Jack DeJohnette morreu ontem de insuficiência cardíaca aos 83 anos de idade. A notícia foi confirmada pela ECM Records, histórica editora de jazz que acolheu algumas das suas mais importantes obras.
DeJohnette foi um dos bateristas de jazz mais influentes e versáteis do século XX, com uma carreira marcada por colaborações com inúmeros nomes sonantes e pelo papel fundamental que desempenhou no desenvolvimento do jazz de fusão. Nascido em Chicago, começou por tocar piano aos quatro anos, mudando para a bateria apenas na adolescência — essa dualidade acabaria por definir a sua abordagem musical futura. A sua carreira tem início na década de 60, numa altura de transição para o músico, que ainda conseguiu ter a oportunidade de tocar com a Arkestra de Sun Ra e com John Coltrane antes de se mudar para Nova Iorque, onde se estabeleceu como membro do Charles Lloyd Quartet, onde tocava também o pianista Keith Jarrett, com quem veio a formar uma longa e frutífera parceria.
O ponto alto no arranque do trajecto de DeJohnette foi o ingresso na banda de Miles Davis já na transição para a década de 70. Foi ele o baterista principal do seminal álbum Bitches Brew, que revolucionou o jazz ao incorporar instrumentos eléctricos e influências do rock. A sua capacidade de groovar foi elogiada pelo próprio Miles Davis, que manteve DeJohnette por perto no decorrer da criação de outras obras importantes para a modernização do jazz, como Live – Evil e A Tribute to Jack Johnson. Paralelamente ao trabalho com o icónico trompetisca, foi também cimentando o seu próprio trajecto como bandleader, tendo lançado o seu primeiro álbum, The Jack DeJohnette Complex, em 1968.
Após deixar a banda de Davis, o baterista consolidou uma prolífica carreira como autor e colaborador. O trabalho que desenvolveu sob a alçada do selo ECM a partir dos anos 70 proporcionou uma plataforma para sua particular forma de tocar. Também formou grupos importantes — como Gateway (com John Abercrombie e Dave Holland) e Special Edition (onde ajudou a lançar novos talentos para a ribalta, como David Murray e Arthur Blythe) — e foi, durante várias décadas, membro do aclamado Standards Trio com Keith Jarrett e Gary Peacock. Ao longo da sua vida, recebeu vários prémios e distinções, incluindo dois Grammys.