Morreu ontem um dos mais importantes nomes do free jazz, Peter Brötzmann, saxofonista alemão que tinha 82 anos de idade.
Começou nas artes visuais e, apesar de ter decidido abandonar esse circuito bastante cedo, usou as suas habilidades nessa área para assinar um bom número de capas para álbuns seus. A aventura na música começa tardiamente, mas bem a tempo de Brötzmann ainda deixar uma ampla marca no jazz de cariz mais livre e vanguardista. Autodidacta, é na década de 60 que se inicia nas edições discográficas ao leme de diferentes formações em discos marcantes como For Adolphe Sax, Machine Gun ou Nipples.
Quase seis décadas após a estreia, é fácil perceber a pegada deixada por um dos improvisadores mais exímios da sua geração. Em declarações ao Rimas e Batidas, Rodrigo Amado recorda a importância do legado deixado pelo colega de profissão:
“O Peter Brötzmann foi um dos últimos gigantes da música improvisada europeia, com uma marca brutal na cena mundial. Nos próximos anos vamos assistir, sem dúvida, a uma crescente relevância de toda a música incrível que nos deixa. Era um músico capaz de transmitir a energia mais brutal e crua, para logo nos fazer sentir uma particular poesia e sensibilidade. Foi um dos improvisadores que me ensinou a tocar o presente com uma profunda ligação às raízes. Um saxofonista inspirador e um profeta da verdade. Como alguém dizia, a partir de agora todos temos mais responsabilidade. O seu desaparecimento marca o fim de uma era.”
Nas várias centenas de entradas que exibe o seu perfil no Discogs, destacam-se as colaborações com gente como Alexander von Schlippenbach, Cecil Taylor, Ginger Baker, Peter Kowald, Hamid Drake ou William Parker. A sua relação com o nosso país era bastante especial, já que foram muitos os concertos que deu em solo português, tendo ainda visto alguma da sua música editada no nosso mercado — Snakelust (To Kenji Nakagami) e Soulfood Available são dois lançamentos da Clean Feed onde podemos escutar o seu saxofone, tal como em Black Bombaim & Peter Brötzmann, trabalho desenvolvido com a banda de rock nacional Black Bombaim que viu a luz do dia em 2016 através de uma parceria entre a Shhpuma e a Lovers & Lollypops.