pub

Fotografia: Pedro Francisco
Publicado a: 04/09/2022

Em 2022 a piscar o olho a 2012-2013.

MEO Kalorama’22 – Dia 3: marchando e dançando

Fotografia: Pedro Francisco
Publicado a: 04/09/2022

[Moullinex]

Sábado, 3 de Setembro, marca o último dia da primeira edição do MEO Kalorama. Dia de pensamentos e reflexões sobre o festival no seu prolongamento, mas, antes de chegarmos lá, temos ainda uns quantos concertos pela frente.

Tal como nos outros dias, começamos o nosso dia no Kalorama com música portuguesa de excelência, com desta vez a tarefa a ficar a cargo de Moullinex, encarregue de, à semelhança do que Xinobi, seu camarada na Discotexas, fez no primeiro dia do festival, animar o ambiente do Palco Colina pelas 18 horas: uma espécie de mini-sunset acompanhado pela electrónica electrizante, etérea e sonhadora do produtor.

Acompanhado em palco por Guilherme Salgueiro (aka YANAGUI), Guilherme Tomé Ribeiro (GPU Panic, Salto, Guanabara), “vocalista oficial” deste projecto, e Diogo Sousa (baterista de incrível eficiência, refira-se), Moullinex não desapontou na sua missão de meter o público a dançar. Mesmo que as 18 horas não fossem o horário mais apropriado para a sua música (quem, por exemplo, viu o concerto do produtor na edição deste ano do Vodafone Paredes de Coura saberá o quão beneficia o seu live show da escuridão noturna), Moullinex e a sua banda impressionaram na forma como domaram o público. Mas, na realidade, isso é fácil quando a música é assim tão boa, não é?

“Running in the Dark” abriu o concerto, pujante no instrumental, encantador nos vocais de Guilherme Tomé, marcando o passo neste espectáculo que giraria muito em torno do mais recente LP de Moullinex, Requiem for Empathy. Claro está, na busca da empatia, a música certamente pode ajudar a sentir coisas para esses caminhos, e faixas como “Inner Child” (transcendente na sua duração), “Ven” (com Ekstra Bonus a acompanhar “virtualmente” no ecrã) ou “BREAK/OUT/BREAK” deram consequência a essa ideia no concerto, mas sem nunca esquecer as batidas pujantes, os baixos pulsantes, a groove quase infinita que pedia para dançar. O público agradeceu nesse sentido (mesmo aqueles que conversavam por cima da música), deu os passos de dança necessários em faixas como “Dream On”, “Minina di Céu” (é mesmo daquelas faixas) ou “Pacífico”. Um sunset eficaz para abrir, um concerto muito bom apesar do ambiente não ser o mais ideal para a música de Moullinex brilhar em todo o seu esplendor. Para quem gostou, no dia 15 de Outubro há mais – em dose bem mais alargada e num ambiente mais favorável à total resolução das canções de Moullinex.

– Miguel Rocha



[MEUTE] 

Imagine-se uma marching band de 11 pessoas que entram em palco e, sem dizer uma palavra, fazem o trabalho de um DJ, deixando os seus instrumentos falar por si e levando o público à loucura… pois é, acabámos de descrever os MEUTE. Aparecendo com casacos a condizer e munidos de uma vasta panóplia de instrumentos, esta banda mostrou que não é preciso falar muito (ou nada) para dar um grande espectáculo, numa mistura de techno com música de banda filarmónica.

Após uma mudança de horário para bem mais cedo, MEUTE foram chamados ao Palco Futura para fazerem a maior das festas ao pôr-do-sol e para deleite dos presentes que esperavam, impacientemente, enchendo na totalidade o recinto destinado àquele palco.

A cada mudança de ritmo ou bass drop, éramos relembrados que estávamos perante uma plateia de verdadeiros fãs — que se não o eram antes, ali se tornaram — levados à loucura com simples movimentos como a aproximação da banda ou a aparição de um novo instrumento, como se de uma boyband adolescente se tratasse. E assim como numa boyband, existe sempre alguém que gera mais entusiasmo; neste caso, era quem carregava o saxofone, algo compreensível pelos gloriosos momentos que lhe foram atribuídos.

Numa onda constante de energia que nunca esmoreceu, a parte final do espectáculo foi a que mais pareceu agradar à plateia, quando apresentaram as suas versões de “Hey Hey” e “You & Me”, a primeira vez onde se ouviram palavras durante o concerto; algo que foi recebido com extremo entusiasmo — agora poderiam acompanhar em coro, cantando de volta.

Esta foi uma das grandes surpresas do festival; algo que, à partida, poderia ser considerado como um interesse de nicho mostrou ser um dos favoritos de quem por lá passou. 

O nosso veredicto é aqui apresentado da mesma maneira que um membro do público respondeu a uma amiga, quando lhe foi posta a questão: “Então, que tal?” A resposta? Um abanar de cabeça satisfeito, continuando a dançar.

– Beatriz Freitas


Foto por Eduardo Filho

[Chet Faker]

Dirigindo-nos já ao fim da noite para o infame Palco Colina e ainda a ouvir réstias do concerto de Nick Cave & The Bad Seeds, mergulhámos num mar de gente para ver um nome conhecido de muitos: Chet Faker.

Este concerto foi marcado pela sua subtil divisão em duas partes, mas comecemos, logicamente, pela primeira: muito virada para a sua parte electrónica experimental, que tanto pareceu agradar ao músico e com direito a poucas palavras, este mostrou o quanto se sente à vontade na sua solitude em palco; depois de um tímido: “Thank you, now i’m worked up!”, convidou todos a dançar com as músicas “The Trouble with Us”, que partilha com Marcus Marr, “It Could Be Nice”, o seu mais recente single, e ainda “Drop The Game”, já tão conhecida pelo público, terminando assim esta secção que tanto puxava para um leve abanar de corpos em sintonia com o som.

