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Há uns dias, prestes a darmos entrada na temporada de Verão de 2021, a chuva voltou e os dias arrefeceram durante a última semana. A ideia de termos um pôr-do-sol digno da época, em todo o seu esplendor e acompanhado por uma bebida refrescante e banda sonora à medida, não quis abraçar Lisboa desta vez. Chegados à capital, na passada sexta-feira, o céu em tons de cinza e o vento que nos obrigou a levar casaco como precaução travavam qualquer euforia, mas as cores e o ambiente informal que sempre reinaram no aglomerado de contentores do Village Underground ajudavam a equilibrar a balança das expectativas.
O balanço positivo desse fim de tarde estava nas mãos dos dois DJs de serviço, que entrariam em cena poucos minutos após as 19horas. Falamos da dupla Moreno Ácido & Diogo, que no final de 2019 protagonizaram uma pequena revolução dentro da Holuzam ao cravarem os seus nomes naquele que ainda se pode gabar de ser o registo mais dançável de sempre da editora que havia sido fundada um ano antes para recuperar explorações sónicas de outrora, trilhadas por Telectu e DWART, dois nomes primordiais da electrónica nacional. Em homenagem a estes dois novos militantes da cena rave tuga — e a casar na perfeição com a duração da viagem entre Mem Martins e Lisboa — Roçadas EP voltaria a soar alto na colunas do carro meia hora antes de nos sentarmos numa das mesas do recinto.
Enquanto o nosso smartphone nos possibilitava adiantar algum trabalho de escrita remotamente, os protagonistas do evento, com a ajuda da equipa técnica do espaço, afinavam toda a maquinaria para uma maratona musical sem entraves. Da cabeça para a ponta dos dedos fluíam palavras em torno das mais recentes novidades do universo de Tyler, The Creator, quando do silêncio começa a surgir, em crescendo e num pitch ligeiramente acima do original, um dos primeiros temas da carreira de Fatima, “Red Light“, que em 2011 integrou o EP que a cantora criou a meias com o irreverente alquimista britânico Floating Points para a Eglo Records. Afinal, esta era uma história que tinha tudo para terminar bem.
O primeiro a entrar em acção foi Diogo. Visivelmente bem disposto, trocava várias impressões com a comitiva de amigos que o acompanhava na frontline de uma pista de dança exclusiva para gente sentada, ao mesmo tempo que procurava as marcas certas nos seus vinis para disparar a malha seguinte. O calor e as cores da soul foram a marca de água num alinhamento que, ao nível das batidas, conseguia ir do break ao techno, tendo talvez a cultura que faz vibrar o underground britânico como principal referência. Faixas como “No Fuss No Fight” (de Saul) e “Gold Rush” (de LB aka LABAT) soltavam algumas das ondas sonoras que nos faziam esquecer a falta de radiação ultravioleta.
Já pouco sobrava do dia e cada vez mais se notavam as luzes púrpura, que fazem parte do cenário onde se colocam os DJs no Village Underground, quando chegou a vez de Moreno Ácido corroer os decks. Mais tribal e tropical do que o seu colega, embora munido dos mesmos fundamentos no que toca ao gosto pela electrónica, o autor de 91 Fahrenheit fez questão de fazer subir as temperaturas e levar-nos para coordenadas mais exóticas, ao som de “Blue Moon Tree” (de Lone) ou “Mido” (de Yak), antes de nos fazer descer às catacumbas da cena club, onde outrora fomos felizes no reino do calor via contacto humano, tendo “Bandit 001” (de Brako) ou “Encounter” (de Dircsen) como panos de fundo.
Os dois amigos, que já se encontram a preparar o sucessor de Roçadas EP, iam trocando as posições organicamente, num DJ set dinâmico que ficou arquivado na página de Vimeo do Village e que podem assistir de seguida.
VHH#36 – Moreno Acido + Diogo from VillageUndergroundLisboa on Vimeo.
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