(Este ensaio é uma celebração poética e valiosa de Maria Radich, uma artista cujos movimentos e vozes não são apenas formas de expressão, mas passagens para territórios inexplorados. Ela dança como se moldasse o titânio em movimento, e sua voz ecoa como vibrações entre os veios do ouro e da platina, uma verdadeira escultora de ligas preciosas.)
[Ligas de Movimento e Som: A Odisseia de Maria Radich]
Na vastidão reluzente da arte, poucas figuras cintilam com a intensidade e singularidade de Maria Radich. Bailarina, cantora, coreógrafa e improvisadora, Maria transcende o peso da criação artística tradicional, movimentando-se com a leveza de uma folha de alumínio polida e a força de um bloco de lítio. Nascida em Lisboa, a sua jornada começou com os primeiros passos em direcção à dança, mas rapidamente se expandiu para incluir outros territórios preciosos, como o teatro e a música.
Com uma formação sólida em dança contemporânea e uma paixão insaciável pela exploração vocal, Maria tornou-se uma viajante entre mundos artísticos, entrelaçando corpo e voz numa sinfonia de improvisação. As suas colaborações com músicos visionários e a sua participação em grupos como Lantana e AbztraQt Sir Q demonstram a sua capacidade de habitar dimensões sonoras tão intrincadas quanto os fios de prata tecidos por um artesão. Como professora e mentora, ela partilha esse universo de metais e minerais raros com outros, ajudando-os a descobrir o brilho das suas próprias ligas na arte da expressão.
Esta introdução é um vislumbre do requinte que Maria Radich forjou com os seus movimentos e a sua voz, desafiando as fronteiras do corpo e da arte, numa odisseia sem fim rumo à criação de uma liga única, resistente e eternamente preciosa.
[O Nascimento de uma Liga Preciosa]
No ano de 1975, uma nova liga de rara composição foi forjada em Lisboa. Maria Radich, bailarina e cantora, nasceu sob a pureza do titânio e a maleabilidade do lítio. Desde cedo, o seu corpo moldava-se como o ouro líquido, fluindo em sincronia com as forças da criação. Em 1992, o Chapitô tornou-se o seu cadinho artístico, um espaço onde a gravidade e a forma eram desafiadas. Lá, na Escola Profissional de Artes e Ofícios do Espectáculo, Maria começou a temperar a sua arte com a precisão de um ourives.
[A Dança entre Ligas Preciosas]
Em 1995, a Escola Superior de Dança abriu-lhe as portas, e a dança tornou-se o seu idioma universal. Os movimentos começaram a traçar rotas como partículas de prata, unindo-se e separando-se numa alquimia perfeita. Em 1998, inicia-se a sua jornada como coreógrafa, uma artesã que desenha danças como filigranas em platina, cada uma única, cada uma brilhante. No Forum Dança, Maria explora as propriedades maleáveis da improvisação, lapidando gestos e formas com a delicadeza do cobre trabalhado.
[Cânticos das Minas Profundas]
A música, sempre presente, transforma-se em vibração e matéria. Maria, seguindo os ecos do titânio e do ouro, encontra-se com mestres da improvisação sonora: Nuno Rebelo, Carlos Zíngaro, José Menezes. Workshops tornam-se verdadeiros laboratórios alquímicos, e as suas aulas de canto são fornos que fundem metais raros em som. Cristina de Castro e Barbara do Canto Lagido afinam a sua voz como cristais de quartzo, enquanto Ute Wassermann e Inês Nogueira traçam caminhos melódicos entre os veios de minerais raros.
[Granularidade Metálica]
Entre 2004 e 2008, Maria explora novas dimensões na Associação Granular, onde o som se fragmenta e se transforma em partículas preciosas. Cada nota, cada improvisação é como pó de prata em suspensão, cada concerto um mosaico de metais em fusão. Com músicos como Ernesto Rodrigues, Francisco Trindade e Maria do Mar, Maria forja composições únicas, maleáveis, sempre em transformação.
