. Tenho muito gosto em fazê-lo, posso dizer que, se calhar, nos últimos dois, quase três meses, tem sido só de rap português, porque vão saindo coisas suficientes para ocupar essas duas horas.

Recentemente, o rapper brasileiro Rapadura deu um concerto em Lisboa. Depois vocês estiveram juntos em estúdio a trabalhar, não foi?

Sim. Eu conheci o Rapadura no Rio de Janeiro, creio que em 2014 ou 2015. Conheci-o no fim de um concerto que fizemos lá, no festival Terra do Rap, e tive a oportunidade de o conhecer no mesmo dia em que conheci o MC Marechal. Fomos jantar todos juntos, convivemos ali um pouco e surgiu esta vontade de fazermos algo em conjunto, ainda não se tinha proporcionado porque não gosto muito de fazer música via Internet. Acho que é um pouco impessoal. Se tiver mesmo de ser, será. Mas prefiro sempre estar com as pessoas no estúdio, gravar aquele momento. E entretanto houve a possibilidade de o Rapadura estar cá este ano a tocar e passou aqui pelo Porto, porque ele ia tocar a Celorico de Basto, creio. E combinámos, fomos ao estúdio e cozinhámos alguma coisa para o disco dele, neste caso, que era algo que ele já tinha em mente. E conseguimos fazer, numa tarde. Estivemos sentados no estúdio a conversar, mostrei-lhe um pouco da cidade do Porto. E ele ficou muito contente e conseguimos fechar um som.

 


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