pub

Fotografia: Cláudio Ivan Fernandes
Publicado a: 06/09/2022

& Amigos.

Mirai no Village Underground Lisboa: o rapper que arranca sorrisos da plateia, mesmo quando o assunto é sério

Fotografia: Cláudio Ivan Fernandes
Publicado a: 06/09/2022

O conceito de concerto é coisa do passado. Na primeira vez que subiu em nome próprio a um palco na capital portuguesa, isto na passada sexta-feira, dia 2 de Setembro, Mirai foi mestre de cerimónias num “meeting de boas pessoas”. Esta forma de olhar para o seu próprio espectáculo musical não podia ser mais certeira, tal era o ambiente informal que se formou no Village Underground Lisboa para ver o artista de Rio de Mouro. Perante uma sala com menos gente do que era expectável, valeu ao mentor do movimento Shin Sekai o amor incondicional daqueles que reservaram um par de horas nas suas agendas para o ver ao vivo. Pode não ser a legião de fãs mais fiéis do panorama nacional, mas é, sem qualquer dúvida, uma das que mais dados móveis consome em prol do seu ídolo, tantos eram os smartphones que se aproximavam da frontline para transmitir o acontecimento em directos para o Instagram e para deleite daqueles que se deixaram ficar em casa.

O produtor ERR0 e DJ Perez garantiram que nenhum instrumental faltasse ao homem que, na recta final de 2021, se aliou a Osémio Boémio em Bohemian Trapsody, projecto em grande destaque durante a sua passagem pelo Village Underground. Equipado com calças e colete negros, Mirai manteve sempre uma postura descontraída, como se fizesse isto todos os dias. Da sua boca saíam rimas carregadas de alma, servidas em notas musicais certeiras e que ganhavam toda uma outra dimensão ao passar pelo processamento do auto-tune. Entre temas, num jeito galhofeiro, largava uma ou outra piada e não se cansava de pedir palmas para si próprio, levando como resposta o dobro ou o triplo do alarido imaginável por parte de tão modesta plateia.

A festa começou rija, com o rapper a fazer uso das suas canções mais enérgicas, como que a garantir que a tinha toda a nossa atenção desde o primeiro segundo. Frisou para o que veio em “Marca”, afastou qualquer réstia de má energia ao entoar a letra de “Froid” e agarrou o público por completo, que cantou pela primeira vez em uníssono, quando chegou ao refrão de “Traplife” — mais do que um statement, aquele “Trap life tou na moda, quase nada me incomoda” chega a ser profético, se pensarmos que a faixa foi lançada um ano antes de ter recebido um convite para assinar a banda sonora de um dos desfiles do ModaLisboa.



Não foram precisos muitos mais temas até que chegássemos a “Papo Reto”. O beat que nasceu das mãos de Lazuli e Nedved serviu como base para as prestações de Mirai e Bizzy numa das fases da competição O Game, da WTF e da Think Music, que o primeiro acabaria por vencer juntamente com um destes produtores. Foi mesmo Bizzy quem assegurou os minutos que se seguiam no alinhamento, deixando o anfitrião respirar por breves momentos, com recurso a material unreleased. Mesmo sem ter ainda colaborado com o homem daquela noite, também Goose08 haveria de ter direito a vários minutos de palco, ficando bem perceptível que partilha vários fãs com Mirai, tais eram as vozes ao nosso lado que acompanhavam as letras de “Foto Comigo”, “Serve O Meu Copo” ou “Tudo é Rap”. DOMI deu por fechada a lista de convidados para este espectáculo e deu o máximo das suas cordas vocais enquanto esteve sob a luz dos holofotes para a interpretação de “Toque”.

Entre referências a anime e relatos de uma realidade crua, “Luffy”, “Vice City”, “Shox” e “Shaqui” foram mais alguns dos condimentos que apimentaram o espectáculo, cuja temática só haveria de virar já na recta final da apresentação ao vivo: o amor falou mais alto quando as colunas ecoaram canções como “Mordomo”, “Alma Congelada” ou a mais recente “Assassino”.

“Acham que falta tocar alguma?”, perguntou Mirai, quando o cronómetro do gig quase batia nas duas horas de duração. O consenso nos pedidos foi total: “Iris”, o seu prematuro mas eterno clássico, era a derradeira cartada nos planos do rapper e motivou uma invasão de palco por parte daqueles que se sentiram confiantes para dividir o espaço do artista, que se desdobrou em cumprimentos e abraços no calor do momento. Depois disso, Mirai bem que se quis despedir mas a intensidade nas palmas falou mais alto. Deixou uma mensagem importante para aqueles que podem estar a atravessar uma fase mais delicada — “há mais para viver no futuro do que coisas para lembrar do passado”, não se esqueçam — e partiu de seguida para um breve encore, que recuperou um par de músicas que já havia interpretado durante aquele serão, desta vez rodeado pelos seus rapazes e sob um intenso banho de água que vinha das garrafas dos amigos.


pub

Últimos da categoria: Reportagem

RBTV

Últimos artigos