[Orquestras de Ligas e Fusão]
Poliploc Orquestra, OVO, Lantana. Em cada um destes projectos, Maria é uma folha de alumínio em perpétuo movimento, dobrando-se e adaptando-se à improvisação. Como uma barra de titânio forjada em alta pressão, a sua trajectória é imprevisível, mas sempre resistente e fascinante. Com o grupo AbztraQt Sir Q, a partir de 2010, a sua voz ressoa como um diapasão de ouro puro, vibrando em frequências de alta precisão.
[A Voz que Cria Joias]
Além de performer, Maria é também uma criadora de mundos preciosos. Em oficinas de corpo e voz, ela molda sons como gemas brutas, ajudando cada participante a lapidar o seu próprio brilho. Desde 2008, a sua jornada pedagógica tem espalhado novas ligas de som e movimento, onde a arte se torna um processo de refinamento incessante.
[Uma Nova Liga a Cada Passo]
Maria Radich continua a reinventar-se, criando novas fusões e texturas a cada performance. O seu percurso é uma dança infinita, um processo contínuo de lapidação e descoberta. Como uma liga de metais raros, ela combina força, flexibilidade e brilho, cruzando fronteiras entre música, dança e performance. Maria constrói um universo onde o som e o corpo são a matéria-prima de uma criação eterna, sempre em estado de fusão e renovação.
[Lantana: A Flor de Metal que Canta]
Entrelaçando raízes preciosas com veios metálicos, Lantana é mais do que um projecto musical — é uma liga em constante mutação. No núcleo desta fusão sonora, Maria Radich ergue a sua voz como uma lâmina de aço que vibra em harmonia com a música. Cada nota sua é uma partícula de ouro que ecoa por superfícies polidas, enquanto o seu corpo segue o fluxo do mercúrio em movimento.
Maria é o sopro que anima as ligas deste metal vivo, e cada melodia é uma fundição que guia o ouvinte por paisagens sonoras. As suas companheiras de palco são minérios em fusão, criando texturas e harmonias únicas. Em Lantana, o som é uma peça de ourivesaria em constante transformação, onde cada gesto vocal é uma nova linha gravada num medalhão eterno.
Assim, Lantana floresce, não em terra firme, mas na delicada fusão do som e do metal. Maria Radich, com a sua voz preciosa, lembra-nos que a música e a vida são uma contínua alquimia, onde som e movimento se tornam ligas de pura beleza, sempre à procura de novas formas de brilhar.
[Fusão Criativa: O Legado Precioso de Maria Radich]
Maria Radich, como uma liga de metais raros em constante transformação, continua a brilhar no universo da arte com a sua energia inesgotável. A sua trajectória, marcada por movimentos que transcendem a rigidez da técnica e por uma voz que vibra como lâminas de titânio em harmonia, deixa um rasto cintilante no mundo da improvisação e da criação artística. Ao longo da sua carreira, Maria foi muito mais do que uma bailarina ou cantora; ela foi e continua a ser uma artesã incansável, capaz de fundir corpo e som numa expressão única e irrepetível.
Os seus passos deixaram marcas indeléveis, como incisões em metais preciosos, e a sua voz ecoa como uma melodia gravada em placas de platina, desafiando as fronteiras do tempo. Ao mover-se entre diferentes disciplinas — da dança contemporânea à música improvisada — Maria ampliou os limites do que significa ser uma artista interdisciplinar. A sua arte não é apenas uma criação para o presente; é uma filigrana de experiências que continuará a reluzir e a orientar aqueles que, como ela, ousam explorar os confins da criatividade.
O legado de Maria Radich é um lembrete de que o corpo e a voz são ferramentas preciosas, capazes de lapidar emoções e navegar pelos veios mais profundos da expressão artística. Cada performance sua foi, e continuará a ser, uma fusão de som e movimento que transforma tudo ao seu redor, deixando-nos deslumbrados com a infinidade de possibilidades que a arte oferece.