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Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 07/03/2022

Suscitar a descoberta.

MUMA, um festival que quer dar “uma oportunidade real” aos faialenses “para ouvirem ao vivo nova música feita em Portugal”

Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 07/03/2022

Muito mudou desde que a pandemia começou, principalmente no que toca à oferta cultural, que se teve de adaptar aos estranhos tempos que se viveram de forma mais intensa nos últimos dois anos. O MUMA, festival na Ilha do Faial, nos Açores, teve de fazer essas alterações na sua forma de se apresentar, passando de um evento com três dias seguidos de concertos para uma programação com vários momentos espalhados por 2021 e 2022.

O próximo acontecerá esta semana, nos dias 11 e 12 de Março, com actuações do Desidério Lázaro Trio, Bando de Improvisação do Faial (B.I.F.), Maria Reis e PISTA. Aproveitámos este segundo momento da temporada para trocar umas ideias com a organização:



Aconteceram muitas mudanças desde o anúncio feito em 2020. Quais foram as principais dificuldades desde esse momento até chegarmos a esta versão do cartaz de 2022?

Em retrospectiva, creio que, para o MUMA, a principal dificuldade foi a de manter o ânimo da equipa que faz o festival, adiamento após adiamento.

Numa primeira fase, mantivemos a esperança de reagendar o programa, de forma integral e num futuro que fosse breve. Quando se percebeu que isso não seria possível a primeira questão interna foi se reformularíamos a programação — dando primazia a novos trabalhos musicais que aparecessem entretanto — ou se manteríamos os compromissos com os artistas programados para 2020. Optámos pela segunda via — talvez mais conservadora — mas como uma forma de não injustiçar aqueles que, como nós, foram imensamente frustrados nas expectativas que tinham para esse ano.

Chegados a 2021, e perante a evidência, mais uma vez, de que não seria possível realizar o festival nos moldes em que ele tinha sido pensado optámos por rebaralhar o formato do evento — desmultiplicando-o em quatro momentos mais pequenos: Setembro, Janeiro, Março e Maio — mas mantendo os mesmo nomes do cartaz. Até nesta solução a omnicron voltou a dar-nos a volta (passe o pleonasmo) e obrigou-nos a mais algumas reformulações. 

A solução que arranjaram permitiu que, até aqui, só conseguissem ter o evento de B Fachada e Monday. Como foi esse dia e de que forma é que foi fazê-lo acontecer ainda com a pandemia a limitar?

Esse dia foi muito bom! Esgotámos a capacidade do espaço — um espaço exterior mas coberto do edifício da Assembleia Legislativa dos Açores — cinco minutos depois de abrirmos as portas. Creio que havia muita sede deste tipo de eventos. Outra das surpresas foi uma grande afluência de um público mais novo, que até aí não era a maior fatia do nosso público. 

O próximo evento conta com Desidério Lázaro, Maria Reis ou Pista, mas o que até gera mais curiosidade é B.I.F. Apresenta multi-BIF media. Podem falar-nos um pouco sobre este projecto com músicos da ilha e o porquê de fazerem parte deste cartaz?

Desde a reformulação do formato do MUMA, em 2019, que a inclusão de artistas locais é um imperativo. Os B.I.F. (Bando de Improvisação do Faial) são um projecto dirigido pelo músico Tiago Marques, um oboísta de formação clássica com uma miríade de experiências em Portugal e no Brasil que veio viver para o Faial em 2018. Os BIF são uma orquestra de músicos amadores da ilha que desenvolvem improvisações através de novas formas de regência (soundpainting, conduction). O Tiago já tinha sido convidado, no MUMA 2019, para levar a cabo o projeto da Orquestra Rítmica do Corpo com alunos da escola secundária e que se juntaram ao concerto da Joana Barra Vaz. Nessa altura falou-me dos B.I.F., então ainda absolutamente embrionários, e ficaram logo convidados para participar na edição seguinte do MUMA. Para este concerto convidaram o VJ Félix Kremer para improvisar no vídeo com eles. Se o tempo o permitir, vamos interromper uma rua no centro da Horta para os BIF tocarem, enquanto os vídeos são projectados na fachada no edifício da Biblioteca Pública da Horta (se chover terá de ser no auditório).

Há propostas de quadrantes diferentes, desde o jazz ao rap, passando pela batida ou o rock. Este cartaz é feito para expor às pessoas do Faial o máximo de propostas diferentes e “abrir-lhes” a cabeça?

É mais ou menos isso. “Abrir-lhes a cabeça” seria pretensioso, mas dar-lhes uma oportunidade real para ouvirem ao vivo nova música feita em Portugal, suscitando-lhes a descoberta. (Quanto a géneros musicais: em 2022 ainda se fala disso?)



É provável que alguns destes músicos conheçam a ilha pela primeira vez: há planos para os levar a locais especiais de forma a incutir-lhes também a vontade de regressarem?

Nós tentamos promover ao máximo a interação dos músicos com ilha — seja espalhando os concertos por uma diversidade de locais, seja envolvendo-os de facto com outros grupos de música da ilha (como no projeto Murmurinho) — mas creio que a promoção é sobretudo pela experiência cultural e social na ilha. Estar lá já é especial — a Horta é uma cidade bastante especial em termos paisagísticos — e nós acompanhamos ao máximo, no que podemos, as visitas pela ilha, mas isso será sempre um extra. 

Podem falar-nos sobre os locais escolhidos para os concertos?

Uiii, isso daria para um pequeno ensaio. Digamos que há um misto de dar a descobrir espaços institucionais mas emblemáticos do ponto de vista arquitectónico a toda a população (Assembleia Regional, Sociedade Amor da Pátria, Biblioteca Pública da Horta…), utilizar espaços inusitados para eventos deste tipo (Igreja da Conceição, Sedes dos Grupos Filarmónicos…), dinamizar aquele que já é o circuito íntimo dos convívios sociais no Faial (Café do Porto Pim, Peter, Cozinha Comunitária da Conceição), dar vida aos edifícios culturais da ilha (Teatro, Mercado), e estamos a trabalhar numa espécie de revivalismo “kitsch” para os eventos de Maio (surpresa).

Que tipo de apoios permitem que o festival aconteça?

Até agora o parceiro principal é, incontornavelmente, a Câmara Municipal da Horta. Temos também um apoio substancial do Governo dos Açores, através das direcções da Cultura, Juventude e Turismo. Iniciámos, em 2019, uma vasta rede de parcerias com diferentes instituições civis e com diferentes privados no Faial — estas parcerias, no conjunto total, creio foram o grande passo no estabelecimento deste novo formato. Em 2020 passámos a contar também com o apoio da NOS. 

Que futuro terá o MUMA depois de encerrar esta versão 2021/2022? Já se pensa na próxima edição?

O futuro está em ponderação. A nova filosofia do MUMA, implementada a partir de 2019, mostrou–se o caminho certo a seguir. Independentemente se o formato é o de um festival de Primavera ou se é uma temporada artística espalhada em vários momentos ao longo do ano, a descentralização dos concertos por vários espaços, a promoção de parcerias/residências/criações entre artistas visitantes e artistas locais, a par da mostra de música propriamente dita, foi uma aposta ganha. Agora, provado que esse é o caminho certo, impõe-se consubstanciar aquele que era também um desígnio da nova estratégia: profissionalizar a estrutura de produção do festival. O volume de trabalho implicado já não faz sentido em modo voluntarioso e os governos locais (em todo o país) têm de deixar de ter como garantido este tipo de oferta: que é profissional naquilo que oferece, mas que é feita, na maior parte das vezes, por carolice e amor à camisola. A ver vamos.


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