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Fotografia: Cláudio Ivan Fernandes
Publicado a: 28/02/2022

Para confirmar que sensação é esta...

Morad no Lisboa ao Vivo: a noite em que o príncipe se fez rei

Fotografia: Cláudio Ivan Fernandes
Publicado a: 28/02/2022

Quem quer que passasse na Avenida Marechal Gomes da Costa na passada sexta-feira à noite, certamente se questionaria o porquê de existir uma grande (e jovem) concentração à porta da “nova” localização do Lisboa ao Vivo. Para quem tinha conhecimento de causa, a resposta justifica – e muito bem – o alvoroço que ali se criava: a estreia de Morad em Portugal.

Prestes a completar 23 anos de idade, Morad El Khattouti El Horami, artista catalão de ascendência marroquina, é um fenómeno, tanto em Espanha, onde tem feito carreira, como em Portugal, não tivesse este esgotado ambas as datas — a no LAV e a no Hard Club, no Porto. Ainda mais prova da presença do nome do rapper nas bocas do público português é que pouquíssimos minutos haviam passado da abertura de portas (pelas 21 horas) e já uma enorme enchente humana se havia tornado protagonista da frontline do palco, aquecendo o ambiente da sala, um contraste com o frio da noite lisboeta. Eram os primeiros indícios da casa apetrechada que se viria a tornar o LAV dali a cerca de hora e meia, altura em que Morad pisaria o palco do LAV pela primeira vez, acompanhado pela sua crew, meia hora depois da hora inicialmente prevista para o início do espectáculo – nem se adivinhava que, do lado oposto de Lisboa, o segundo dia da edição de 2022 do ID_NOLIMITS se desenrolava para muito do mesmo público-alvo.

Mas se havia alguma hipótese de que o atraso da praxe quebrasse alguma da energia e boa disposição que se sentia no ar, isso acabou por não se verificar. A entrada de Morad em palco com “La Calle y Su Clase”, faixa de M.D.L.R, o seu álbum de apresentação, foi como uma faísca que deu início a um fogo que se prolongaria por 70 minutos – mais coisa menos coisa. Banger atrás de banger, hit atrás de hit (podemos já dizer que é uma máquina de fazer êxitos ou ainda é demasiado cedo para tal?), o carisma de Morad desliza em palco como se este fosse o seu habitat natural, encapsulando a energia de um jovem que, além de ser um criativo prolífico e eclético, parece ter encontrado na expressão musical um veículo para espelhar o seu street cred, que, verdade seja dita, é uma forma do artista não fazer esquecer as suas origens e o caminho traiçoeiro e complicado que teve de traçar. Morad não tem qualquer predisposição para deixar esquecer isso, tanto nas suas faixas – “Aguantando”, por exemplo, é iniciada com um cântico de crítica à brutalidade da polícia espanhola — como na forma como se apresenta ao mundo, cru e real como a sua música.

A forma como o público o recebe e acompanha em faixas como a anteriormente mencionada ou “Normal”, cantando todo o santo hook e verso, é prova de que os seus fãs estão bem conscientes da história. E o amor que os seus admiradores lhe dão, ao longo de todo o concerto, Morad devolve em igual medida. Foi uma relação saudável que ali se criou, uma simbiose onde o carinho do público serve como combustível extra para o rapper. O combo que se vive entre o hip house de “Soñar” e a versão destilada de afrobeats de “Motorola”, contando com “Cuando Ella Sale”, “Añoranza, Sinónimo de la Soledad” e “Cómo Están” pelo meio, é um alinhamento astronómico de se ouvir em que mal existe espaço para recuperar o fôlego, exigindo que o público se encontrasse num frenesim constante de êxtase com todos os fusíveis ligados, como se o amanhã não fosse existir – o que importa é o aqui e agora.

Ainda antes do festejo final com “Pelele” – a fechar o concerto com chave de ouro, existiu tempo para ouvir o novo single de Morad, “No y No”, que, apesar de ter saído no dia do concerto, já contava com muito acompanhamento em coro do público. O amor verdadeiro é assim, não há demoras para o demonstrar – “Portugal es mi casa”, ouve-se nos momentos de despedida do artista em palco.

Mesmo com o público a clamar por um encore que rapidamente se percebeu que nunca chegaria, a estreia de Morad no nosso país foi um verdadeiro sucesso, a confirmação de um artista que poderá seguir as pisadas de um C. Tangana ou Rosalía rumo ao estrelato mundial a partir de Espanha. Mas enquanto o cantante madrileno e a cantora catalã apontam à glamour (mesmo que à primeiro vista, em momentos, exista um kitsch bem empregue nas suas faixas), Morad continua com os pés assentes nas suas vivências do dia-a-dia no bairro La Florida, em L’Hospitalet de Llobregat, representadas de forma bem vívida na sua música. E nesta sexta-feira, pelo menos durante algumas horas, o Lisboa ao Vivo virou a conquista de Morad. Em Julho (no dia 22, para ser exacto), no festival Solnaro, em Braga, existirá mais conquistas a serem feitas por este príncipe que, pelo menos durante uma noite, virou rei numa sala lisboeta.

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