A segunda edição das LUME Sessions arrancou no final de Abril e viu hoje nascer o seu quarto episódio com Benny B enquanto protagonista.
O talento musical underground nacional ganhou um novo abrigo em Outubro do ano passado com a chegada da LUME (Lisbon Underground Music Entertainment) e das suas LUME Sessions, uma rubrica que capta registos ao vivo e os transporta gratuitamente para as telas dos nossos telemóveis/computadores.
A fazer justiça à camisola que envergam, a primeira fornada de artistas a dar a cara e a voz foi composta por nomes urgentes do panorama independente português, todos eles com o seu nome espalhado nos seis anos de história do ReB. Nas instalações da Brotéria, a LUME recebeu Tristany, C̶o̶r̶a̶XJackie, Kyra, João Pestana e Uno & Pilha, estes dois últimos num episódio especial a preto e branco.
Nesta nova investida, as actuações ao vivo foram filmadas na Estação Elevatória a Vapor dos Barbadinhos, do Museu da Água, em Lisboa. A circular no YouTube estão já as prestações de Benny B, Lázaro, Avan Gra e Merai — Ana Mariano e Mura findam esta temporada, com os respectivos concertos a serem lançados nos dias 2 e 9 de Junho, respectivamente.
Max Ferreira, director-executivo deste projecto, falou com o Rimas e Batidas sobre a experiência de conduzir as LUME Sessions e o estado da camada underground dentro do circuito da música portuguesa.
As LUME Sessions arrancaram numa altura crítica para o sector do espectáculo. O projecto é uma consequência da pandemia que atravessamos ou já era algo que estavas a delinear ainda antes de tudo isto?
Antes da pandemia estávamos mais focados em organizar concertos e festas para mais gente, mas falávamos muito de fazer um género de sessões mais privadas com um público muito limitado e, que, possivelmente, não conheceria a totalidade do cartaz do dia. A cena foi que assim que estávamos a planear melhor essa ideia surgiu o Covid-19. Tivemos de nos adaptar, basicamente. O nosso foco é sempre ser o mais orgânico possível, portanto nunca pensámos fazer concertos sem público, porque essa é a coisa mais importante para nós, o contacto dos artistas com o público e da presença física. Apesar disto tudo, acho que conseguimos transmitir a ideia, e dar o nosso apoio à cultura e aos artistas da forma que conseguimos. Assim que der queremos ter público outra vez.
Agora que já deram início à segunda temporada, que avaliação fazes da vossa estreia, no final do ano passado?
Na primeira edição houve muita vontade e pouca experiência! Tínhamos uma equipa mais pequena, e todos nós éramos muito mais inexperientes nas nossas respectivas áreas e, ao mesmo tempo, todos tínhamos muitas responsabilidades técnicas. Conseguimos o mais importante, na minha opinião, que é fazer acontecer, mas devido a essa sobrecarga e à falta de calma cometemos muitos erros. Por exemplo, perder as filmagens todas de uma câmara… Nesta segunda vez já foi diferente, tivemos umas adições valiosas à equipa, e assim as tarefas puderam ser divididas por mais gente. Também houve muito mais planeamento, não só de material mas mesmo de planos de filmagem. O resultado em termos de imagem e som progrediu bastante, que é o objectivo, porque os artistas não têm falhado na qualidade!
Mesmo comparando, acho que o balanço é positivo porque o início é o mais importante — mostra que é possível. E depois é só afinar a parte técnica. Já agora, um obrigado à equipa – Saraiva, Sebas, Alex, Bruno, Sebastião Santana, Amaro, Costa, Joel, Carlos, Mariana, Yuri e Catalão.
Depois da Brotéria, levaram a música ao vivo até à Estação Elevatória a Vapor dos Barbadinhos nesta mais recente investida. Como foi planear e executar tudo isto num quadro de distanciamento social?
Felizmente, tanto na primeira como na segunda edição, fomos super bem recebidos. Tanto na Brotéria como no Museu da Água. Encontrámos pessoas muito disponíveis e com vontade de ajudar, sempre prontas a contribuir com soluções e entusiasmadas com os concertos e o projeto em si. Às vezes é incrível, porque esperamos ouvir “nãos” e não é isso que acontece. Na segunda edição, por causa da pandemia, fomos obrigados e remarcar várias vezes as datas e a mudar de espaço, o que não foi fácil. Foi preciso muita paciência e várias tentativas, o que só foi possível com muita ajuda da parte das pessoas do Museu da Água (shoutout para a Ana!). A vontade de todos é que as coisas voltem ao normal, que aconteçam concertos, que a cultura portuguesa cresça e esperamos que continue assim.
A escolha dos artistas convidados é bastante eclética e vai ao encontro de nomes não tão conhecidos pelo público. Como é que funciona esta parte da selecção? Que critérios têm em mente quando ponderam se um artista tem ou não potencial para integrar as LUME Sessions?
Até agora tem sido mesmo à base de malta que um de nós conhece e sugere. Depois disso é mesmo por gosto, pela qualidade, claro (que é subjectiva), pelo projetco de cada artista e por vermos mesmo um potencial enorme. Fora os casos do Benny e do Uno que são artistas underground já mais que estabelecidos. O objectivo, agora que já estamos a começar a chegar a mais pessoas, é fazer um género de open call, tipo juntar à malta que nós conhecemos malta nova que nos envie as suas cenas, e depois escolher os convidados. [Enviem para Lume.portugal.info@gmail.com]
Neste cenário actual e tão fértil dentro da música portuguesa, como avalias aquilo que se tem vindo a desenrolar na camada mais underground da cultura? Já há por aí nomes apontados para uma possível terceira vaga de concertos?
Acho mesmo que estamos melhor que nunca, vejo muita gente com vontade, ideias novas, e que se aplica mesmo. Tanto no rap como fora da cena hip hop. A pandemia, a bem ou a mal, permitiu a muita gente focar-se nas suas ideias e desenvolvê-las, porque tempo não faltou. Na minha opinião, isto causou um bocado o amadurecimento rápido de alguma malta que tinha de dividir o tempo entre a música e outras coisas, e que ficava sem tempo e paciência para criar. É pena é agora não haver praticamente retorno financeiro. Mas, pronto, qualidade musical temos. Acontecendo uma terceira vaga, temos já artistas que gostávamos de ter presentes, mas temos também espaço para malta que se calhar nenhum de nós ouviu falar, por isso não vale a pena estar a dizer nomes até à selecção final.