Texto de

Publicado a: 23/06/2015

pub

mobb_deep_survival_of_the_fittest_ep_review

Scared to death, scared to look / They shook / Cus ain’t no such thing as halfway crooks”. Quem não conhece esta rima está desligado do cenário hip hop ou, pelo menos, nunca viu as rap battles do The Shelter, em 8 Mile, o biopic de Eminem que contribuiu para imortalizar não só os versos como o beat que Havoc desenhou enquanto metade dos Mobb Deep, evidenciando a influência que este duo nova-iorquino teve no movimento que sugeriu uma nova forma de se fazer música, preferindo a realidade negra e crua dos subúrbios às histórias idílicas e tão forçosamente agradáveis da pop.


 


 

Sempre partilhei a ideia que a grandeza de um artista se mede pela longevidade do seu trabalho sobre o espaço temporal e não por um número gerado por calculadoras. Survival of the Fittest é exatamente isso: a resistência dos mais fortes sobre a erosão do tempo. Este EP é o murro na mesa que fazer ecoar a presença dos Mobb Deep no presente, mais de duas décadas depois da primeira estreia, que antecedia aquilo que dificilmente se previa – um lugar no Hall of Fame de um movimento de escala global.

Isto porque Juvenile Hell, o primeiro trabalho de Albert “Prodigy” Johnson e Kejuan “Havoc” Muchita, editado em 1993, não conseguiu mais que vinte mil cópias vendidas. Mas não os culpamos por isso, culpamos Nas e os Wu-Tang Clan por terem mostrado Illmatic e Enter the Wu-Tang ao mundo na mesma altura, fazendo com que tudo o resto fosse apenas barulho de fundo. Foi neste clima intensamente competitivo que nasceu aquilo que não estava previsto: The Infamous, a longa-metragem musical que em 1995 levou os Mobb Deep a jogo e lhes garantiu um lugar no pódio principal dos melhores álbuns de hip hop desse ano (incluindo a nota 10/10 da Pitchfork).

Passam os anos, mas não se mudam as vontades. Hoje, oiço este EP como um regresso à zona de conforto: o local que, não sendo novo, continua a soar a casa. Da teoria à prática, ouça-se a segunda faixa, cujo nome já ouvimos em algum lado. “Survival of the Fittest” já tinha feito parte de Infamous, e volta a chegar-nos ao ouvido vinte anos depois. Porquê?


 


 

“We living this ‘til the day that we die / Suvival of the fit only the strong survive” – os versos que servem de mote àquele que considero ser o motor da peça deixam clara a mensagem de Havoc e Prodigy a quem os ouve: só os mais fortes sobrevivem à efemeridade que reina no mundo musical, e nós [Mobb Deep] somos um deles.

We’re clearly ill / purely dope, really flowed / throught the clouds we bounced around the globe” – ouvimos em “What’s Going On” e confirmamos aquilo que tornou os Mobb Deep num nome de referência no universo hip hop, dois liricistas e produtores que começaram from the very bottom e hoje servem de referência a artistas contemporâneos como Jeremiah Jae, Joey Bada$$ e Earl Sweatshirt. Tudo graças à forma como fizeram da sua realidade decadente uma inspiração para querer chegar mais alto. Intuito esse que se espelha na faixa seguinte (“Life is What You Make It”): “Anything that can be done I do it better / Anything is possible, I can do whatever I choose / Life is what you make it / I choose my own path, Life is what you make of it”, versos que sintetizam facilmente aquilo que os grandes nomes do hip hop nos ensinaram: todo o sonho, por mais megalómano que seja, é alcançável, se a ambição for de igual tamanho.

O duo Mobb Deep é isto e muito mais. Dia 26 vamos poder ouvi-los no Santiago Alquimista e de lá sairemos certamente com uma outra atitude. É seguro prever uma réplica da cena do The Shelter em Lisboa assim que começarem a soar os primeiros alarmes de “Shook Ones (Pt. II)”.

Faixas essenciais: “Survival of the Fittest” / “What’s Going On” / Life is What You Make It

 

pub

Últimos da categoria: Críticas

RBTV

Últimos artigos