E eis que se vê na plateia, pelos grandes ecrãs, cartazes levantados por fãs que envergam a imagem de dois dos seus mais antigos — e populares — álbuns, Built on Glass, com a icónica mão de pedra, e algo que parecia ser o piano da capa de Thinking In Textures, uma boa ponte para esta segunda e final parte do concerto de Chet Faker. E talvez numa harmonia inesperada — mas conveniente –, no meio de curtos “obrigado” o artista decidiu presentear-nos com um bonito fim da sua aparição: uma viagem pelos primórdios da sua carreira, dando assim início a esta bela segunda parte.

Causando a loucura logo com as primeiras notas, cantou a sua versão de “No Diggity”, que gerou o primeiro coro audível deste concerto e, não abrandando na nostalgia, avisou que ia prosseguir com “uma música muito velha, uma das primeiras que lancei”; falava, portanto, da tão adorada “I’m Into You” de 2012. Aguenta coração.

Pelo meio de algumas lágrimas e um “obrigado, Chet Faker, és grande!” entoado muito alto, era claro que a parte destinada à dança já lá ia e, já em fase final, era tempo de abrir os corações às baladas mais calmas que muitos de nós guardam com carinho na memória. Corroborando isso, despediu-se ao som da tão famosa “Talk is Cheap”, arrancando assim o último coro da noite, com uma emoção de se louvar.

Sem oferecer encore, o músico saiu, deixando-nos a reflectir o quão bonita é esta música que nos deixa nostálgicos, mas também o quão dolorosa chegou a ser, em certos momentos, assistir a este concerto — culpa da qualidade de som oferecida neste palco, algo semelhante ao que se ouve vindo de um carro com os vidros fechados e volume no máximo — com o som altamente distorcido, carregando nos graves. Relembramos, no entanto, que esta foi a primeira edição deste festival, que já confirmou ter datas marcadas para o próximo ano de 2023; esperemos que com melhores condições de som.

– Beatriz Freitas


Foto por Ana Viotti

[Disclosure]

Pelas 00h45, no Palco MEO, a festa foi da responsabilidade Disclosure, duo britânico de electrónica constituído pelos irmãos Howard Lawrence e Guy Lawrence que, ao longo da última década e picos, tem encantado as pistas de dança com a sua electrónica pujante e dançável, feita à medida para encantar raves e para os inúmeros convidados recrutados para os acompanharem, desde nomes como Sam Smith, The Weeknd, slowthai, Aminé ou Fatoumata Diawara – só para atirar alguns exemplos ao ar.

Os Disclosure cumpriram de forma bastante eficiente na sua missão de fazer a folia para fechar este MEO Kalorama. Em modo DJ set (mas com a ajuda de manipulações ao vivo), o duo foi descarregando faixas como “F For You”, “Holding On”, “You’ve Got to Let Go If You Want to Be Free”, “When a Fire Starts To Burn” (um dos momentos altos do set), ”Nocturnal” (com direito a telemóveis cintilantes por parte da plateia) ou “Latch” sobre o público que, mesmo com o cansaço do dia por trás, foi reagindo sempre com grande efusividade às canções. Para terminar, “Tondo” foi o último disparo com sucesso – com linhas de baixo destas, como não dançar? – por parte do duo, fechando com grande celebração o palco principal do festival e, por consequência, a primeira edição do Kalorama (ignoremos que Club Makumba, também certamente a fazer uma bela festa, terminou uns minutos mais tarde que Disclosure no Palco Futura).

Terminados os procedimentos nos palcos, e na caminhada colina acima para recolhermos as nossas coisas, foi hora de entrar em modo prolongamento e reflectir: como foi esta primeira edição do MEO Kalorama? 

É natural que, olhando para os números – 112 000 passaram pelo Parque da Bela Vista durante os três dias de festival, de acordo com a organização –, se possa considerar o Kalorama um sucesso. Contudo, pode-se pensar além do capital e tentar perceber que detalhes se podem melhorar para fazer com que o Kalorama possa ter uma chance (pequena…) de oferecer algo de novo e refrescante ao ecossistema dos grandes festivais portugueses.

À cabeça, logo, as queixas sucessivas face ao som no Palco Colina vão ter de ser abordadas para não se voltar a repetir, e melhorias a nível de infraestruturas e da própria disposição de palcos poderá ser algo a pensar, dadas as sobreposições de som que fomos encontrando durante vários concertos. 

Além disso, o Kalorama apresenta o desafio de, na segunda edição que decorrerá entre 31 de Agosto e 2 de Setembro de 2023, conseguir apresentar escolhas que se mostrem mais desafiantes e variadas na sua programação. Se na primeira edição se possa justificar escolhas mais seguras, esperamos veemente que haja mais abertura a outros estilos (principalmente o hip hop e sons pop mais abrasivos e actuais) fazerem parte do cartaz. Se não, o Kalorama, mesmo que continue a ser um sucesso ao nível dos bilhetes vendidos, corre o risco de, como escrevemos no primeiro dia, servir “apenas como combustível extra à contínua manutenção dos grandes festivais como o epicentro do calendário cultural português”. Veremos o que acontece em 2023, então.

– Miguel Rocha


Foto por Pedro Francisco

pub

Últimos da categoria: Reportagem

RBTV

Últimos artigos