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Fotografia: Fernando Schlaepfer
Publicado a: 02/06/2019

Como qualquer artista transgressora, a carioca tem reunido merecida reverência entre vários meios, sendo simultaneamente alvo de crítica.

MC Carol hoje na ZdB: activismo, magnetismo e subversão

Fotografia: Fernando Schlaepfer
Publicado a: 02/06/2019

Ainda tido como um género menor, e tantas vezes retratado de uma perspectiva meramente lúdica, ou até pejorativa, o funk brasileiro é na verdade o epicentro de muita magia. Tati Quebra Barraca ou Linn da Quebrada trataram de oferecer um contexto político apurado, humorístico e assertivo absolutamente necessário. A reacção a problemáticas como o racismo, a discriminação sexual ou ao próprio sistema social dominante é inevitável para estes artistas, punks de uma nova era. Em certa medida vem também reforçar a premissa de que actualmente alguma da música de dança mais fascinante surge não dos centros urbanos gentrificados, mas sim dos seus subúrbios.

MC Carol prima, desde logo, por uma presença e personalidade quase magnéticas. Como qualquer artista transgressora, tem reunido merecida reverência entre vários meios, sendo simultaneamente alvo de crítica. Em todo o caso, ela representa actualmente mais que matéria musical, assumindo-se também como activista, consciente do seu tempo e do seu papel nele. Tendo vivido grande parte da sua vida no Morro do Preventório, Rio de Janeiro, é a memória e experiência em redor de violência, drogas e diversas rasteiras da vida que projectam as letras de Carol. Evoca estas histórias não de forma panfletária, mas como motor para transformação. Não terá sido por mero acaso que foi recentemente convidada para uma palestra na prestigiada Brown University, nos Estados Unidos.

Bandida é um daqueles clássicos instantâneos, cujo impacto ainda se vai sentindo desde 2016 para cá. Um álbum vigoroso, sem vergonhas e em que salpica as feridas com sal e cuspo enquanto faz uma fogueira com destroços. No tema “Não foi Cabral” questiona a história do seu país tal como os livros a apresenta, e aí percebemos que MC Carol não é apenas uma funkeira carioca em busca de espiga numa qualquer esquina; há mais aqui que, de resto, se revela num disco que não vacila e só surpreende pela brisa de agitação que traz. Vê-la, finalmente, por Lisboa será garantia de séria celebração.


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Texto escrito a pedido da ZdB para o seu programa

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