[FOTO] José Sérgio/SOL
A 2ª edição do Lisb-On aterra no relvado do Parque Eduardo VII, em Lisboa, na 6ª feira e no Sábado. Depois de uma primeira edição que serviu de apalpação do terreno – ainda que incluísse nomes gigantes da cena electrónica internacional, como Dâm-Funk ou Moodymann -, este regresso do Jardim Sonoro é também uma prova de que o conceito já está plantado para anos vindouros, assumindo um papel de relevância e até frescura no panorama cultural da capitaç no final do Verão.
Na véspera de mais uma edição, que conta com mais uma série de artistas de reconhecida veia criativa, como Nicolas Jaar, Jazzanova ou Todd Terje, sem esquecer os portugueses Mr. Herbert Quain e Fandango, o Rimas e Batidas trocou umas breves palavras com o produtor do evento,Miguel Ângelo Fernandes, sobre o que esperar de mais uma celebração da música electrónica no seus mais variados compósitos estilísticos.
Qual a ideia que presidiu ao desenho do conceito Lisb-On? Este é, nitidamente, um festival diferente…
Arrancámos com a vontade de fazer uma festa para a cidade, tirando proveito do que Lisboa já tem para oferecer. Chegar a dois dias de festa foi um passo. Assim que a ideia se tornou pública, baptizaram-nos de festival. Ambicionamos ser uma boa experiência a complementar o panorama. Provavelmente como todos. A preocupação com o detalhe é uma tónica possível para um evento da nossa dimensão – para cinco mil pessoas. A partir de aí é “só” manter o plano para proporcionar algo divertido que nos retrate Lisboa como cidade moderna e com hype.
Quando chegaram ao último momento da primeira edição que aconteceu em 2014, qual foi a sensação que vos assaltou? “Conseguimos!”, “Vamos já começar a pensar no próximo?”…
Com o final da primeira edição surgiram-nos várias sensações. Por um lado aquilo que resulta naturalmente da concretização de um projecto de nove meses de trabalho. Idealizar, planear, implementar e executar trouxe-nos a noção de que tínhamos tornado possível algo em que acreditámos e por aí o “YES – conseguimos”. Depois, apesar das condições climatéricas adversas, fomos brindados com uma militância fora do comum que nos fez sentir francamente acarinhados. Aquilo a que tínhamos assistido foi especial, não só para nós. E com isso veio o entusiasmo. Ainda antes de pensar no próximo, houve lugar a alguma reflexão sobre os aspectos que teríamos que corrigir, que foram vários. Só depois equacionámos o 2015.
Houve alguma ideia estruturante para o desenho do cartaz de 2015?
Quando pensámos no cartaz, apontámos exclusivamente para preferências. É disso que resulta a estrutura do cartaz e é isso que queremos continuar a fazer, atendendo ao facto de estarmos num jardim e num evento maioritariamente diurno. Como consequência, tentamos sempre apresentar diferentes formatos – concertos, lives e DJ sets – que também contribuem para um alinhamento “colorido”, falando de estilos ou géneros musicais. A partir disto “importamos” referências no plano internacional, talvez este ano um pouco mais abrangentes se compararmos com a edição do ano passado. E como evento que se preza, sendo Lisboa e Portugal a nossa base, queremos promover e divulgar a música feita por portugueses dando o palco a projectos nacionais, consagrados ou promitentes, que assumem um twist mais electrónico.
Há um público específico para o Lisb-On? Como se caracteriza?
O público do Lisb-On é um pouco transversal. Se pensarmos em idades, é fácil encontrar diferentes gerações e até pais com filhos. Não exagero se disser dos 8 aos 80 – graças ao meu pai! Também é muito equilibrado na distribuição por género. Conhecedor e com termo de comparação porque está habituado a estas andanças. Exigente mas disponível para novas experiências. Mas na diversidade, a existir algo comum, eu diria que é o gosto por momentos bem passados e pela música. Em poucas palavras, é um público muito cool.
O cartaz de 2015 é ambicioso com nomes como Nicolas Jaar ou Jazzanova. Foram nomes que perseguiram especificamente ou que surgiram como oportunidade nas sugestões das agências?
Como disse, faz-nos sentido escolhermos coisas de que gostamos e do conjunto saem algumas convergências. Pontos em comum que formam um espectro alargado. Existem exemplos para ambas as situações e o resultado final é consequência de um trabalho intenso, num mercado feroz, onde antiguidade é um posto e o poder financeiro é lei. O Nicolas Jaar por gostarmos muito dele ou do que ele fez muito bem feito; os Jazzanova porque como ícones de uma época, também são responsáveis pela maneira como ouvimos música electrónica hoje… Tê-los de uma maneira ou de outra, o importante é tê-los presente.
Pessoalmente, que momentos mais aguarda na edição deste ano?
De uma forma geral, estou expectante em relação ao resultado final do cartaz como um todo. Mas a estreia dos Fandango, o regresso de Nicolas Jaar e Todd Terje, Andras & Oscar e o final de Michael Mayer são momentos imperdíveis.
Já há datas pensadas para a edição de 2016?
Será em Setembro, mas sem data fechada, por enquanto.
Como vê o futuro de Lisboa no mapa global da música electrónica? Durante muitos anos pensou-se que era uma cidade demasiado periférica em relação ao resto da Europa. Mudou alguma coisa?
Mudou! Se falarmos de há 20 anos atrás, mudou de certeza. Às vezes fico com a sensação de que o problema não está no espelho, está nos olhos. O que quero dizer é que Lisboa é uma capital com estilo próprio, moderna, apetecível e com problemas ao olhos dos lisboetas, mas reconhecida pelos olhos estrangeiros. Se falarmos de música, também é assim. Vivemos um momento pródigo na produção e criação de música electrónica nacional. De facto existem cada vez mais referências/projectos com origem em Lisboa (e em Portugal) e quando vemos plateias no estrangeiro esgotadas por artistas portugueses percebemos que estamos bem representados no mapa actual. Periférica, só geograficamente. De resto, do que conheço, é comparável.
Finalmente, que nomes gostaria de um dia ver no cartaz do Lisb-On se não houvesse qualquer limite orçamental?
Sonho com Bonobo a apresentar o disco que se segue. Com a estreia do próximo live de Plastikman. Com uma casa cheia para ouvir Ryuchi Sakamoto & Alva Noto em Summvs II. Sonho com ser escolhido pelo Ludovic Navarre para o regresso a Lisboa em modo Saint Germain. Já agora que fosse possível a descida do Gil Scott-Heron para uma ultima audição do “I’m New Here”. Não quero acordar. Posso continuar??
Toda a informação sobre o Lisb-On está no site oficial. Os bilhetes podem ser adquiridos aqui.