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Mr. guebz é Paulo Ingebritsen, um produtor de 28 anos de Setúbal que se estreou recentemente com a beat tape Alma Terra, feita durante três anos, em colaboração com o DJ Godzi. Tal como o artista descreve, antes de tudo, o seu trabalho é “soulful” e recheado de grooves – foram decerto muitas as horas passadas à procura de samples, tanto em vinil como na Internet. Este é o pretexto para publicarmos aqui no Rimas e Batidas uma pequena conversa com o produtor, que também já foi b-boy, e que serve de introdução ao seu trabalho nesta vertente.
Como foi o teu percurso, resumidamente, enquanto artista, até chegares aqui?
Desde muito cedo que a música teve um papel muito importante na minha vida. Tive a sorte de estar sempre rodeado por boas influências externas e por uma variedade enorme de géneros musicais. Um dos momentos mais marcantes e que de certa forma desencadeou mais tarde o gosto pela produção, por mais cliché que se pareça, foi sem dúvida a descoberta da colecção de vinis da minha mãe! Isto em 1998, lembro-me bem da minha felicidade quando encontrei aquela caixa cheia de pérolas e fui assim apresentado a artistas como Gloria Gaynor, Anita Ward, Stevie Wonder, etc., foi uma loucura para mim!
Nesta altura já ouvia rap e alguns trabalhos de produtores estrangeiros mas o hip hop ainda não tinha aquela força em mim. Foi em 2002 com o lançamento do Sobre(tudo) e depois o Beats Vol.1 – Amor do Sam que me comecei a interessar por produção. Acho que aquela mistura da qualidade dos beats dele e o facto de ele ser português deu-me aquele impulso para querer fazer também.
Comecei por produzir num programa chamado Hip-Hop Ejay que na altura era a coisa mais espectacular do mundo para mim, hoje farto-me de rir cada vez que penso no programa [risos]. Era demasiado simples, onde tudo já estava pré-feito, era só encaixar patterns e o beat ficava pronto! Mais tarde apresentaram-me um software chamado Fruity Loops, que era um programa mais complexo mas que me permitiu depois ter um leque maior de possibilidades dentro da área da produção, principalmente no que tocava ao uso de samples.
Desde então continuei a produzir e fiz algumas participações em projectos independentes de alguns MCs, principalmente nacionais, e cheguei a fazer também uma colaboração com um grupo brasileiro, os Sonoravoz, em que produzi o instrumental da música “Navegantes”. No entanto, a grande fatia dos meus instrumentais sempre ficou guardada na “gaveta”.
https://youtu.be/h7V99qwJtCw
Com que material produzes?
Eu actualmente produzo com uma Maschine MKII mas até muito recentemente apenas produzia no Fruity Loops, foi o software onde comecei a dar os primeiros passos e que acabei por trazer até aos dias de hoje.
Quem são as maiores influências na tua música?
Bem em termos de géneros o leque é muito vasto! Mas eu sou um amante eterno de música soul, tive a oportunidade de ser exposto a este género cedo e de uma forma tão natural como já referi anteriormente, o que acabou por se reflectir nas minhas influências no mundo da produção. [Mas as maiores, ao nível de produtores] são J Dilla, 9th Wonder, Nujabes, Pete Rock, Kev Brown e Nottz. Vivo também muito das influências da vida em si, do quotidiano, daquilo que vejo e daquilo que sinto. Essas influências acabam por afectar muito o meu processo criativo e aquilo que procuro num sample.
A beat tape tem um conceito específico?
A beat tape não apresenta nenhum conceito especifico por ser uma compilação de instrumentais desenvolvidos ao longo de 3 anos que não tinham essa finalidade, inicialmente.
Como descreverias a tua própria sonoridade?
Eu descreveria a minha sonoridade como soulful. Procuro transmitir na minha música aquele feeling quente que só a música soul consegue transmitir.
Porquê o nome Alma Terra?
Escolhi este nome porque vai ao encontro da raiz do meu processo criativo. A “alma” simboliza a procura, os sentimentos e as influências, o [nome] “terra” é a materialização e o canalizar da minha procura na produção.
Como surgiu esta colaboração com o Godzi?
Já conhecia o Godzi há alguns anos, isto porque sempre partilhámos o mesmo meio. Ele é um dos melhores DJs de b-boying em Portugal e eu como b-boy também tive oportunidade de o acompanhar e ele aos meus trabalhos de produção. Quando pensei no formato da beat tape, não queria que fossem apenas beats soltos, achei que se poderia tornar de alguma forma aborrecido para o ouvinte. Foi ai que me lembrei do Godzi, fazia todo o sentido para mim ser ele a trabalhar neste projecto, para além das qualidades de DJ nas battles e nas mixtapes dele, também produz e possui uma grande cultura e gosto musical! Falei-lhe sobre o projecto, ele gostou da ideia e arrancámos.
Para o futuro, tens trabalhos planeados? O que gostarias de fazer enquanto músico daqui para a frente?
Neste momento estou a trabalhar num EP intitulado Sunny days, Peaceful nights juntamente com o MC Steve.Be. de Virgina Beach, nos EUA. Estou muito entusiasmado com este projecto, o Steve é super talentoso, tem uma vibe e um flow muito bons e acho que está em perfeita harmonia com o feeling dos meu beats. Este projecto ainda não tem data de lançamento mas estamos a apontar ainda para o final deste ano. Daqui para a frente quero fazer continuar a lançar projectos novos e gostava de fazer mais colaborações com artistas nacionais, sem dúvida.