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Publicado a: 10/08/2018

MEO Sudoeste’18 – Dia 2: em caso de emergência, liguem para os Wet Bed Gang

Publicado a: 10/08/2018

[TEXTO] Alexandre Ribeiro [FOTOS] Filipa Trindade e João Cautela

Algumas horas antes de actuar no Palco LG do MEO Sudoeste, Papillon revelava-nos que uma vinda solitária (que depois deixou de o ser) ao festival em 2011 tinha sido o clique necessário para seguir a carreira no mundo da música. Bem-dita hora em que decidiu fazê-lo.

Na edição de 2017, o autor de Deepak Looper marcou presença com os GROGNation: o resultado foi bastante positivo e o grupo de rap nacional mostrou que existia um projecto sólido que dificilmente iria sucumbir. Em 2018, a equipa dividiu-se: Papillon para um lado, Nasty e Harold para o outro. Porém, a ideia das empreitadas a solo é, segundo o primeiro, uma forma de explorar novas formas que mais tarde serão assimiladas para o conjunto.

Como já é habitual, Vasco Ruivo (guitarrista), Luís Logrado (baterista) e X-Acto (DJ) foram os seus parceiros neste “sonho concretizado”. O álbum de estreia foi tocado de uma ponta à outra e, mesmo com alguns esquecimentos pelo meio, a nota é positiva, confirmando-o novamente como um dos grandes nomes deste ano que ainda vai a meio — a enchente pré-concerto não enganava. Embevecido pela reacção, Rui Pereira não quis ficar a perder nesta luta de emoções e comoveu os presentes com “Imagina”, uma daquelas canções que tem tudo para adquirir o estatuto de intemporal.

 



Os horários e as mudanças do palco principal obrigaram a mexidas no itinerário ReB. C4 Pedro prolongou-se e a actuação de Eva RapDiva acabou por “sofrer” um pequeno atraso que só nos permitiu ver pouco mais de vinte minutos. Porém, esse tempo foi o suficiente para atestar as suas capacidades no freestyle (“quando forem a concertos de hip hop peçam isto aos rappers”) e em bangers como “LadyBoss” na companhia de Tayob J., Pina e Tamin.

Também houve espaço para reclamar espaço para as mulheres, uma agenda que ainda é claramente necessária: apenas uma mulher no meio de quinze homens, um desnivelamento brutal que também acontece (mesmo que numa escala menor) nos outros dias.

Abandonarmos o concerto da rapper para assistirmos à actuação de Wizkid foi um erro grosseiro. O DJ do artista nigeriano assumiu metade do gig (aqueceu e fechou) e a outra metade foi feita a perguntar se gostávamos de música africana. O afrobeat alegrou a espaços, mas o Starboy (ou melhor, o Yellowboy — só não tinha ténis amarelos) não deu mais do que se exigia perante uma plateia que fugiu em massa depois do concerto anterior.

Um dos momentos altos da noite aconteceu no Moche Ring. Phoenix RDC não encheu o espaço, mas quase, e a energia esteve nos píncaros, aliás, fez lembrar a prestação de Regula no mesmo festival, mas na edição de 2013.

A expressividade é um dos seus trunfos, aliada a uma entrega com uma impetuosidade incomum no rap nacional. Ao vivo, tudo isso serviu a seu favor e a Junior Mafia ajudou, mesmo que sem microfone, a puxar pelo público. E se “Papo Recto 2” foi intensa da primeira vez, imaginem na segunda. “Ingratidão”, “Professor”, “Thug Life” ou “Dureza” também fizeram parte da setlist e satisfizeram um público que quis cantar cada palavra. Uma lição de força com o selo V-Block.

 



Antes de arrumarmos as malas e deixarmos Nasty + Harold, Mike El Nite e DJ Kronic nas mãos dos resistentes, ainda houve tempo para ver o rapper mais consciente da nova geração, Estraca, que desfilou, mudou, alterou, usou e abusou das mais variadas técnicas de rimar. Na outra ponta do recinto, os Wet Bed Gang substituíram Hardwell e exibiram a outra face do rap português: lascivo, imprudente e desenvergonhado. O grupo de Vialonga está destinado a vingar no MEO Sudoeste: o ano passado foram abençoados pelo atraso de Lil Wayne — que tocava à mesma hora que eles — e este ano foram chamados para o palco principal depois do cancelamento de Hardwell.

Sem banda, mas com um Conductor assertivo a atirar instrumentais, o colectivo não se encolheu, mesmo que, tal como reforçou GSon variadas vezes, os seus membros tivessem sido chamados de urgência há apenas quatro horas. O autor de “Voar” assumiu a capitania da equipa e dominou o palco e o público, mostrando uma série de argumentos que não deixam dúvidas de que estamos perante um dos maiores talentos da sua geração. “Já Passa”, momento solene no meio da festa que permitiu uma espécie de redenção de Zizzy, e “Devia Ir”, que mereceu dose dupla, serviram para exibir a sua forma idiossincrática de cantar e a sua capacidade inata para criar refrões que nunca batem na rocha.

Tendo isso em conta, Zara G, “o mais novo sem juízo”, tem o maior apelo para as camadas mais jovens. “Chaminé” — vamos ver se “Gucci Gang” de Lil Pump terá a mesma recepção efusiva –, “50/50” (na companhia de Giovanni) e “Sem Juízo” foram pontos altos dos momentos “a solo” no alinhamento do concerto.

A evolução do projecto WBG é impressionante e não admiraria que para o ano estivessem a actuar no palco principal do festival, bem ao estilo de Slow J no Super Bock Super Rock. Tem tudo para correr bem: já provaram que fazem muito com pouco e que têm uma legião de fiéis seguidores à sua mercê.

 


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